O globo, n. 31742, 03/07/2020. País, p. 5
Aras: Bolsonaro deve escolher como vai depor à Polícia Federal
Carolina Brígido
Aguirre Talento
03/07/2020
Presidente terá de esclarecer possíveis contradições em torno da denúncia de Moro sobre interferência política na PF
O procurador-geral da República, Augusto Aras, enviou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) parecer recomendando que o presidente Jair Bolsonaro preste depoimento à Polícia Federal (PF), desde que possa escolher se responderá às perguntas por escrito ou pessoalmente. Se a opção for a segunda, Aras afirmou que caberia ao presidente escolher horário e local. O PGR também lembrou que Bolsonaro também pode permanecer em silêncio diante dos investigadores.
No depoimento que deve prestar em breve, o presidente terá que explicar as contradições entre seus argumentos de defesa e as provas colhidas no inquérito que apura sua suposta interferência na PF. Elas fragilizam a versão dele para os fatos. A investigação foi aberta a partir de acusações do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro. Quando anunciou sua demissão do cargo, em abril, Moro disse que Bolsonaro tentou interferir na corporação ao demitir o diretor-geral e cobrar a troca no comando da Superintendência no Rio de Janeiro.
No depoimento que deve prestar em breve, o presidente terá que explicar as contradições entre seus argumentos de defesa e as provas colhidas no inquérito que apura sua suposta interferência na PF. Elas fragilizam a versão dele para os fatos. A investigação foi aberta a partir de acusações do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro. Quando anunciou sua demissão do cargo, em abril, Moro disse que Bolsonaro tentou interferir na corporação ao demitir o diretor-geral e cobrar a troca no comando da Superintendência no Rio de Janeiro.
A delegada que conduz o caso, Christiane Correa Machado, que é chefe do Serviço de Inquéritos Especiais (Sinq) da PF, encaminhou ofício ao ministro Celso de Mello no último dia 19 de junho avisando que tomaria o depoimento de Bolsonaro, para que o ministro avaliasse se esse interrogatório será presencial ou por escrito. No ofício, ela avaliou que as provas obtidas na investigação já estão maduras e são suficientes para interrogar o presidente sobre sua suposta tentativa de interferência indevida na PF.
EVIDÊNCIAS
Provas coletadas até o momento demonstram que o presidente não teve dificuldades para trocar sua segurança pessoal, foi abastecido com 1.272 relatórios de inteligência desde o início de sua gestão e fez insistentes pressões para trocar o superintendente da PF no Rio.
O principal argumento de Bolsonaro era que suas declarações na reunião ministerial do dia 22 de abril, indicada como prova por Moro, referiam-se a um desejo de trocar a sua segurança pessoal no Rio. Investigadores do caso, porém, avaliam que a frase do presidente era uma referência à troca do superintendente.
Um ofício enviado à PF pelo ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) relata que foram feitas três trocas recentes na segurança pessoal de Bolsonaro.
O parecer enviado ontem ao STF por Aras foi pedido por Celso de Mello. Caberá ao ministro decidir se e como Bolsonaro prestará o depoimento. Como o tribunal entrou em recesso nesta quinta-feira, o ministro só deverá tomar essa decisão a partir de agosto, quando as atividades forem retomadas.