Título: Nunca nos procurou
Autor: Rodrigues, Gizella; Alves, Renato
Fonte: Correio Braziliense, 03/02/2013, Cidades, p. 23

Impunidade é o sentimento que a família da jornalista Lanusse Martins Barbosa carrega há três anos. A jovem, que tinha 27 anos, se submeteu a uma lipoaspiração em janeiro de 2010, mas morreu na mesa de cirurgia. Ela teve hemorragia interna, perdeu quase dois litros de sangue e sofreu diversas paradas cardiorrespiratórias depois que o cirurgião plástico Haeckel Cabral Moraes perfurou a veia renal direita da paciente. O médico foi indiciado pelo crime e denunciado por homicídio doloso pelo MP, mas até hoje não houve julgamento.

Segundo a mãe de Lanusse, Maria das Graças Martins, 53 anos, e a irmã caçula da moça, Laiane Martins Barbosa, 25, o juiz que recebeu a denúncia desclassificou o crime para culposo (sem intenção de matar). O MP recorreu, e o processo, parado há pelo menos um ano, aguarda a manifestação dos desembargadores do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT). “O problema é que o médico sempre vai responder pelo crime mais brando, porque a Justiça presume que ele não tinha a intenção de matar”, afirma a irmã de Lanusse. “Dá raiva pensar que você sofre todo dia com a falta de alguém, e a pessoa que causou esse sofrimento não teve nenhuma mudança na vida.”

Para a mãe, Haeckel assumiu o risco de matar a filha ao ignorar os alertas dos anestesistas e não tentar transferi-la para uma unidade de terapia intensiva (UTI) quando o quadro dela se agravou. “Ele foi teimoso, imprudente. Além disso, ficou uma hora e quinze minutos tentando reanimar a Lanusse, nem tentou levá-la para a UTI de um hospital grande, que estava ao lado”, conta. “E depois da morte dela ele nunca nos procurou.”

Quando Lanusse morreu, o médico justificou para a família que ela tinha tido alergia a um medicamento. Eles só souberam do erro médico depois que submeteram o corpo à autópsia, por recomendação de um amigo médico. “Quantas pessoas enterram seus entes queridos sem saber o que de fato aconteceu?”, questiona Maria das Graças. “As leis precisam mudar, porque mais gente vai continuar morrendo vítima desses médicos. Ele está ganhando tempo, as pessoas estão esquecendo do caso, e a minha saudade e a dor só aumentam”, encerra a mãe da jovem.

330 Total de queixas recebidas pelo Conselho Regional de Medicina do DF no ano passado