Título: Conflito não acabou
Autor: Valente, Gabriela Freire
Fonte: Correio Braziliense, 03/02/2013, Mundo, p. 20

Em visita oficial, o presidente da França promete continuar a apoiar o país até que a soberania seja recuperada. Com a retirada das tropas europeias, contudo, o futuro da nação africana é incerto

O presidente François Hollande foi recebido com festa no Mali três semanas após o início da ofensiva francesa para conter extremistas islâmicos que tentam controlar o norte do país. Ontem, Hollande visitou Timbuktu e disse que, apesar do sucesso da ação, o conflito no país africano ainda não acabou. Ele afirmou que as tropas francesas permanecerão na região “enquanto for necessário”, mas garantiu que a operação será entregue às forças africanas. “Não temos a intenção de ficar: nossos amigos africanos vão poder fazer o trabalho que era nosso até então”, declarou.

Acompanhado pelos ministros de Defesa e Relações Exteriores, o chefe de Estado foi recebido por cerca de 3 mil pessoas que se reuniram para agradecer aos franceses com gritos de “Viva a França” e ao som de tambores — instrumento proibido pelos islamitas, assim como qualquer tipo de música, durante a sua ocupação. Hollande disse que a França tem “a obrigação de apoiar os malineses até que eles tenham recuperado a sua soberania inteira” e fez questão de salientar que este é o único objetivo da ação no país, que terá eleições em 31 de julho. “Eu não quero me meter na política do Mali, este não é o objetivo da operação. Nós viemos servir em uma missão definida pelo chamado do presidente malinês dentro da resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, explicou.

Dioncounda Traor, presidente interino do Mali, agradeceu aos soldados franceses pela “eficiência e pelo profissionalismo”. A segurança no país após a partida das tropas europeias, contudo, ainda é incerta. Em um comunicado à imprensa, o Observatório dos Direitos Humanos acusou militares malineses de cometer execuções extrajudiciais. Adama Dieng, conselheiro da ONU, também fez um alerta para o risco de represálias aos árabes e à etnia Tuareg, suspeitos de apoiar os extremistas islâmicos. “Há sérias acusações de violações de direitos humanos cometidas pelo Exército do Mali, incluindo execuções sumárias e desaparecimentos em Sevare, Mopti, Niono e outras cidades próximas às áreas onde o conflito ocorreu. Houve também relatos de casos de linchamento multidão e pilhagem de propriedades pertencentes a comunidades árabes e tuaregues”, relatou Dieng.

A intervenção militar no norte do Mali teve início em 11 de janeiro e envolveu 3,7 mil soldados franceses. Na semana passada, as forças francomalinesas retomaram várias cidades que estavam em poder de radicais ligados à Al-Qaeda do Magreb Islâmico e à Ansar Dine (Defensores do Islã). Eles tentaram instaurar um regime repressivo baseado em uma interpretação rigorosa da sharia, a lei islâmica. Além de ter obrigado as mulheres a usar o véu integral e proibido as escolas mistas, os radicais sentenciavam infratores a amputações ou apedrejamentos. Musoléus de santos muçulmanos também foram destruídos por serem considerados elementos de “idolatria”.

Casamento gay

A Assembleia Nacional francesa aprovou com 249 votos a favor e 97 contra um artigo do projeto de lei que legaliza o casamento homossexual na França. O artigo em questão é o 1º do texto, que indica que “o matrimônio é contraído entre duas pessoas de sexos diferentes ou do mesmo sexo”. O debate para elaboração do projeto de lei que permitirá que pessoas do mesmo sexo se casem e adotem crianças ainda deve durar dias e tem de ser avaliado pelo Senado.