Título: A revolta do baixo clero na Câmara
Autor: Almeida, Amanda
Fonte: Correio Braziliense, 03/02/2013, Política, p. 4

Inocêncio Oliveira, conhecido como "deputado guardanapo" pela longevidade na Mesa Diretora, perde indicação e ameaça lançar-se candidato para presidir a Casa Legislativa

Excluídos de conchavos políticos e de olho em reviravoltas causadas por acordos mal amarrados, deputados “avulsos” se lançarão amanhã a cargos na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados para tentar bater o favoritismo de outros concorrentes, como Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), candidato à presidência da Casa. O nome mais famoso dessa lista de possíveis ressentidos é o de Inocêncio Oliveira (PR-PE), conhecido como “deputado guardanapo”, por ter assumido seis cargos consecutivos na Mesa Diretora ao longo dos últimos dez anos. Inocêncio tem 23 anos de Câmara.

O deputado ameaça lançar-se candidato avulso a presidente, o que forçaria um segundo turno, provavelmente entre Henrique Eduardo Alves (RN) e Júlio Delgado (PSB-MG). A pressão de Inocêncio, avaliam correligionários, seria uma tentativa desesperada de pressionar o partido, já que ele perdeu a disputa interna na bancada para concorrer à terceira secretaria da Casa. Foi derrotado por Maurício Quintela (AL). Na tentativa de assegurar uma vaga, o deputado chegou a prometer apartamentos funcionais a todos os 512 colegas. Hoje, a Câmara tem 432 imóveis. “Vários deputados têm me ligado. Meus dois telefones não param. É ligação e mensagem. Eles me pedem para brigar pelo comando da Casa”, diz.

O deputado tem prestígio no chamado baixo clero da Câmara. Inocêncio é do mesmo partido de Pernambuco, estado do governador Eduardo Campos (PSB), que não se opôs à candidatura de Delgado, apesar de Eduardo Alves ser o candidato da base do governo. Neste fim de semana, marcado por intensas negociações, o parlamentar deixou uma equipe de plantão na Câmara.

Nos bastidores, Eduardo Alves também se movimenta para impedir a candidatura de Inocêncio. “Ele (Henrique) ofereceu uma diretoria da Casa a Inocêncio. Então, pode ser que ele se contente. Mas, em política, em determinados momentos a previsão fica sacrificada”, afirma um colega. Apesar de destacar a “insistência” de alguns deputados para que se candidate, Inocêncio diz que é um “homem de palavra” e apoiará Eduardo Alves. Sobre a possibilidade de ficar longe da Mesa Diretora depois de tantos anos, ele parece ter decorado o discurso: “É o sistema natural de renovação. Isso é o forte do momento no Brasil e no mundo”.