Título: Mãe leva filho à força para tratamento
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Fonte: Correio Braziliense, 23/01/2013, Brasil, p. 8
Segundo dia da operação de combate ao crack em São Paulo não teve indicações de internação compulsória, mas par entes continuam a busca por ajuda
A nova ação de incentivo à internação de dependentes químicos em São Paulo continua sem nenhuma indicação de tratamento compulsório, mas chama a atenção pelo aumento no número de pessoas em busca de solução para parentes viciados em crack. Ontem, por exemplo, uma mãe esteve no Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas (Cratod) — onde funciona o plantão judicial — com o filho acorrentado pedindo para ele ser recolhido. O desembargador Antônio Carlos Malheiros, coordenador da ação no Cratod, disse que situações como essa são recorrentes, mas, como não é necessário o aval da Justiça para a indicação do tratamento, não há um levantamento preciso sobre o crescimento da demanda. “Perceptivelmente, vemos que nesses dois dias mais gente procurou o tratamento para parentes ” , afirma. A situação de Sônia Aparecida Klein, 48 anos, ficou marcada como a mais emblemática do Cratod. A dona de casa chegou ao local com o filho de 22 anos acorrentado e explicou que preferia vê-lo preso a vagando na Cracolândia. Sônia contou que o filho já passou por quatro clínicas particulares, sem resultado. Segundo ela, levar o jovem à força foi a única solução encontrada. “Não vivo mais, não trabalho , não me cuido , apenas vegeto . ” O filho , com pés e pernas machucados por causa das correntes, disse que, se não estivesse amarrado, fugiria.
Entretanto , ele reconhece que a atitude da mãe é para o bem dele. A ação de parentes também foi motivadora para o primeiro caso de internação involuntária desde o início da operação . Na segunda-feira, a autônoma Ana Paula Mira, 33 anos, dopou o pai com calmantes e o levou ao Cratod. A retenção do vendedor aposentado Reinaldo Mira, 62 anos, foi aceita, mas ele só foi hospitalizado ontem. Ana P aula SAÚDE Segundo dia da oper a çã o de combate ao crack em São Paulo não teve indicações de internação compulsória, mas par entes continuam a busca por ajuda Mãe leva filho à força para tratamento Ao buscar apoio no Cratod, Dênis Navarro surtou e tentou agredir um cinegrafista Iano Andrade/CB/D.A Press acredita que, se não tivesse feito uma armadilha, o pai morreria nas ruas. Segundo ela, a família não sabia como lidar com a situação. Reinaldo sumia de casa e passou a viver na rua desde que começou a usar a droga. “Se fosse pela vontade dele, ele não viria. Ele diz que prefere viver e morrer assim, nas ruas. ”
Agressão
Outros casos também chamaram a atenção no segundo dia da ação , como o do dependente químico Dênis Navarro. O jovem entrou em surto e tentou agredir um cinegrafista de TV que trabalhava no Cratod. Dênis teve de ser contido por pessoas que estavam no local. Morador de rua e viciado há dois anos, o rapaz procurou ajuda no Centro e esperava, até o fecha-mento desta edição , por um leito . Nos dois primeiros dias do plantão judicial, cinco pessoas foram internadas — três voluntárias e duas involuntariamente — e 51 dependentes químicos foram atendidos. A operação de combate ao crack continua em São Paulo , sem data para acabar .
Três formas de retenção
O programa de incentivo à internação involuntária e compulsória em São Paulo começou na segunda-feira como nova medida do estado de combate ao crack. Após avaliação clínica e análise de uma equipe jurídica, o dependente químico pode, inclusive, ser hospitalizado à força, caso chamado de internação compulsória. Ele também pode ser hospitalizado voluntariamente, quando o próprio dependente pede tratamento, ou involuntariamente, quando terceiros pedem com base na situação dramática em que o paciente se encontra.