O globo, n. 31768, 29/07/2020. País, p. 17

 

Pandemia evidencia gargalos da educação brasileira como a exclusão digital

29/07/2020

 

 

Falta de acesso à internet, quando opção é o ensino remoto, aumenta desigualdade entre estudantes

 A pandemia de Covid-19 escancarou os modelos de desigualdade existentes na educação brasileira. Um dos exemplos é o acesso à internet, que se tornou fundamental para que crianças e jovens acompanhem as atividades escolares remotamente.

Durante o debate “Educação para diversidade”, especialistas e colunistas do GLOBO destacaram a importância de fornecer acesso à tecnologia às populações mais pobres. Edu Lyra, da ONG Gerando Falcões, ressaltou que, se as classes média e alta já encontram dificuldades, a situação se torna mais complexa para quem não tem internet em casa:

— É como se esse jovem estivesse com uma venda nos olhos e não pudesse enxergar o futuro, porque não tem acesso à informação, ao desenvolvimento e a todo tipo de comunicação para o crescimento educacional. Eu acho que a Covid-19 colocou uma lente de aumento sobre os grandes problemas do país, e um deles é a exclusão digital.

Lyra destacou que a tecnologia vem fazendo uma revolução, mas não pode ser usada só economicamente: o modelo digital precisa ser adotado para compreender o país e seu povo e para criar políticas públicas através de dados:

—A sociedade tem que escolher algumas pautas de longo prazo e definir metas, agendas que vão modificar o Brasil. A gente não pode viver de curto prazo, fazendo coisas pontuais e ir dormir achando que tudo está bem e vai ser resolvido.

Dados do Censo Escolar 2019 mostram que, mesmo durante o período de aulas presenciais, somente 25% das escolas públicas disponibilizavam internet para seus alunos. O colunista Antônio Gois apontou que, em valores totais, o Brasil investe em educação uma quantia semelhante a países desenvolvidos. Esse montante, no entanto, representa 40% quando se leva em conta o que se gasta por aluno na comparação com essas nações.

Já o colunista Bernardo Mello Franco lembrou que, até o momento, um ano e meio após assumir, o governo Bolsonaro não atacou este, nem nenhum dos problemas concretos da educação brasileira:

— É muito difícil ver um político dizer que é contra a educação. Como ninguém diz que é contra luz e água encanada. Mas o problema é o que se faz. O discurso generalista acaba se esvaindo e serve apenas como fachada.