O Estado de São Paulo, n.46262, 15/06/2020. Poder, p.A6

 

Ex-marqueteiro de Aécio presta serviço de comunicação a Zema

Leonardo Augusto

15/06/2020

 

 

Paulo Vasconcelos, que comandou campanhas do tucano, dá consultoria sobre crise da covid-19 ao governo de Minas

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), colocou na equipe de comunicação do Estado o marqueteiro Paulo Vasconcelos, publicitário que comandou a campanha à Presidência da República do hoje deputado federal Aécio Neves (PSDB) em 2014 e responsável, ao lado da irmã do parlamentar, Andrea Neves, pela estratégia de mídia dos governos do tucano. Ao menos por enquanto, a participação de Vasconcelos na área de comunicação de Zema é “episódica” e “voluntária”, segundo o Estado.

O governo afirma, porém – ao mesmo tempo em que explica o motivo da ida do marqueteiro para a equipe –, haver a necessidade de contratação de consultoria na área de comunicação por causa da “crise e alongamento da pandemia”.

Em nota, o Palácio Tiradentes diz que “ao longo das últimas semanas, Paulo Vasconcelos vem prestando um apoio episódico, voluntário e pessoal nas questões de comunicação. Não há qualquer contratação neste momento, relativa a esse apoio de consultoria”.

Em seguida, o texto diz que “dado o aprofundamento da crise e alongamento da pandemia, o Estado avalia a contratação de um trabalho específico de consultoria de comunicação focada neste cenário”. Se comparado a outros Estados como São Paulo e Rio de Janeiro, Minas Gerais, ao menos segundo os dados oficiais, registra resultados satisfatórios na tentativa de evitar a propagação do novo coronavírus.

Na área econômica, no entanto, com a elevação de gastos na Saúde, a situação piora um quadro que antes da pandemia já era ruim. O déficit para 2021 foi estimado em R$ 17,3 bilhões. O cenário nas contas públicas fez soar o alerta no governo para a área da comunicação, sobretudo levando-se em consideração que Zema deverá tentar a reeleição em 2022.

O assunto, porém, é evitado externamente por integrantes da cúpula do governo Zema, sobretudo por envolver um ex-auxiliar de Aécio. O governador do Novo foi eleito em 2018 exatamente por ser colocar contrário a Aécio e seu grupo político – que comandou o estado entre 2003 e 2014 – e ao PT, que, com Fernando Pimentel, governou Minas entre 2015 e 2018.

De acordo com Vasconcelos, a estrutura que se pretende montar para a comunicação do governo é exatamente a que existiu nas gestões de Aécio em Minas. A organização da área, segundo ele, ocorre via núcleo que reúne representantes de empresas públicas, autarquias e secretarias de Estado. Todas as ações passam por esse núcleo, retirando a autonomia individual. Durante os governos de Aécio, o núcleo tinha Andrea Neves e Vasconcelos entre seus integrantes, o que perdurou nos dois governos do tucano. A atuação dos integrantes do núcleo, no grupo, não era remunerada, segundo o marqueteiro.

Contrato. Vasconcelos afirma que, no primeiro governo de Aécio, que foi de 2003 a 2006, manteve contrato com o governo na área de comunicação, via sua agência de publicidade, chamada Vitória. Agora, com um pé no governo do Novo, o marqueteiro afirma que voltará a atuar para o Executivo estadual. “Ainda não sabemos como a contratação ocorrerá, se pelo próprio governo, ou pelo Novo”, afirmou, destacando que, por se tratar de consultoria, não é necessária licitação, caso a contratação venha a ocorrer pelo governo. Ele diz que, no governo, terá salário de R$ 7,5 mil, mesmo valor pago a chefes de assessorias de comunicação de secretarias do Estado. Vasconcelos chegou ao governo Zema pelas mãos do vicegovernador, Paulo Brant, em março deste ano.

Ligado aos Neves, ao menos até 2014, Vasconcelos nega que sua ida para o governo Zema possa ter relação com um possível início de influência de Aécio e Andrea no Palácio Tiradentes. “Não tenho nenhum contato com os dois”, afirmou.

Assim como o ex-governador de Minas e atual deputado federal, Vasconcelos é investigado pela Polícia Federal em inquéritos que apuram corrupção passiva, corrupção ativa e caixa dois por repasses de recursos envolvendo campanhas eleitorais tucanas de 2010 e 2014. O marqueteiro nega irregularidade. “Sempre estive à disposição da Justiça”, diz. O deputado tucano também nega irregularidades.

‘Episódico’

“Paulo Vasconcelos vem prestando um apoio episódico, voluntário e pessoal nas questões de comunicação.”

NOTA DO GOVERNO DE MG