O globo, n. 31745, 06/07/2020. País, p. 4

 

Alcolumbre em busca da reeleição

Amanda Almeida

Naira Trindade

Bela Megale

06/07/2020

 

 

Presidente do Senado planeja recurso ao STF e tenta recompor base

 O pre­si­den­te do Se­na­do, Da­vi Al­co­lum­bre (DEMAP), inau­gu­ra em ju­lho a re­ta fi­nal de seu man­da­to no co­man­do da Ca­sa de­di­ca­do a so­lu­ci­o­nar uma com­ple­xa ma­te­má­ti­ca na ten­ta­ti­va de se re­e­le­ger ao pos­to. Além de con­se­guir o vo­to dos co­le­gas, ele pre­ci­sa trans­por um tre­cho da Cons­ti­tui­ção que tem si­do se­gui­do à risca pe­lo Con­gres­so: a proi­bi­ção de re­e­lei­ção pa­ra pre­si­dên­ci­as do Se­na­do e da Câ­ma­ra. Des­gas­ta­do nos úl­ti­mos me­ses, Al­co­lum­bre ten­ta re­or­ga­ni­zar uma “ba­se elei­to­ral” se fi­an­do na pro­xi­mi­da­de ao go­ver­no e em li­ga­ções com o Su­pre­mo Tri­bu­nal Fe­de­ral.

É nes­sa re­la­ção com o Su­pre­mo que Al­co­lum­bre tra­ça sua prin­ci­pal es­tra­té­gia pa­ra con­se­guir al­te­rar as re­gras pa­ra per­mi­tir a re­e­lei­ção. A Cons­ti­tui­ção diz que é “ve­da­da a re­con­du­ção pa­ra o mes­mo car­go na elei­ção ime­di­a­ta­men­te sub­se­quen­te” nos ca­sos do co­man­do da Câ­ma­ra e do Se­na­do. Su­pe­rar es­se tre­cho é sonho an­ti­go de pre­si­den­tes que já pas­sa­ram pe­las du­as Ca­sas. Pro­pos­tas de emen­da à Cons­ti­tui­ção (PEC) nes­se sen­ti­do, po­rém, nun­ca avan­ça­ram.

Pa­ra der­ru­bar es­se em­pe­ci­lho, Al­co­lum­bre pre­ci­sa­ria ar­ti­cu­lar a apro­va­ção de uma PEC no Se­na­do e na Câ­ma­ra, que ne­ces­si­tam de pe­lo me­nos três quin­tos dos vo­tos de se­na­do­res e de­pu­ta­dos, ou de uma de­ci­são do Su­pre­mo.

A car­ta na man­ga es­tá em ob­ter uma res­pos­ta po­si­ti­va do STF a uma con­sul­ta que de­ve ser lan­ça­da por ou­tro par­ti­do. A ideia é uma si­gla ali­a­da ques­ti­o­nar a Corte se pre­si­den­tes do Se­na­do que ter­mi­nam o man­da­to no fim da le­gis­la­tu­ra de qua­tro anos po­dem dis­pu­tar a re­e­lei­ção. Es­te é o ca­so de Al­co­lum­bre: elei­to em 2014, seu atu­al man­da­to de se­na­dor ter­mi­na em 2022, jun­to com sua pos­sí­vel re­con­du­ção ao car­go.

In­te­gran­tes da cú­pu­la do DEM di­zem já ter ma­pe­a­do um ce­ná­rio fa­vo­rá­vel a  no Su­pre­mo. Re­ser­va­da­men­te, mi­nis­tros do STF ad­mi­tem “ana­li­sar com aten­ção” qual­quer con­sul­ta nes­se sen­ti­do, con­tra­ri­an­do ha­ver in­di­ca­ti­vos de que o ques­ti­o­na­men­to se­rá re­jei­ta­do de ime­di­a­to. Se­gun­do ali­a­dos, o pre­si­den­te do Se­na­do é mui­to bem re­la­ci­o­na­do com a mai­o­ria dos ma­gis­tra­dos.

