Título: Lula convence Dilma a manter Guido Mantega
Autor: Hessel, Rosana; Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 03/02/2013, Economia, p. 13
Ex-presidente ressalta que tiroteio contra o chefe da equipe econômica é injusto. Governo vai insistir na retomada dos investimentos produtivos
Integrantes do alto escalão do governo garantem: o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fica no cargo, apesar de pressões de dentro do próprio governo e de integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT) para que ele seja substituído. O destino dele foi selado depois de várias conversas entre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff sobre o tiroteio disparado contra o ministro. Lula convenceu a afilhada política a não demitir o chefe da equipe econômica, apesar de todos reconhecerem que ele já não tem hoje o peso ideal para negociar com o capital privado, depois dos constantes desgastes com previsões, não realizadas, de crescimento forte do Produto Interno Bruto (PIB) e de medidas que minaram a credibilidade das contas públicas e do controle da inflação.
Três ministros e quatro importantes parlamentares petistas ouvidos pelo Correio garantem que Mantega andou, sim, com um pé fora do ministério, mas a intervenção de Lula junto a Dilma, alertando para a injustiça contra o ministro, o recolocou no cargo com todo o respaldo possível para tocar as medidas que o Palácio do Planalto considera vitais para a retomada do crescimento. Dilma, inclusive, deu uma importante missão para o subordinado: convencer os investidores de que vale a pena encampar os projetos de infraestrutura — portos, rodovias, aeroportos e ferrovias — que serão concedidos à iniciativa privada ao longo de 2013. A maratona, marcada para este mês, inclui São Paulo, Nova York, Europa e Ásia. O objetivo é mostrar um Mantega ativo em contraponto ao pífio resultado do PIB de 2012 a ser divulgado em 1º de março.
Como Dilma acredita que a atividade retomará o fôlego neste ano, a ponto de lhe garantir uma reeleição tranquila em 2014, ela sacramentou que Mantega ficará ao seu lado até o fim do primeiro mandato. Caso, porém, o quadro de melhora da economia não se confirme, aí, sim, uma possível troca no comando da Fazenda entrará no radar. O ministro, porém, tem se mostrado confiante. A interlocutores, ele garante que o nó que vem travando o PIB será desatado nos próximos meses, com a retomada dos investimentos. São os projetos para a ampliação de fábricas e as obras de infraestrutura que darão a dinâmica do crescimento. O consumo das famílias permanecerá como suporte para evitar contrações indesejáveis.
“Sabemos que as pressões sobre Mantega vão continuar. Mas a presidente Dilma decidiu pagar para ver. Ela está consciente de que, na maioria das vezes, o ministro da Fazenda executou o que o Planalto queria. Se houve erros, não foram apenas de Mantega, mas de todo o governo”, diz um ministro. “Estão todos confiantes de que as medidas de estímulo dadas pelo governo à indústria darão resultado a partir de agora. E, se isso realmente acontecer, Mantega poderá tripudiar seus detratores”, acrescenta outro integrante do primeiro escalão da Esplanada dos Ministérios.
Mantega está consciente de que é do governo que são disparados os principais torpedos para derrubá-lo. O fogo-amigo é comandado por auxiliares de Dilma que se sentem contrariados com o ministro e que ambicionam assumir a chefia da equipe econômica.