O globo, n. 31743, 04/07/2020. País, p. 13

 

Caseiro era olheiro de Wassef, diz empresário

Gustavo Schmitt

04/07/2020

 

 

Re­la­to de do­no de lo­ja de con­ve­ni­ên­cia que fre­quen­ta­va a ca­sa on­de Fa­brí­cio Qu­ei­roz foi pre­so, em Ati­baia, re­for­ça in­dí­ci­os de que ex-ad­vo­ga­do de Flá­vio Bol­so­na­ro man­ti­nha con­tro­le so­bre a ro­ti­na de ex-as­ses­sor

— Eu fui al­gu­mas ve­zes lá. Ti­nha dois quar­tos, um ba­nhei­ro e uma sa­la gran­de. Nos fun­dos, fi­ca­va o ca­sei­ro, que era co­mo se fos­se um olhei­ro. Con­ta­va tu­do pa­ra o pa­trão — afir­mou, em en­tre­vis­ta ao GLO­BO, o em­pre­sá­rio Da­ni­el Be­zer­ra Car­va­lho, que é do­no de uma lo­ja de con­ve­ni­ên­cia no mu­ni­cí­pio. — Tu­do que acon­te­cia, eu acho que o ca­ra (ca­sei­ro) pas­sa­va pa­ra fren­te. Quem foi, quem não foi. Ele (Qu­ei­roz) não fi­ca­va pre­so. Não era obri­ga­do a não sair. Mas com cer­te­za os pas­sos de­le es­ta­vam sen­do mo­ni­to­ra­dos por al­guém, en­ten­deu? —com­ple­men­tou. Se­gun­do o em­pre­sá­rio, du­ran­te o pe­río­do em que Qu­ei­roz fi­cou em Ati­baia, o ca­sei­ro Or­lan­do No­va­es fi­ca­va nu­ma ca­sa nos fun­dos do ter­re­no e, even­tu­al­men­te, fa­zia al­gum fa­vor pa­ra Qu­ei­roz, co­mo bus­car al­gu­ma com­pra no mer­ca­do.

 RE­LA­ÇÃO PRÓ­XI­MA

Em ví­deo do úl­ti­mo ré­veil­lon, re­ve­la­do pe­lo Jor­nal Na­ci­o­nal na quin­ta-fei­ra, o em­pre­sá­rio apa­re­ce ao la­do de Qu­ei­roz e da mu­lher de­le, Már­cia Oli­vei­ra Agui­ar. Se­gun­do Car­va­lho, as ima­gens fo­ram gra­va­das pa­ra de­se­jar “fe­liz ano no­vo” a uma ami­ga do trio: a ad­vo­ga­da Ana Flá­via Ri­ga­mon­ti, que tra­ba­lha­va pa­ra Was­sef. Ao GLO­BO, o em­pre­sá­rio dis­se que Ri­ga­mon­ti, Qu­ei­roz e Már­cia cos­tu­ma­vam al­mo­çar ou jan­tar na sua lo­ja de con­ve­ni­ên­cia, o que deu iní­cio à ami­za­de. Car­va­lho dis­se que pas­sou a con­vi­ver com Qu­ei­roz e que, in­clu­si­ve, o aju­dou em al­gu­mas oca­siões — co­mo nos epi­só­di­os em que diz ter le­va­do Qu­ei­roz pa­ra fa­zer uma ci­rur­gia na prós­ta­ta e um pro­ce­di­men­to num dos olhos em clí­ni­cas de Bra­gan­ça

Pau­lis­ta, mu­ni­cí­pio a 25 quilô­me­tros de Ati­baia. O em­pre­sá­rio afir­mou que co­nhe­ceu Was­sef há se­te anos, qu­an­do o ad­vo­ga­do pas­sou a ser cli­en­te de sua lo­ja de con­ve­ni­ên­cia, mas que só re­cen­te­men­te sou­be que ele era pró­xi­mo da fa­mí­lia Bol­so­na­ro. Tam­bém dis­se que des­co­nhe­cia o fa­to de Qu­ei­roz ser ex-as­ses­sor da fa­mí­lia Bol­so­na­ro, mas des­co­briu com a con­vi­vên­cia. Se­gun­do Car­va­lho, a ad­vo­ga­da Ri­ga­mon­ti era res­pon­sá­vel por aju­dar Qu­ei­roz a fa­zer com­pras de re­mé­di­os e ali­men­tos. Ela te­ria dei­xa­do de tra­ba­lhar no imó­vel de Was­sef em no­vem­bro, qu­an­do Qu­ei­roz se viu pra­ti­ca­men­te so­zi­nho em Ati­baia, se­gun­do o em­pre­sá­rio. Car­va­lho con­tou que che­ga­va a le­var co­mi­da ao ex-as­ses­sor e que ele de­mons­tra­va aba­ti­men­to pou­cos di­as an­tes de ser pre­so. O GLO­BO ten­tou con­ta­to com o ca­sei­ro Or­lan­do No­va­es, mas ele não foi en­con­tra­do. Was­sef sem­pre ne­gou ter mo­ni­to­ra­do ou es­con­di­do Qu­ei­roz, ar­gu­men­tan­do que o ex-as­ses­sor não era pro­cu­ra­do nem fo­ra­gi­do da Jus­ti­ça. O ad­vo­ga­do diz ser ví­ti­ma de per­se­gui­ção e fa­ke news. Pro­cu­ra­da, Ri­ga­mon­ti não quis fa­lar.