Se ven­cer es­sa bar­rei­ra, Al­co­lum­bre tem o de­sa­fio de ga­nhar o apoio dos co­le­gas à re­con­du­ção. Nes­ta ten­ta­ti­va, ele tem se equi­li­bra­do pa­ra man­ter a boa relação com o pre­si­den­te Jair Bol­so­na­ro e se for­ta­le­cer co­mo o can­di­da­to do go­ver­no. Se­na­do­res ve­em mo­vi­men­tos dis­cre­tos fa­vo­rá­veis a Al­co­lum­bre vin­dos do mi­nis­tro da ar­ti­cu­la­ção po­lí­ti­ca do go­ver­no, Luiz Edu­ar­do Ra­mos, da pas­ta de Go­ver­no.

MDB QUER VOL­TAR

Se­gun­do in­ter­lo­cu­to­res do Pa­lá­cio do Pla­nal­to, a ava­li­a­ção é de que o de­mo­cra­ta des­pon­ta co­mo me­lhor al­ter­na­ti­va pa­ra con­ti­nu­ar no co­man­do do Se­na­do. Pa­ra o go­ver­no, no úl­ti­mo um ano e meio, Al­co­lum­bre mais aju­dou do que atra­pa­lhou.Po­rou­tro­la­do,gru­pos­no Se­na­do­s e ­ar­ti­cu­lam­ pa­ra ­fa­zer fren­te­ a ­e­le. Der­ro­ta­do­ pelo­ de­mo­cra­ta e pe­la pre­ga­ção de uma “no­va po­lí­ti­ca” no iní­cio do ano pas­sa­do, o MDB quer vol­tar ao co­man­do da Ca­sa.

In­ter­na­men­te, se­na­do­res do par­ti­do sus­ten­tam que são a mai­or ban­ca­da da Ca­sa, com 13 par­la­men­ta­res, o que vi­nha sen­do cri­té­rio nas elei­ções pa­ra a presidência, an­tes da vi­tó­ria do DEM em 2019. De­pois do fim do man­da­to de Eu­ní­cio Oli­vei­ra (MDB-CE), os eme­de­bis­tas per­de­ram a di­an­tei­ra do Se­na­do pa­ra Alco­lum­bre. Re­nan Ca­lhei­ros (MDB-AL) foi der­ro­ta­do em meio a dis­cur­sos de que ele re­pre­sen­ta­va a “ve­lha po­lí­ti­ca”.

No MDB, a di­fi­cul­da­de se­rá en­con­trar um can­di­da­to que agra­de a to­das as alas do par­ti­do. O lí­der Edu­ar­do Bra­ga (AM), o lí­der do go­ver­no no Con­gres­so, Eduardo Go­mes (TO), a pre­si­den­te da Co­mis­são de Cons­ti­tui­ção e Jus­ti­ça da Ca­sa,Si­mo­ne Te­bet(MS),e o pró­prio Re­nan são apon­ta­dos co­mo no­mes que fler­tam com uma can­di­da­tu­ra. Mais ex­pe­ri­en­tes, po­rém, eles pre­fe­rem ob­ser­var o ce­ná­rio po­lí­ti­co an­tes de qual­quer mo­vi­men­to. Is­so por­que, ava­li­am ali­a­dos, investigações en­vol­ven­do Bol­so­na­ro po­dem ain­da mu­dar os ru­mos da elei­ção.

Além ­do MDB,ou­tras ­le­gen­das, co­mo o PSD, em as­cen­são na Ca­sa, com 12 se­na­do­res, tam­bém so­nham com a ca­dei­ra da pre­si­dên­cia. Por fo­ra, há ain­da um gru­po que reú­ne par­la­men­ta­res de di­fe­ren­tes par­ti­dos, o Mu­da Se­na­do, que de­se­ja ocu­par o es­pa­ço. Na se­ma­na pas­sa­da, um re­pre­sen­tan­te de­les, o se­na­dor Jor­ge Ka­ju­ru (Ci­da­da­nia-GO), ex­pres­sou em ses­são re­mo­ta a von­ta­de do gru­po:

— Se o Al­va­ro Di­as não for can­di­da­to à pre­si­dên­cia, eu se­rei, pa­ra dis­pu­tar com o se­nhor res­pei­to­sa­men­te.

