Título: Dilma garante luz mais barata
Autor: Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 23/01/2013, Economia, p. 11

Mesmo com a energia cara das térmicas, presidente vai reafirmar que as tarifas terão queda média de 20,2%

A presidente Dilma Rousseff, que mudou o visual, incluindo mechas no cabelo, fará pronunciamento hoje em rede nacional para reafirmar a redução média de 20,2% nas tarifas de eletricidade de uso residencial, comercial e industrial a partir de fevereiro. Anunciada em setembro e tachada como eleitoreira, a medida encontrou resistências e não obteve a adesão de todas as empresas do setor.

Além disso, depois que a baixa do nível dos reservatórios, devido à falta de chuvas, aumentou os riscos de apagão e obrigou o governo a acionar usinas termelétricas, que geram energia mais cara, cresceu a expectativa de que a queda ficaria abaixo do prometido. Além de reiterar que as contas de luz ficarão mais baratas, Dilma afirmará que não há perigo de desabastecimento .

Em 7 de setembro, a um mês das eleições municipais, a presidente anunciou uma diminuição de 16,2% nas tarifas pagas pelos consumidores residenciais e de até 28% nas cobradas do setor industrial. Para alcançar esse objetivo, o governo propôs antecipar a renovação dos contratos de concessão que vencem entre 2015 e 2017, mediante, contudo, uma redução de até 70% nos valores recebidos por geradoras e distribuidoras. Além disso, foram reduzidos ou eliminados alguns encargos que oneram as tarifas.

As novas regras foram incluídas na Medida Provisória 579, encaminhada ao Congresso, mas começaram a ser negociadas com o setor ainda antes do fim da tramitação da proposta. Quatro grandes concessionárias estaduais rejeitaram a mudança — Companhia Energética de São Paulo (Cesp), de Minas Gerais (Cemig), Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) e Companhia Paranaense de Energia (Copel). Além de reclamar da quebra de contrato, os governos que controlam as empresas afirmaram que a estratégia do governo não foi discutida com o setor, transfere o ônus da desoneração para os cofres estaduais e inviabiliza os investimentos necessários no sistema elétrico.

Inflação Dilma não está de olho apenas nos dividendos de popularidade que a desoneração das contas de luz pode lhe render. Ela está preocupada também em garantir o cumprimento da meta de inflação, ameaçada pelos próximos e inevitáveis aumentos dos preços dos combustíveis. O governo estuda reajustar a gasolina em 7% e o diesel entre 4% e 5% para reforçar o caixa da Petrobras, que enfrenta dificuldades para tocar seus projetos bilionários de investimento. Mesmo com esses aumentos, segundo análise de técnicos da estatal, os preços continuariam defasados — o da gasolina, por exemplo, estaria 15% abaixo das cotações internacionais.

O Banco Central (BC) estima que a redução das tarifas de energia seria suficiente para segurar um pouco a inflação. O aumento dos combustíveis, segundo fontes do BC, elevariam o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 0,3 ponto percentual. Já o corte médio de 20% nas contas de luz poderia reduzi-lo em um ponto. As projeções, no entanto, estão superestimadas se forem levadas em conta as previsões de analistas do setor privado. Eles avaliam que o impacto da redução da energia no IPCA seria a metade do calculado pelo BC.