Correio braziliense, n. 20905, 18/08/2020. Saúde, p. 13

 

Células de memória reagem em casos leves

18/08/2020

 

 

Casos leves da covid-19 podem desencadear respostas robustas de células T de memória, mesmo na ausência de níveis detectáveis de anticorpos específicos para o novo coronavírus, relatam pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia, em um estudo publicado na revista Cell. Os autores afirmam que essa reação, gerada pela exposição natural ou à infecção pelo Sars-CoV-2, pode ser um componente imunológico significativo para prevenir a forma grave da doença no caso de contágio futuro.

“Atualmente, estamos enfrentando a maior emergência global de saúde em décadas”, afirmou o autor sênior, Marcus Buggert. “Na falta de uma vacina protetora, é fundamental determinar se as pessoas expostas ou infectadas, especialmente aquelas com formas assintomáticas ou muito leves da doença, desenvolvem respostas imunes adaptativas robustas contra o Sars-CoV-2”, acrescentou.

Até o momento, há evidências limitadas de reinfecção em humanos com covid-19 previamente. A maioria dos estudos sobre a proteção imunológica contra o novo coronavírus em pessoas enfocou a indução de anticorpos neutralizantes. Mas as respostas dessas proteínas tendem a diminuir, e não são detectáveis em todos os pacientes, especialmente, aqueles com formas menos graves da doença.

Pesquisas em camundongos mostraram que as respostas das células T de memória induzidas pela vacina, e que podem persistir por muitos anos, protegem contra um vírus muito semelhante, o Sars-CoV-1, mesmo na ausência de anticorpos detectáveis. Até agora, não estava claro se o fenômeno é igual em relação a grupos celulares específicos de combate ao Sars-CoV-2.

Surpresa

Para abordar essa questão, Buggert e colaboradores avaliaram a produção de células T e de anticorpos específicos para Sars-CoV-2 em 206 indivíduos da Suécia. Durante a fase aguda, as respostas celulares foram associadas a vários marcadores clínicos de gravidade da doença.

Após a recuperação da covid-19, os pacientes apresentavam níveis detectáveis dessas estruturas. As respostas de células T mais fortes estavam presentes nos 23 pacientes que superaram a covid-19 grave. Esses também desenvolveram anticorpos para o vírus.

Surpreendentemente, as respostas de células T de memória específicas para Sars-CoV-2 foram detectadas meses após a infecção em membros da família dessas pessoas, que foram expostas ao vírus mas não se contaminaram, e na maioria dos indivíduos com histórico de covid-19 muito leve; às vezes, na ausência de anticorpos específicos para o coronavírus .

Entre os 28 familiares expostos, apenas 17 (um pouco mais da metade) tiveram respostas de anticorpos detectáveis, enquanto quase todos (26/28) mostraram contagem de células T. Entre os 31 indivíduos que se recuperaram da covid-19 leve, praticamente todos tiveram respostas de anticorpos detectáveis (27/31) e desenvolveram respostas de células T (30/31).

“Nossas descobertas sugerem que a dependência de respostas de anticorpos pode subestimar a extensão da imunidade em nível populacional contra Sars-CoV-2”, disse Buggert. “O próximo passo óbvio é determinar se as respostas robustas das células T de memória na ausência de anticorpos detectáveis podem proteger contra covid-19 em longo prazo.”

206 Total de pessoas que participaram da pesquisa realizada pelo Instituto Karolinska, na Suécia