Al­co­lum­bre vi­ve al­tos e bai­xos en­tre se­na­do­res que o ele­ge­ram, em es­pe­ci­al o gru­po que che­gou à Ca­sa com o dis­cur­so de no­vas prá­ti­cas na po­lí­ti­ca. Foi cobrado por en­ga­ve­tar a CPI dos Tri­bu­nais Su­pe­ri­o­res,pe­lo­si­lên­ci­o­em­re­la­çãoa pau­tas e de­cla­ra­ções con­tro­ver­sas do go­ver­no e por se­gu­rar pro­je­tos co­mo o que pre­vê pri­são ime­di­a­ta de con­de­na­dos em se­gun­da ins­tân­cia.

Além do des­gos­to dos mais ra­di­cais, per­deu for­ça en­tre os con­si­de­ra­dos­mais­mo­de­ra­dos que o aju­da­ram a che­gar à pre­si­dên­cia, co­mo Si­mo­ne Te­bet, Tas­so Je­reis­sa­ti (PSDB-CE) e An­to­nio Anas­ta­sia (PSDMG), de­pois de se apro­xi­mar de ve­lhos ca­ci­ques da Ca­sa.

Na ten­ta­ti­va de con­tor­nar es­sas di­fi­cul­da­des, Al­co­lum­bre ten­ta ga­nhar apoio en­tre os co­le­gas, que re­la­tam ges­tos de­le, co­mo uma dis­tri­bui­ção “mais de­mo­crá­ti­ca” de re­la­to­ri­as, o pres­tí­gio a pro­je­tos de par­la­men­ta­res na pau­ta do ple­ná­rio e es­pa­ços na Ca­sa. A in­clu­são na pau­ta do pro­je­to de­lei­de­com­ba­teàs­fa­ke­news foi in­ter­pre­ta­da co­mo uma si­na­li­za­ção de que Al­co­lum­bre de­se­ja agra­dar aos co­le­gas mes­mo que is­so tra­ga incô­mo­do ao go­ver­no. No dia se­guin­te à apro­va­ção da pro­pos­ta, Bol­so­na­ro avi­sou que po­de­rá ve­tar a me­di­da ca­so ela se­ja apro­va­da pe­la Câ­ma­ra.

Em ou­tra fren­te, Al­co­lum­bre tem se co­lo­ca­do co­mo uma pon­te com o go­ver­no fe­de­ral, pa­ra fa­ci­li­tar en­con­tros e de­man­das dos se­na­do­res nos mi­nis­té­ri­os e no Pla­nal­to. Co­mo o diá­lo­go com a ges­tão Bol­so­na­ro é con­si­de­ra­do di­fí­cil, es­sa po­si­ção de Al­co­lum­bre é elo­gi­a­da en­tre co­le­gas. Ape­sar dos si­nais cla­ros, as con­ver­sas so­bre a su­ces­são à pre­si­dên­cia ocor­ri­do de for­ma dis­cre­ta.

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Senado analisa indicados por Bolsonaro

Aguirre Talento

06/07/2020

 

 

Por su­as prer­ro­ga­ti­vas cons­ti­tu­ci­o­nais, o pre­si­den­te do Se­na­do é res­pon­sá­vel por avaliar di­ver­sas in­di­ca­ções fei­tas pe­lo pre­si­den­te da Re­pú­bli­ca. Os dois mi­nis­tros do Su­pre­mo Tri­bu­nal Fe­de­ral (STF) que o pre­si­den­te Jair Bol­so­na­ro de­ve­rá no­me­ar du­ran­te seu atu­al man­da­to pre­si­den­ci­al pre­ci­sa­rão de um aval do Se­na­do, em um pro­ces­so no qual o pre­si­den­te da Ca­sa tem gran­de in­fluên­cia.

