Correio braziliense, n. 20906, 19/08/2020. Cidades, p. 17

 

Entrevista - Sebastião Abritta

Vicente Nunes

Ana Maria da Silva 

19/08/2020

 

 

Em entrevista ao CB.Poder — uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília —, ontem, o vice-presidente do Sindivarejista do Distrito Federal (DF), Sebastião Abritta, afirmou que, para salvar o comércio do Plano Piloto, é necessária a flexibilização do home office. “O trabalho presencial faz falta. Hoje, quando descemos a Esplanada dos Ministérios, dá até tristeza. Não vemos um carro estacionado, uma alma viva. E, se a pessoa não se movimenta, não consome. E é esse público que consome no Plano Piloto”, explica.

A falta de fluxo na região central de Brasília ocorre devido à falta de servidores públicos. “Hoje, para que reativemos as lojas que estão sofrendo com a pandemia, precisamos do retorno de, pelo menos, parte dos funcionários do Judiciário, da Câmara Federal, da Câmara Legislativa, do Senado Federal, para que volte a movimentar o comércio”, ressalta Sebastião. Segundo o vice-presidente, a demanda de consumo do Plano Piloto representa cerca de 80% dos servidores públicos. “Em Brasília, nós temos perto de 400 mil servidores, incluindo professores, bombeiros e policiais”, completa.

Qual é o impacto do auxílio de R$ 600 no comércio?

Esses R$ 600 fizeram toda a diferença no varejo do DF. Não só no DF, mas em todo o Entorno, bem como no Brasil. Tanto é que mudou o hábito de consumo. Hoje, nós temos uma carência no Plano Piloto e, em contrapartida, nós temos aumento na demanda de faturamento no Entorno. O consumidor, além de receber dano de sustentação, está consumindo na sua região. Isso é dinheiro na veia. Principalmente, tratando-se de supermercado, farmácias, vestuário e calçados.

Isso estancou o fechamento de lojas e a demissão de pessoal?

Ajudou a diminuir o fluxo de fechamento e demissões. Em contrapartida, o consumo no Plano Piloto diminuiu, enquanto, no Entorno, aumentou. As pessoas não estão se deslocando. Percebemos que elas consomem próximo de onde moram.

Ou seja, favorece o comércio local, né?

Sim, muito importante. Mas traz um outro problema, que é a diminuição de fluxo no Plano Piloto, que tem de 250 a 300 mil habitantes. Normalmente, quando dá 10h, o fluxo passava de 1 milhão de pessoas. Algo que hoje não acontece. Hoje, para que reativemos as lojas que estão sofrendo com a pandemia, precisamos do retorno de, pelo menos, parte dos funcionários do Judiciário, da Câmara Federal, da Câmara Legislativa, do Senado Federal, para que volte a movimentar o comércio. O trabalho presencial faz falta. Hoje, quando descemos a Esplanada dos Ministérios, dá até tristeza. Não vemos um carro estacionado, uma alma viva. E, se a pessoa não se movimenta, não consome. E é esse público que consome no Plano Piloto.

O Senado anunciou a prorrogação do home office. No GDF, a partir de setembro, haverá opção para o servidor decidir se deseja trabalhar em casa ou voltar para a Esplanada dos Ministérios. Há necessidade de manter todos os servidores públicos em casa?

Eu acho que, nesse primeiro momento, nós estamos aprendendo com essa situação, e temos de andar de mãos dadas para alavancar a economia. O Brasil inteiro elege e manda senadores e deputados para Brasília. E essas pessoas estão ficando onde residem. Normalmente, de terça a sexta, elas traziam movimento para o DF, mas sentimos falta disso. Nem que comece em 50% para ver como que vai acontecer o desenvolver da situação, mas é importante que essa demanda volte aos poucos para melhorar o movimento no varejo, na economia, e gerar emprego e renda.

Quanto que os servidores públicos representam da demanda do consumo no Plano Piloto?

É perto de 80%, se não for mais. Em Brasília, temos perto de 400 mil servidores, incluindo professores, bombeiros e policiais.

Então, eles são fundamentais para dar a reativada no comércio do Plano Piloto?

Com certeza. Hoje, nós estamos com mais ou menos 540 lojas fechadas em toda a Asa Sul, algo perto de 360 na Asa Norte. Então, precisamos alavancar esse consumo. Como a capital federal é muito administrativa, precisamos desse pessoal trabalhando, além da retomada da construção civil e privada. O GDF está iniciando algumas obras, e isso está sendo fundamental. A única alternativa de gerarmos emprego rápido é a iniciativa privada. Lançando os prédios, aproveitando a oportunidade dos juros do Banco de Brasília (BRB), nos menores níveis da história de Brasília. Eu faço um apelo às grandes construtoras, que façam lançamento, mas de imediato. Porque, começando a obra de imediato, ela gera emprego. Ao fazer isso, com o dinheiro circulando na construção civil, esse emprego de base é consumido no varejo.

Nós vemos, segundo os dados do IBGE, que o pior para o varejo ficou para trás. É isso mesmo?

Eu acredito que sim. O Dia dos Pais foi o melhor resultado das datas comemorativas no varejo. Já o Dia das Mães e o Dia dos Namorados foram fracos. Mas, mesmo assim, ao analisarmos a venda do e-commerce, a queda foi de 8,9%. Ao analisarmos só a venda presencial, houve queda de 14,9% em relação ao ano passado. Precisamos motivar o consumo presencial. A classe mais bem informada está com receio de sair. Hoje, temos o mundo na ponta dos dedos, com condições de espera para receber o produto. Situação diferente do que vive a classe C, que compra e, imediatamente, precisa consumir.