Título: Pior lucro em oito anos
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 05/02/2013, Economia, p. 10

Petrobras tem ganho de R$ 21,18 bilhões em 2012, o menor desde 2004. Defasagem nos preços da gasolina e do diesel foi determinante

O controle da inflação buscado pelo seu controlador, o governo, custou caro à Petrobras. A empresa registrou, em 2012, lucro líquido de R$ 21,18 bilhões, o pior resultado desde 2004, quando os ganhos somaram R$ 16,88 bilhões. Segundo a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, o fraco desempenho decorreu do aumento da importação de combustíveis a preços mais altos no exterior do que os praticados no país, da alta do dólar ante o real, do aumento de despesas extraordinárias, como a baixa de poços secos, e da queda de 2% na produção de petróleo ante 2011. Somente com a defasagem nos valores da gasolina e do diesel — que foram reajustados em 6,6% e 5,4%, respectivamente, na semana passada —, as perdas chegaram a R$ 22,9 bilhões no ano passado, dos quais R$ 5,6 bilhões nos últimos três meses.

Em relação a 2011, quando ganhou R$ 33,3 bilhões, o lucro líquido da Petrobras caiu 36,4%. Esse tombo já era esperado pelos especialistas. Tanto que as ações da empresa foram negociadas o dia todo em baixa. No caso dos papéis preferenciais, o recuo chegou a 2,33%, para R$ 18,03. Já os ordinárias (com direito a voto) perderam 2,95% do valor, cravando R$ 18,07. Esse desempenho foi decisivo para mais um dia de perdas para o Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa).

Na tentativa de tranquilizar os investidores, Graça Foster assegurou, por meio de nota, que a Petrobras mantém a intenção de investir R$ 97,6 bilhões em 2013, recursos que serão alocados, principalmente, na exploração e na produção de óleo e gás natural no Brasil. A Diretoria de Exploração e Produção ficará com R$ 51,9 bilhões (53,1%). O setor de Abastecimento, com R$ 32,5 bilhões (33,3%); o de Gás e Energia, com R$ 5,5 bilhões (5,7%); e o Internacional, com R$ 3,7 bilhões (3,8%). O restante do dinheiro será dividido entre os segmentos de distribuição, biocombustível e corporativo.

A entrada em operação de seis novas plataformas também contribuirá, no entender da presidente da Petrobras, para dar sustentação ao aumento significativo da produção a partir do segundo semestre deste ano. Ela disse mais: "Apesar das adversidades enfrentadas em 2012, quero reiterar a minha sólida convicção sobre as perspectivas positivas de médio e longo prazo da companhia". A estatal produziu, em 2012, 1,98 milhão de barris diários de petróleo.

Desconfiança A recuperação da Petrobras, segundo a empresa, pode ser medida pelo que se viu entre o segundo trimestre, quando registrou prejuízo de R$ 1,34 bilhão — o primeiro em 13 anos — e o quarto, com lucro líquido de R$ 7,75 bilhões, graças ao aumento dos preços dos combustíveis nas refinarias, concedido no fim de junho. Em todo o ano de 2012, o reajuste foi de 10,2% no diesel e de 7,8% na gasolina, mas os consumidores não sentiram o encarecimento nas bombas dos postos — ao contrário da semana passada —, porque o governo zerou impostos incidentes sobre os produtos.

Os analistas continuam desconfiados. Para eles, apesar das correções nos preços dos combustíveis, a situação de caixa não é confortável, a ponto de estar atrasando pagamentos a fornecedores. Apesar de pleitear reajuste de 15% para a gasolina e o diesel, a empresa levou menos. Ainda assim, afirmou que o aumento foi definido seguindo "a política que busca alinhar o preço dos derivados aos valores praticados no mercado internacional em uma perspectiva de médio e longo prazos".

Como forma de compensar a Petrobras, o governo antecipou, de junho para maio, a elevação do percentual obrigatório de etanol misturado à gasolina, de 20% para 25%. A medida tem como meta reduzir as importações de derivados de petróleo pela empresa. De toda forma, especialistas ressaltam que a nova tabela não zera a perda dos valores cobrados pela estatal em relação às cotações internacionais. "O atual reajuste apenas deu folga à capacidade de geração de caixa da empresa", disse Ricardo Corrêa, da Ativa Corretora.

Como se não bastasse o resultado ruim de 2012, analistas não acreditam em melhora substantiva no desempenho operacional e financeiro da Petrobras neste ano. Eles lembram que a demanda de combustíveis continuará subindo, forçando mais importações, com preços no varejo defasados em relação ao exterior. Além disso, a produção nacional de petróleo não dará grandes saltos. Novos aumentos de gasolina estão sem horizonte claro até 2014, um ano eleitoral.

Oferta insuficiente

O balanço divulgado ontem pela Petrobras destacou a atividade recorde de suas refinarias, que se aproxima de 100% da capacidade, mas ainda insuficiente para atender a demanda dos brasileiros. Em 2012, a produção de derivados chegou à média de 1,99 milhão de barris diários, para um consumo de 2,28 milhões barris.