O globo, n. 31749, 10/07/2020. País, p. 5
"Sobrou pra quem me apoia", critica Bolsonaro
Carolina Brígido
10/07/2020
Presidente reclamou de decisão do Facebook, que retirou do ar uma rede de páginas ligadas a assessores seus e de seus filhos que promoveriam desinformação; contaminado pela Covid—19, presidente fez live sem máscara
O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que é alvo de perseguição e reclamou da decisão do Facebook de tirar do ar uma rede de páginas ligadas a assessores seus e de seus filhos. O presidente, em sua live semanal que é veiculada na sua página na rede, reclamou de publicações feitas contra ele na internet e afirmou que “sobrou” para quem o apoia.
Contaminado pela Covid-19, Bolsonaro fez a transmissão sozinho numa mesa, dizendo manter distância de assessores, tossiu algumas vezes e deixou em destaque na imagem uma caixa de hidroxicloroquina, remédio sem comprovação científica no combate a doença. O presidente está tomando o medicamento, mas tem passado diariamente por exames cardíacos para monitorar possíveis efeitos colaterais, como revelou o GLOBO. O Palácio do Alvorada também passou por desinfecção para evitar contaminações.
Na live, o presidente mostrou textos e imagens publicadas por opositores o associando ao fascismo e ao nazismo como argumento de que haveria perseguição contra ele.
— Vemos que o Facebook derrubou páginas em todo o mundo. No Brasil, sobrou pra quem está do meu lado, pra quem és impá ticoàm inha pessoa. A esquerda fica posandode moralista, ma solha aqui, blog me associando ao nazismo. Bolsonaro decaptado. Ninguém fala em derrubar essas páginas —reclamou.
Apesar da fala do presidente, outra medida tomada pelo grupo empresarial teve como alvo justamente o principal partido da oposição. O Whatsapp suspendeu dez contas do PT na plataforma por violarem os termos de serviço do aplicativo e estarem operando de forma automatizada. O bloqueio aconteceu no dia 25 de junho e até agora elas seguem inoperantes.
Bolsonaro disse que, na campanha, não mentiu sobre adversários. Ele atacou a oposição ao lembrar da Lava-Jato e de outros escândalos em governos anteriores. Ele negou que que seus aliados tenham um “gabinete do ódio”.
— A onda agora é dizer que as páginas da família Bolsonaro e de assessores promovem o ódio. Eu desafio a imprensa que fica dando espaço pra isso me apontar um texto meu de ódio, uma imagem, no meu Facebook e dos meus filhos. O que eu ganharia agora acusado quem quer que seja no Brasil de qualquer coisa? Não existe nada sobre isso. Por que essa perseguição? É lamentável o que vem acontecendo.
Bolsonaro afirmou que a oposição tenta ganhar “no tapetão” com processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a cassação da sua chapa, eleita em 2018. Uma das ações é justamente sobre a suspeita de uso de uma rede para disseminar informações falsas contra adversários. Bolsonaro diz não ter feito impulsionamento de mídia na campanha porque custa caro.
— Impulsionamento custa caro, eu não peguei dinheiro do fundo partidário, fizemos uma vaquinha. Tentam no tapetão o tempo todo tentar derrubara chapa BolsonaroMourão, ou desqualificar o governo, ou desgastar o governo, mas não apresentam uma prova sequer —declarou.
Partidos de oposição entraram com pedido no Supremo Tribunal Federal (STF), ontem, pedindo que a Corte requisite ao Facebook informações sobre a rede derrubada. A CPI das Fake News também requisitou à empresa os dados.
Na transmissão, Bolsonaro não usou máscara e lembrou que apresentadores de TV também não usam o equipamento nos estúdios. O presidente justificou ter vetado trechos do projeto sobre obrigatoriedade de máscara e argumentando que havia previsão de multa para quem não usasse o equipamento em ambientes fechados.