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Qu­ei­roz afir­ma que es­pe­ra­va ser as­ses­sor de Flá­vio Bol­so­na­ro no Se­na­do

Aguirre Talento

04/07/2020

 

 

Ex-as­ses­sor rei­te­rou ao Mi­nis­té­rio Pú­bli­co Fe­de­ral des­co­nhe­cer va­za­men­to de in­ves­ti­ga­ção

Em ­no­vo ­de­poi­men­to ­pres­ta­do na quin­ta-fei­ra, o ex-as­ses­sor Fa­brí­cio Qu­ei­roz afir­mou ao Mi­nis­té­rio Pú­bli­co Fe­de­ral que “es­pe­ra­va” ser no­me­a­do pa­ra tra­ba­lhar no ga­bi­ne­te de Flá­vio Bol­so­na­ro (Re­pu­bli­ca­nos-RJ) no Se­na­do, an­tes de vir a pú­bli­co o re­la­tó­rio do Con­se­lho de Con­tro­le de Ati­vi­da­des Fi­nan­cei­ras (Co­af) que apon­tou mo­vi­men­ta­ções atí­pi­cas no va­lor de R$ 1,2 mi­lhão nas su­as con­tas.

Es­se foi o se­gun­do depoimento pres­ta­do por Qu­ei­roz des­de que foi pre­so na Ope­ra­ção An­jo, de­fla­gra­da no dia 18 de ju­nho — ele foi pre­so em um imó­vel per­ten­cen­te a Fre­de­rick Was­sef, ex-ad­vo­ga­do de Flá­vio. Na úl­ti­ma se­gun­da-fei­ra, ele tam­bém foi ou­vi­do pe­la Po­lí­cia Fe­de­ral e deu de­cla­ra­ções se­me­lhan­tes. Qu­ei­roz foi ou­vi­do pe­lo pro­cu­ra­dor Edu­ar­do Be­no­nes, do Mi­nis­té­rio Pú­bli­co Fe­de­ral, na con­di­ção de tes­te­mu­nha, que não lhe dá o di­rei­to de per­ma­ne­ce­rem si­lên­cio. A in­ves­ti­ga­ção­do M PF apu­ra sus­pei­tas de va­za­men­to na Ope­ra­ção Fur­na da On­ça — o em­pre­sá­rio Pau­lo Ma­ri­nho dis­se que a equi­pe de Flá­vio re­ce­beu um va­za­men­to da PF do Rio avi­san­do que fo­ram de­tec­ta­das mo­vi­men­ta­ções fi­nan­cei­ras atí­pi­cas de Qu­ei­roz e que ele foi de­mi­ti­do do car­go por is­so. Nes­te depoimento, o ex-as­ses­sor dis­se que ti­nha a ex­pec­ta­ti­va de ser no­me­a­do por Flá­vio pa­ra seu ga­bi­ne­te no Se­na­do, car­go ao qual o fi­lho do pre­si­den­te foi elei­to em 2018. Es­sa no­me­a­ção, en­tre­tan­to, não ocor­reu e Qu­ei­roz se tor­nou a pe­ça cen­tral na in­ves­ti­ga­ção so­bre a “ra­cha­di­nha”. O ex-as­ses­sor dis­se que não con­ver­sou com Flá­vio so­bre uma pos­sí­vel no­me­a­ção ao Se­na­do.

“Ape­nas es­pe­ra­va que is­so vi­es­se a ocor­rer de­vi­do aos bons ser­vi­ços que pres­tou du­ran­te a can­di­da­tu­ra”. Qu­ei­roz vol­tou a di­zer que não te­ve co­nhe­ci­men­to des­se va­za­men­to e que sua saí­da do ga­bi­ne­te de Flá­vio na Alerj se deu a pe­di­do de­le pró­prio, co­mo ha­via di­to em depoimento à PF na se­gun­da-fei­ra. Ain­da afir­mou que to­mou co­nhe­ci­men­to pe­la im­pren­sa, no iní­cio de de­zem­bro, do re­la­tó­rio do Co­af, que apon­tou que mo­vi­men­ta­ção de R$ 1,2 mi­lhão en­tre ja­nei­ro de 2016 e o mes­mo mês de 2017 em su­as con­tas.

