Título: Perda de R$ 7,5 bi
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 05/02/2013, Economia, p. 10

Imagine ser acionista de uma empresa que, a cada dia, perde milhões de reais em valor de mercado. Agora, considere que, mesmo diante do derretimento das ações dessa companhia nas bolsas, não será fácil nem vantajoso se desfazer dos papéis. Essa é a situação em que se encontram os 32 mil trabalhadores que ainda mantêm parte do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em fundos de ações da Petrobras. Somente em 2012, eles tiveram um prejuízo de 14,09%.

Criada pelo governo em meados do ano 2000, a aplicação permitia que o trabalhador usasse até 50% do saldo do FGTS em cotas dos Fundos Mútuos de Privatização (FMP) da Petrobras. À época, 310 mil pessoas apostaram suas economias no novo investimento, mas, nos últimos anos, os saques só vêm aumentando. No ano passado, o patrimônio líquido dos fundos havia caído para R$ 3,2 bilhões, o menor valor em nove anos. Esse volume significa uma perda de R$ 7,5 bilhões em relação ao montante de R$ 10,7 bilhões registrado cinco anos atrás. Os números constam de um levantamento feito, a pedido do Correio, pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Segundo o Instituto FGTS Fácil, as ações da estatal se valorizaram 350,61% nos últimos 12 anos. O ganho acumulado, no entanto, tem desmoronado desde que o governo passou a intervir nos negócios da empresa, fazendo ruir o patrimônio líquido dos fundos. No ano passado, a aplicação só conseguiu operar no azul em quatro dos 12 meses.

Os prejuízos têm levado milhares de pessoas a desistirem do negócio, o que só é possível nos casos previstos para saque do saldo do FGTS — compra da casa própria, aposentadoria ou demissão sem justa causa. Uma outra possibilidade é solicitar o retorno dos recursos para a conta do FGTS, que é corrigido em 3% ao ano, portanto, abaixo da inflação. Mesmo com essas dificuldades, os saques nos FMP Petrobras superaram os ingressos líquidos em todos os meses de 2012.

Fundo do poço Para Felipe Chad, sócio da DX Investimentos, a debandada se deve à incerteza sobre a capacidade da estatal em voltar a dar lucros aos acionistas. "Se você acordasse hoje e descobrisse que suas ações da Petrobras não estão mais na sua carteira (de aplicações), você as compraria de volta? Provavelmente não", disse Chad, que tem aconselhado seus clientes a se desfazerem do papel da petroleira.

Oswaldo Telles Filho, analista de petróleo da BES Securities do Brasil, tem opinião diferente e aconselha a manutenção das ações da estatal. Segundo ele, 2012 foi o fundo do poço para a empresa, e a tendência é de valorização dos títulos no mercado. "Quem manteve esses papéis até agora, passou por tudo de ruim que a companhia já viveu. Mas está chegando a hora da virada", apostou.

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