O Estado de São Paulo, n.46264, 17/06/2020. Política, p.A4

 

Silêncio do presidente reflete tentativa de amenizar crise

Jussara Soares

17/06/2020

 

 

Pressionado pela crise com o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro orientou pessoas próximas a evitar manifestações públicas sobre a Operação Lume da Polícia Federal, que investiga seus aliados no âmbito do inquérito sobre os atos antidemocráticos. Apesar da nítida irritação nos bastidores, Bolsonaro, seus filhos e integrantes do governo silenciaram sobre os mandados de busca e apreensão solicitados pela Procuradoria-Geral da República e autorizados pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.

Eles tampouco comentaram sobre a quebra de sigilo bancário de dez deputados e um senador bolsonaristas, autorizada por Moraes para verificar o financiamento de manifestações contra o STF e o Congresso. Auxiliares do presidente justificam que o silêncio é um sinal de que o governo está disposto a diminuir a temperatura da crise.

A trégua envolve a demissão do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que vem sendo preparada pelo Planalto como um gesto de pacificação. Para a oposição, no entanto, a moderação é sintomática e reproduz o receio de que os inquéritos em curso se aproximem da família do presidente.

“É medo de eles serem os próximos”, disse o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP). “A reação firme do ministro Alexandre de Moraes, que conta com o apoio dos outros ministros, mostrou que o Supremo não está de brincadeira. Vai cobrar as responsabilidades de cada um, seja quem for. Ninguém está acima da Constituição”, afirmou o líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ).