O globo, n. 31746, 07/07/2020. Economia, p. 15

 

Bolsonaro sanciona MP 936, mas veta desoneração da folha

Geralda Doca

07/07/2020

 

 

Medida prorrogaria por um ano valor menor da contribuição para setores intensivos em mão de Obra e pode afetar recuperação

 O pre­si­den­te Jair Bol­so­na­ro san­ci­o­nou on­tem com ve­tos a me­di­da pro­vi­só­ria (MP) 936, que au­to­ri­za as em­pre­sas a ne­go­ci­a­rem acor­dos de sus­pen­são temporária do con­tra­to de tra­ba­lho ou de re­du­ção de jornada e sa­lá­rio com fun­ci­o­ná­ri­os du­ran­te a pan­de­mia. A me­di­da es­tá em vi­gor des­de 1º de abril, mas o tex­to só foi apro­va­do pe­lo Con­gres­so em ju­nho.

En­tre os ar­ti­gos ve­ta­dos pe­lo pre­si­den­te es­tá o que pror­ro­ga­va a de­so­ne­ra­ção da fo­lha de pa­ga­men­to até de­zem­bro de 2021 pa­ra 17 se­to­res in­ten­si­vos em mão de obra. A me­di­da foi in­cluí­da no tex­to co­mo uma for­ma de pre­ser­var em­pre­gos após a cri­se do co­ro­na­ví­rus e ga­ran­tir a re­cu­pe­ra­ção sus­ten­ta­da da eco­no­mia.

A de­so­ne­ra­ção es­tá em vi­gor até o fim des­te ano e in­clui se­to­res co­mo os de cal­ça­dos, tec­no­lo­gia da in­for­ma­ção, call cen­ter, têx­til, cons­tru­ção ci­vil, transportes ro­do­viá­ri­os e me­tro­fer­ro­viá­rio e co­mu­ni­ca­ção. Es­sas em­pre­sas po­dem op­tar por con­tri­buir com per­cen­tu­al que va­ria de 1% a 4,5% so­bre a re­cei­ta bru­ta, no lu­gar de re­co­lher 20% so­bre afo­lha de pa­ga­men­to pa­ra a Pre­vi­dên­cia. A pror­ro­ga­ção foi in­cluí­da no tex­to da MP por par­la­men­ta­res após acor­do com téc­ni­cos da equi­pe econô­mi­ca.

Com o fim da de­so­ne­ra­ção, to­dos os seg­men­tos vol­ta­ri­am a con­tri­buir com 20% so­bre a fo­lha. Is­so en­ca­re­ce os cus­tos das em­pre­sas que têm na mão de obra seu prin­ci­pal gas­to. A mu­dan­ça po­de re­du­zir postos de tra­ba­lho no mo­men­to em que o país co­me­çou a dar si­nais de re­cu­pe­ra­ção da eco­no­mia no mês de ju­nho, mas que ain­da de­pen­de de indicadores, co­mo o con­su­mo das fa­mí­li­as, pa­ra en­ga­tar uma tra­je­tó­ria de re­to­ma­da sus­ten­ta­da da ati­vi­da­de. Se­gun­do Emer­son Casa­li, di­re­tor da CBPI Pro­du­ti­vi­da­de Ins­ti­tu­ci­o­nal, o país po­de­ria per­der seis milhões de em­pre­gos com o fim da de­so­ne­ra­ção.

O re­la­tor da MP no Se­na­do, Van­der­lan Car­do­so (PSDGO), dis­se que o go­ver­no rom­peu acor­do fei­to com o pre­si­den­te da Câ­ma­ra dos De­pu­ta­dos, Ro­dri­go Maia (DEM-RJ), com o re­la­tor da pro­pos­ta na Ca­sa, de­pu­ta­do Or­lan­do Sil­va (Pc­doB-SP) e com ele pró­prio.

— Ava­lio que as chan­ces de der­ru­bar o ve­to são gran­des.

Com a san­ção da MP, o Exe­cu­ti­vo edi­ta­rá um de­cre­to que am­plia os pra­zos má­xi­mos dos acor­dos em mais 60 di­as, no ca­so de sus­pen­são dos con­tra­tos e mais 30 di­as, pa­ra re­du­ção de jornada e de sa­lá­rio. Vá­ri­as em­pre­sas aguar­dam uma de­fi­ni­ção por­que ain­da não con­se­gui­ram re­to­mar ati­vi­da­des e en­fren­tam dificuldades pa­ra pa­gar fun­ci­o­ná­ri­os.

No ca­so da de­so­ne­ra­ção da fo­lha, o go­ver­no ale­gou que ela re­pre­sen­ta­ria re­nún­cia fis­cal sem can­ce­la­men­to equi­va­len­te de ou­tra des­pe­sa obri­ga­tó­ria, o que vi­o­la­ria a Lei de Res­pon­sa­bi­li­da­de Fis­cal (LRF).