O globo, n. 31742, 03/07/2020. País, p. 5
MP intima Flávio a depor sobre "rachadinha"
Juliana Dal Piva
03/07/2020
A mulher do senador, Fernanda, também foi convocada a prestar esclarecimentos sobre a investigação na próxima semana; advogados do parlamentar questionam competência de promotores que atuam no caso
O Ministério Público do Rio (MP-RJ) intimou ontem o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e sua mulher, Fernanda, para prestarem depoimento na próxima semana na investigação sobre “rachadinha”, como ficou conhecida a prática de devolução de salários no antigo gabinete dele na Alerj. Fernanda deve ser ouvida na segunda-feira, e Flávio na segunda ou na terça, conforme sua escolha.
A intimação foi criticada pela defesa do senador. Os advogados questionam a participação de promotores do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc), que coordena as investigações sobre peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no gabinete de Flávio desde março do ano passado. Na semana passada, o Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) concedeu foro especial ao senador, enviando o caso para a segunda instância da Justiça fluminense. Com isso, o titular da investigação no MP-RJ se tornou o procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem. Para que os promtores do Gaecc pudessem continuar nas investigações, a procuradoriageral de Justiça formalizou um termo de cooperação do grupo com o procurador-geral. A defesa de Flávio questionou a convocação, citando que a atribuição seria apenas de Gussem.
Em nota, o MP-RJ rebateu a tese da defesa do senador e afirmou que a cooperação dos promotores do Gaecc não descumpre a decisão do TJ que determinou a mudança de foro. “O GAECC/MPRJ atua em auxílio ao Promotor Natural que, no caso, por conta do decidido pelo TJ, passou a ser o Procurador Geral de Justiça. Diante disso, as investigações seguem seu curso normal, sem paralisações desnecessárias por conta de mudanças de competência jurisdicional.”
Na segunda-feira da semana passada, porém, antes da mudança de foro, os advogados Luciana Pires e Rodrigo Roca, que defendem Flávio Bolsonaro, haviam se posicionado a favor do depoimento do senador ao MPRJ. Eles pediram que Flávio prestasse esclarecimentos. Pires e Roca assumiram a defesa do senador após Frederick Wassef se afastar do caso, depois da prião de Fabrício Queiroz em seu sítio em Atibaia (SP), na operação Anjo, do MP-RJ.