O Estado de São Paulo, n.46262, 15/06/2020. Poder, p.A5

 

Weintraub ignora proibição, vai a ato e volta a citar 'vagabundos'

Eduardo Rodrigues

Dida Sampaio

15/06/2020

 

 

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, se reuniu ontem pela manhã com cerca de 15 manifestantes bolsonaristas que desrespeitaram uma ordem do governo do Distrito Federal proibindo atos na Esplanada dos Ministérios. O ministro discursou para o grupo em frente ao Ministério da Agricultura e chegou a oferecer comida aos manifestantes.

O ato descumpriu decreto do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), determinando o fechamento da Esplanada dos Ministérios durante o domingo, devido a “ameaças declaradas por alguns dos manifestantes” que poderiam colocar em risco o patrimônio e a saúde pública.

Trechos da conversa entre Weintraub e os manifestantes foram divulgados nas redes sociais. Em um deles, o ministro diz “eu já falei a minha opinião, o que faria com esses vagabundos”. O restante da fala é encoberto por aplausos dos manifestantes, que gritam “Weintraub tem razão”.

Na reunião ministerial do dia 22 de abril, Weintraub usou o termo “vagabundos” para se referir aos ministros do Supremo Tribunal Federal. “Por mim eu botava esses vagabundos todos na cadeia, começando pelo STF”, disse ele na ocasião – Weintraub responde a processo por causa dessa afirmação. Desde então, apoiadores o defendem nas redes socais, com a hashtag #weintraubtemrazão.

Em outro trecho da conversa de ontem, instado a comentar sobre o STF, Weintraub disse não ter autorização de Bolsonaro para falar sobre o tema. “Sou ministro do Executivo, e não posso aumentar a pressão que já existe. Eu não tenho autorização do presidente para me posicionar contra um ministro (do STF). É o que eu posso dizer.” Weintraub, contudo, afirmou que não cometeu “uma única ação fora da lei até o momento”.

O ministro disse haver um movimento para calar a “liberdade de expressão” dos bolsonaristas. “A liberdade de expressão é a primeira coisa que temos que defender. Se eles nos calarem, vão escravizar todo mundo nesse País”, disse. Em seguida, pediu orações e disse saber que “o outro lado” teria feito “macumba” contra ele.

Na conversa com os manifestantes, Weintraub também repetiu discurso contra as faculdades de Ciências Humanas, que formam estudantes em cursos como Ciências Sociais e Filosofia.

“Todas as universidades que a gente tem, não brota da terra o dinheiro, vem do imposto. Quando a gente for comprar pão, gasolina para a moto, telefone celular, vem imposto. E esse imposto é usado para pagar salário de professor, de técnico, bolsa, alimentação, tudo isso. Eu, como brasileiro, eu quero ter mais médico, mais enfermeiro, mais engenheiro, mais dentistas. Eu não quero mais sociológico, antropológico, não quero mais filósofo com o meu dinheiro”, disse o ministro.