A pri­mei­ra in­di­ca­ção de­ve ocor­rer em no­vem­bro des­te ano, com a apo­sen­ta­do­ria do mi­nis­tro Cel­so de Mel­lo, ain­da du­ran­te o atu­al man­da­to de Da­vi Al­co­lum­bre (DEM-AP) na Pre­si­dên­cia do Se­na­do. A se­gun­da va­ga se­rá em ju­nho do pró­xi­mo ano, com a apo­sen­ta­do­ria de Mar­co Au­ré­lio Mel­lo, e nes­te ca­so pas­sa­rá pe­lo próxi­mo pre­si­den­te do Se­na­do —que po­de ou não ser Da­vi.

O in­di­ca­do ao car­go de mi­nis­tro do Su­pre­mo pas­sa por sa­ba­ti­na na Co­mis­são de Cons­ti­tui­ção e Jus­ti­ça (CCJ) do Se­na­do e, de­pois, vai a vo­ta­ção no ple­ná­rio da Casa. Em to­do es­te pro­ces­so, a ar­ti­cu­la­ção po­lí­ti­ca do pre­si­den­te do Se­na­do tem gran­de pe­so pa­ra a apro­va­ção, além de ser o res­pon­sá­vel por pau­tar a vo­ta­ção.

Tam­bém pas­sam pe­lo aval do Se­na­do in­di­ca­ções a car­gos co­mo de mi­nis­tro do Su­pe­ri­or Tri­bu­nal de Jus­ti­ça (STJ) e, uma das mais sen­sí­veis ao pre­si­den­te, a do pro­cu­ra­dor-ge­ral da Re­pú­bli­ca —res­pon­sá­vel por in­ves­ti­gar o pró­prio pre­si­den­te e po­lí­ti­cos com fo­ro pri­vi­le­gi­a­do. A atu­al ges­tão de Au­gus­to Aras à fren­te da instituição ter­mi­na em se­tem­bro do pró­xi­mo ano, quan­do ele po­de­ria ser re­con­du­zi­do pe­lo pre­si­den­te, mas Aras pre­ci­sa­ria pas­sar por no­va sa­ba­ti­na e no­va vo­ta­ção no Se­na­do.

Du­ran­te seu atu­al man­da­to à fren­te da Ca­sa, Al­co­lum­bre tem atu­a­do pa­ra apa­zi­guar os âni­mos do Le­gis­la­ti­vo com o Pa­lá­cio do Pla­nal­to e com o STF. No mês pas­sa­do, por exem­plo, Al­co­lum­bre le­vou à vo­ta­ção do ple­ná­rio um no­vo mar­co le­gal pa­ra o sa­ne­a­men­to bá­si­co, pro­pos­to pe­lo go­ver­no fe­de­ral pa­ra abrir o se­tor pa­ra em­pre­sas pri­va­das. A opo­si­ção ten­tou adi­ar o as­sun­to, sob o ar­gu­men­to de que o tex­to não pas­sou por de­ba­te nas co­mis­sões te­má­ti­cas, mas Al­co­lum­bre man­te­ve a vo­ta­ção. A me­di­da foi apro­va­da por 65 vo­tos a fa­vor e 13 con­trá­ri­os.

Mas tam­bém há per­cal­ços nes­sa re­la­ção. Ain­da no mês de ju­nho, Al­co­lum­bre de­vol­veu uma me­di­da pro­vi­só­ria do go­ver­no que per­mi­tia a no­me­a­ção de rei­to­res de uni­ver­si­da­des e ins­ti­tu­tos fe­de­rais sem con­sul­ta pré­via ou lis­ta trí­pli­ce, sob o ar­gu­men­to de que a MP fe­re a Cons­ti­tui­ção.