Correio braziliense, n. 20905, 18/08/2020. Brasil, p. 7

 

Indígenas bloqueiam rota e exigem ajuda

18/08/2020

 

 

Em um protesto realizado, ontem, dezenas de indígenas Kayapó Mekragnoti bloquearam parte da rodovia BR-163, na altura do município de Novo Progresso, no Pará, “por tempo indeterminado”, exigindo ajuda do Governo Federal para combater a pandemia do novo coronavírus. Empunhando pedaços de paus, flechas e facões, ergueram duas barricadas com pneus e madeira na via, a principal de distribuição agrícola do Centro-Oeste aos portos fluviais da Amazônia.

“A cada dia que passa essa doença está aumentando, por isso nós estamos fazendo esse movimento para chamar a atenção (...) para o governo olhar para o lado dos indígenas”, disse o cacique Beppronti Mekragnotire, por meio do seu porta-voz e intérprete Doto Takak-ire.

Os Kayapó Mekragnoti, subgrupo da etnia Kayapó, da qual faz parte o cacique Raoni Metuktire — ícone da luta pela conservação da Amazônia que recentemente foi acometido pelo coronavírus —, habitam as reservas Baú e Menkragnoti, que juntas ocupam 6,5 milhões hectares, uma área aproximadamente do tamanho da Croácia. Segundo dados da ONG Kabu, dos 1,6 mil habitantes de suas 12 aldeias, ao menos quatro morreram em decorrência da covid-19 e outros 400 foram infectados.

Os primeiros casos de coronavírus entre indígenas ocorreram devido ao contato com populações urbanas e à presença de garimpeiros ilegais em suas reservas. Devido ao fato de viverem isolados, os índios são um alvo perfeito para o coronavírus devido às suas defesas imunológicas.

De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que acusa o governo Jair Bolsonaro de omissão diante da pandemia, ao menos 618 indígenas morreram e outros 21 mil já foram infectados pelo coronavírus em todo o Brasil.

Os indígenas também exigem do governo o combate ao desmatamento ilegal praticado pelos invasores de terras. “Você está vendo essa fumaça?”, perguntou o cacique Beppronti Mekragnotire. “É porque o desmatamento está aumentando a cada dia”, lamentou.

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País tem 108 mil mortes 

Bruna Lima 

18/08/2020

 

 

O Brasil é um dos países com maior duração da fase crítica da covid-19. Há quatro meses se mantendo no rol de nações que não conseguem controlar a transmissão da doença, o país vive um período de estabilização em altos patamares e sem previsão de um declínio constante. Ontem, por ser próximo do fim de semana, os números se mantiveram estáveis, com mais 684 mortes e 19.373 infecções pelo novo coronavírus, totalizando 108.536 óbitos e 3.359.570 casos confirmados. No entanto, as médias continuam acima de 40 mil confirmações diárias, o que representa acréscimos rotineiros superiores ao total de registros em 3/4 das nações do mundo.

Não há mais estados com menos de 500 fatalidades por covid-19 e apenas cinco das 27 unidades federativas registram menos de mil óbitos. São elas: Mato Grosso do Sul (640), Amapá (617), Acre (582), Roraima (568) e Tocantins (516). São Paulo tem, sozinho, um quarto das mortes brasileiras pela doença, somando 28.899. A lista segue com Rio de Janeiro (14.566), Ceará (8.163), Pernambuco (7.210), Pará (5.945), Bahia (4.475), Minas Gerais (4.223), Amazonas (3.505), Maranhão (3.277), Espírito Santo (2.908), Rio Grande do Sul (2.744), Paraná (2.733), Mato Grosso (2.368), Goiás (2.336), Paraíba (2.183), Rio Grande do Norte (2.081), Distrito Federal (2.042), Santa Catarina (1.839), Alagoas (1.763), Sergipe (1.717) e Piauí (1.619).

Primeiro lugar

Dos 188 países considerados na avaliação global de análise situacional da covid-19 pela Universidade Johns Hopkins, o Brasil soma, por dia, mais novos positivos para a doença do que o número divulgado desde o início da pandemia em 139 nações, ou seja, representa 74% do total.

“Na Europa houve um crescimento muito grande do número de casos e óbitos e um descenso relativamente lento, mas com tendência clara de queda. Isso não está acontecendo em países como Brasil, México, Colômbia, Argentina, países que têm uma fase de ascensão muito lenta e não mostram sinais de queda”, analisou Christovam Barcellos, sanitarista e pesquisador do Laboratório de Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A avaliação foi feita ontem, durante debate do seminário on-line promovido pelo Observatório Covid-19.