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Már­cia, fo­ra­gi­da, e o ma­ri­do frau­da­ram au­xí­lio-edu­ca­ção

Juliana Dal Piva

04/07/2020

 

 

Ca­sal pe­ça-cha­ve na apu­ra­ção das ‘ra­cha­di­nhas’ re­ce­beu R$ 376,3 mil da Alerj

Des­de o fi­nal de 2018, qu­an­do a Ope­ra­ção Fur­na da On­ça se dispôs a in­ves­ti­gar sus­pei­tas de cor­rup­ção nos ga­bi­ne­tes da As­sem­bleia Le­gis­la­ti­va do Rio (Alerj), nun­ca se sou­be com se­gu­ran­ça o pa­ra­dei­ro de Fa­brí­cio Qu­ei­roz, ex-as­ses­sor do se­na­dor Flá­vio Bol­so­na­ro. Com a pri­são de Qu­ei­roz em Ati­baia, sa­be-se que os in­ves­ti­ga­do­res ten­ta­vam mo­ni­to­rar, tam­bém sem mui­to su­ces­so, sua mu­lher, Már­cia

Agui­ar pe­ça-cha­ve do ca­so da “ra­cha­di­nha” e fo­ra­gi­da des­de o dia 18 do mês pas­sa­do. Mes­mo an­tes da sus­pei­ta de “ra­cha­di­nha”, o ca­sal es­te­ve en­vol­vi­do em ou­tra prá­ti­ca li­ga­da a ver­ba ­públi­ca ­da Alerj. Qu­ei­roz e Már­cia ocul­ta­ram seu en­de­re­ço em co­mum e a união es­tá­vel, o que lhes va­leu um va­lor mai­or do au­xí­li­o­ e­du­ca­ção. Da­dos ob­ti­dos por meio da Lei de Aces­so à In­for­ma­ção e do Por­tal da Trans­pa­rên­cia mos­tram que o ca­sal che­gou a re­ce­ber R$ 376,3 mil en­tre 2007 e 2018 gra­ças a es­sa omis­são. A in­for­ma­ção foi re­ve­la­da pe­la re­vis­ta Épo­ca. Sem a omis­são, eles te­ri­am di­rei­to a cer­ca de me­ta­de do va­lor. Nos dez anos em que ga­nhou sa­lá­rio de con­sul­to­ra par­la­men­tar do ga­bi­ne­te de Flá­vio (de 2007 a 2017), en­quan­to de­sem­pe­nha­va a pro­fis­são de ca­be­lei­rei­ra, Már­cia pe­diu o au­xí­lio-edu­ca­ção da Alerj pa­ra cus­te­ar os es­tu­dos de seus fi­lhos. Na­que­le pe­río­do, só era per­mi­ti­da a con­ces­são do be­ne­fí­cio a três fi­lhos por ca­sal. Co­mo am­bos ti­nham, jun­tos, seis, ocul­ta­ram a união es­tá­vel e re­gis­tra­ram en­de­re­ços di­fe­ren­tes pa­ra re­ce­ber o di­nhei­ro pa­ra to­dos os fi­lhos. Em 2011, qu­an­do a Alerj ve­ri­fi­cou que Nathá­lia, uma­ das fi­lhas de Qu­ei­roz, re­ce­bia o be­ne­fí­cio co­mo sua de­pen­den­te mes­mo sen­do ser­vi­do­ra de Flá­vio, foi de­ter­mi­na­do ­que ele devol­ves­se o que ha­via re­ce­bi­do a o lon­go dos anos —cer­ca de R$ 17 mil. Num pro­ces­so ad­mi­nis­tra­ti­vo na Alerj, Qu­ei­roz foi qu­es­ti­o­na­do se vi­via com Már­cia, já que os da­dos mos­tra­vam que eles ti­nham um fi­lho. O ca­sal en­vi­ou de­cla­ra­ções ne­gan­do a união es­tá­vel. Com is­so, re­ce­be­ram o be­ne­fí­cio na ín­te­gra. A Alerj in­for­mou que, pa­ra abrir in­ves­ti­ga­ção, pre­ci­sa ha­ver um pe­di­do do go­ver­no do Rio. “Co­mo se tra­ta de ex-ser­vi­do­res, a atri­bui­ção de no­va in­ves­ti­ga­ção e co­bran­ça de va­lo­res re­ce­bi­dos ile­gal­men­te é do Exe­cu­ti­vo.” O ad­vo­ga­do Pau­lo Emí­lio Cat­ta Pre­ta, que de­fen­de o ca­sal, não re­tor­nou.