Título: Flagrantes crescem com a nova lei seca
Autor: Bernardes, Adriana; Almeida, Kelly
Fonte: Correio Braziliense, 23/01/2013, Cidades, p. 21

Blitzes realizadas por Detran, BPTran e DER a partir das mudanças na legislação apontam aumento de 36% no total de motoristas alcoolizados no Distrito Federal. No total, foram distribuídas 471 multas em apenas um mês

A cada uma hora e 38 minutos, um motorista alcoolizado é barrado pela fiscalização nas ruas de Brasília desde a vigência da nova lei seca. No total, 471 foram flagrados pelas autoridades de trânsito entre 21 de dezembro passado e 21 de janeiro, quando as punições ficaram mais rigorosas para quem bebe e dirige (leia ilustração). Só as autuações do Departamento de Trânsito (Detran) aumentaram em 36,4% no período. Com elas, a arrecadação: as multas aplicadas pelo órgão no último mês renderão R$ 551.635,20 — 168% a mais do que no mesmo espaço de tempo do ano anterior.

O crescimento do valor recolhido com a lei seca se deve a basicamente a dois fatores: primeiro, mais gente foi flagrada em desrespeito à norma. Segundo, o valor da infração, agora, é praticamente o dobro: passou de R$ 975 para R$ 1.915,40. Na avaliação do diretor-geral do Detran, José Alves Bezerra, o aumento dos flagrantes é resultado de mais fiscalização. “No ano passado, o governador Agnelo Queiroz autorizou o pagamento de horas extras a partir da segunda quinzena de novembro até 3 de dezembro. Com isso, tivemos como colocar mais agentes nas ruas”, afirma.

Apesar do aumento na quantidade de flagrantes, Bezerra está convencido de que a nova legislação ajudou a mudar o comportamento dos motoristas. “O impacto da mudança foi o mesmo ocorrido em 2008, quando a lei seca entrou em vigor”, acredita. No último mês, houve uma média de 14 flagrantes diários de alcoolemia ao volante. O número é semelhante ao de 2009, auge da restrição no Distrito Federal.

Se o balanço do Detran revelou um aumento na quantidade de multas, no BPTran aconteceu o inverso. Desde as alterações da lei seca, em 21 de dezembro do ano passado até o último dia 21, o batalhão especial abordou 3 mil veículos na capital. Pelo menos 250 condutores realizaram o teste do bafômetro.

Segundo o coronel Anderson Carlos de Castro Moura, comandante do BPTran, 140 motoristas foram notificados nesse período com sintomas de embriaguez. Do total, 18 responderão criminalmente por apresentarem concentração alcoólica acima do permitido por lei. Em 15 casos, a comprovação foi feita por meio de bafômetro. Os outros três, por auto de constatação dos policiais. “Apesar disso, notamos que houve uma redução dos condutores flagrados embriagados. No mesmo período do ano passado, foram cerca de 200. Desde a mudança da lei, as pessoas estão sendo mais cautelosas, principalmente por causa do valor da multa”, acredita o coronel Moura.

Atropelamento Ontem à tarde, o Correio conversou com pelo menos 10 pessoas. A maioria diz evitar pegar ao volante depois de beber por conta do prejuízo financeiro. Apenas duas admitiram terem se sensibilizado pelas campanhas educativas e as notícias sobre mortes no trânsito provocadas por motoristas alcoolizados. O estudante Fernando Idalgo, 25 anos, está entre os que mudaram de comportamento. “Pagar quase R$ 2 mil é muito pesado. Sempre bebi e dirigi, mas nunca me envolvi em acidente. Acho que isso depende muito de cada pessoa”, avalia.

Mas estudiosos dos efeitos do álcool no organismo discordam desse entendimento. E, desde que a lei seca entrou em vigor, as tragédias provocadas por condutores embriagados ganharam mais destaque. No último fim de semana, o desrespeito à norma poderia ter acabado em morte. Na tarde do último sábado, a faxineira Maria Luzanira Bezerra dos Santos, 34 anos, acabou presa depois de atropelar uma mulher de 43 anos e uma adolescente de 13, na Quadra 51 do Condomínio Del Lago.

A motorista foi submetida ao teste do bafômetro, e a embriaguez, comprovada. Levada para a delegacia, ela prestou depoimento. Confirmou aos policiais ter perdido o controle do veículo, um Fox preto, atingido as vítimas e, em seguida, o muro de uma casa.

Povo fala

As novas regras da lei seca mudaram o seu comportamento ao volante?

Alexandre Soares Figueiredo, 46 anos, assistente administrativo, morador do Guará

“Eu sempre evitei dirigir depois de beber. E, com certeza, essa multa nesse valor faz qualquer um mudar. Quando enfiam a mão no bolso, a gente ganha tão pouco, que não dá para vacilar.”

Ivailson da Silva, 32 anos, pedreiro, morador do Recanto das Emas

“Eu mudei, sim. Tenho medo de perder a carteira. Agora, bebo perto de casa porque não sou besta. Vou para o boteco a pé. Eu acho é que essa lei devia acabar. É muito rigorosa. Não concordo que beber duas, quatro latinhas aumenta o risco de acidente.”

Igor Maia, 29 anos, estudante, morador da Asa Sul

“Mudou o meu comportamento. Tenho medo de tomar multa porque o valor é muito alto. O fato de ser preso, mesmo sem fazer o teste do bafômetro, também influenciou bastante nessa mudança. Hoje, evito ao máximo beber e dirigir.”

Ronie Ferreira de Sousa, 27 anos, auxiliar administrativo, morador de Ceilândia

“Sim, agora só bebo em casa por conta do risco de ser multado em R$ 2 mil. Agora, fica pesado no orçamento. E, além disso, evito para não colocar outras pessoas em risco. Mas vou te contar uma coisa: quase todos os meus amigos estão do mesmo jeito.”

Hemerson de Oliveira Santana, 33 anos, mecânico, morador de Bela Vista de Goiás

“Mudei nem tanto pelo aumento da multa, mas pelos problemas que um motorista alcoolizado pode provocar, matando uma pessoa ou deixando ela paraplégica. Sempre tive essa preocupação. Agora, estou muito mais cauteloso.”