O globo, n. 31749, 10/07/2020. País, p. 6
Carlos avalia desistir da reeleição e se mudar para ficar perto do pai
Juliana Dal Piva
Bela Megale
10/07/2020
Vereador no Rio publicou mensagens enigmáticas no Twitter e, no mês passado, chegou a visitar apartamento em Brasília
Em um desabafo em seu perfil no Twitter, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) escreveu ontem que pode ter chegado “o momento de um novo movimento pessoal” por causa do “lixo de fakenews e demais narrativas”. A publicação do filho do presidente Jair Bolsonaro ocorre em meio ao avanço de investigações sobre supostos funcionários fantasmas em seu gabinete do vereador na Câmara do Rio, e um dia depois da ação do Facebook que derrubou perfis de ex-assessores seus que agora trabalham para o presidente no Palácio do Planalto.
De forma indireta, Carlos insinuou não haver ligação desses acontecimentos com a anunciada mudança de postura: “Totalmente ciente das consequências e variações. Aos poucos vou me retirando do que sempre explicitamente defendi. Creio que possa ter chegado o momento de um novo movimento pessoal. Estou cagando pra esse lixo de fakenews e demais narrativas. Precisamos viver e nos respeitar”, escreveu Carlos.
O GLOBO apurou que o desabafo do Carlos também está relacionado a uma vontade de deixar a vida na política e a possibilidade de não disputar um novo mandato na Câmara de Vereadores do Rio este ano. Ele é parlamentar da Casa desde 2001 e ganhou seu primeiro mandato aos 17 anos. O vereador já disse em outras ocasiões cogitar não tentar nova reeleição.
Ele também estaria avaliando a ideia de mudar para Brasília, para ficar mais perto do pai. No mês passado, ele visitou um apartamento de um quarto na região noroeste da capital federal, bairro nobre da capital. Integrantes do governo foram pegos de surpresa em relação a essa possibilidade de mudança e falaram que ele não foi visto nos últimos dias no Palácio do Planalto.
No entanto, Carlos e Jair Bolsonaro não andam em perfeita sintonia e os movimentos do presidente em direção ao centrão estão gerando perda de apoio ao presidente nas redes, o que já foi alertado pelo filho ao pai. A interlocutores, Carlos também revelou que seu sonho é mudar para o Texas, nos Estados Unidos. A possibilidade dele deixar o país, no entanto, é avaliada como remota.
DEPOIMENTO
A movimentação de Carlos ocorreu no dia em que a segunda ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira Valle, prestou depoimento por videoconferência ao MP-RJ, depois de oito meses da primeira convocação. Ela é investigada junto com o vereador nos procedimentos que apuram uso de funcionários fantasmas e eventual prática de “rachadinha”, como é conhecida a devolução de salários. Ana Cristina foi lotada como chefe de gabinete do vereador Carlos entre 2001 e 2008. Procurada, a defesa de Ana Cristina se limitou a confirmar que ela prestaria depoimento ontem.
Além de Ana Cristina, o MP convocou outros parentes dela que constaram como assessores de Carlos, mas relataram à revista Época no ano passado que não atuavam como funcionários do filho do presidente Jair Bolsonaro. Eles foram intimados para depor na quarta-feira, mas não atenderam à convocação. São eles: Marta Valle, cunhada de Ana Cristina, e Gilmar Marques, ex-cunhado de Ana Cristina. Ambos sempre viveram em Minas Gerais. Na atual fase do procedimento, os investigados não são obrigados a comparecer.
Carlos também foi citado na investigação conduzida pelo Facebook que levou à derrubada de 88 páginas, perfis e grupo ligado a assessores da família Bolsonaro. Os operadores da rede de desinformação usavam contas anônimas para divulgar ataques a adversários políticos da família Bolsonaro e promover o presidente. Um dos citados é Tércio Arnaud Thomaz, ex-assessor do vereador que hoje trabalha no Palácio do Planalto.
Movimento ocorre no dia em que ex-mulher de Bolsonaro depõe em investigação