Título: Preocupação no trabalho
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 03/02/2013, Brasil, p. 7

Funcionários do setor privado e servidores públicos passaram a ter mais atenção com a segurança das instalações dos ambientes em que passam boa parte do dia

O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), fez o país reavaliar as medidas de segurança de combate a incêndios. Desde o último domingo, quando ocorreu a tragédia, boates e demais locais públicos passaram a ser fiscalizados pelas autoridades em várias cidades. O desastre também motivou a discussão no Congresso sobre a necessidade de uma lei federal de prevenção. A morte de 236 pessoas e a hospitalização de mais de 100 feridos ainda deixou a população mais atenta às precauções que podem salvar vidas no momento em que um edifício está em chamas. E essas pessoas passaram a vistoriar as instalações dos locais que costumam frequentar.

Porteiro de um edifício no Setor Comercial Sul, João José, 62 anos, aponta com facilidade as irregularidades relativas à prevenção contra incêndio no prédio em que trabalha. “A saída de emergência não está com a sinalização adequada. Até onde sei, o extintor não é recarregado há muito tempo, e o hidrante sabe-se lá se funciona”, relata. “Nas escadas da saída de emergência, muitas das luzes que eram para funcionar estão queimadas ou se desconectando do teto. Eu, que fico do lado da saída, me salvo, mas quanto aos outros que vêm de cima, a garantia não é a mesma”, completa sobre o prédio, que tem oito andares.

Lucas Souza Silva, 19 anos, é funcionário de uma empresa no mesmo edifício onde João José trabalha. Antes da tragédia do último domingo, Lucas confessa que não reparava nos equipamentos que poderiam ser usados caso houvesse um incêndio nas instalações. “Depois do que ocorreu em Santa Maria, estou em um processo de mudança de comportamento. Sempre achamos que não vai acontecer conosco, até o momento da fatalidade, e aí, não dá mais para escapar”, avalia.

Nathielly de Lima, 16 anos, menor aprendiz em uma empresa com sede no Park Way, também prestou atenção nos equipamentos do local onde trabalha. “Temos três saídas de emergência e sei onde estão os extintores”, conta. Nathielly afirma que, desde o domingo, passou a reparar nas medidas de segurança do local onde é funcionária. Os equipamentos de segurança no trabalho foram inclusive tema de conversas com colegas do serviço.

Funcionário de uma loja de fotografias no subsolo de um edifício no Setor de Diversões Sul, Francisco de Assis Aguiar, 34 anos, reparou, principalmente, nas saídas de emergência do local. “Uma tragédia como a que ocorreu faz a gente pensar, nem que seja por um segundo, em o que fazer caso haja um incêndio. Mesmo no subsolo, acho que estamos bem preparados. Aqui dentro da loja, por exemplo, os extintores de incêndio são sempre fiscalizados pela empresa que faz a manutenção.” Francisco espera, no entanto, que essa preocupação não seja temporária e que as pessoas levem a sério a prevenção, justamente para não ocorrer outra tragédia.

Simulações Na Esplanada dos Ministérios, a situação é diferente. A maior parte dos prédios tem brigadistas. Em outros edifícios, como o do Ministério da Defesa, por exemplo, são feitas simulações anuais de incêndio. Funcionária do local, Gracilene Rodrigues sente-se protegida. “Sempre fazemos o treinamento e sei que tudo aqui está em ordem”, diz. No ministério ao lado, o da Fazenda, não há simulações, mas, mesmo assim, Jorge Alvarenga, que trabalha no órgão, sente-se seguro. “Temos brigadistas e sei que há a fiscalização correta dos equipamentos. Embora aqui esteja tudo bem, eu me preocupo com outros locais. Tenho um filho adolescente, que frequenta casas noturnas.”