Correio braziliense, n. 20907, 20/08/2020. Cidades, p. 15

 

GDF suspende aulas presenciais da rede

Caroline Cintra

Jéssica Eufrásio 

20/08/2020

 

 

A falta de condições favoráveis em meio ao cenário de pandemia fez com que o Governo do Distrito Federal (GDF) optasse por suspender o calendário de volta às aulas na rede pública de ensino. Ontem, representantes da Secretaria de Educação reuniram-se com gestores das 686 escolas e decidiram que o mais indicado para o momento seria adiar o retorno até que haja “segurança absoluta” para estudantes e profissionais. Com isso, todos os estabelecimentos da educação básica no DF ficam sem data definida para continuar as atividades presenciais.

Em coletiva no Palácio do Buriti, ontem, o secretário de Educação, Leandro Cruz, afirmou que a mudança não representou interrupção das aulas, pois a norma que liberava a reabertura de colégios, a partir de 3 de agosto, deixava a definição do calendário a cargo da pasta. As primeiras turmas voltariam no próximo dia 31. “Mesmo com o decreto que autorizava (o retorno), por decisão da Secretaria de Educação e com orientação do governador Ibaneis (Rocha), só o faremos quando estivermos em condições epidemiológicas perfeitas para isso”, destacou.

O secretário acrescentou que, nesse período, os colégios passarão por reformas, e o ensino pela internet será reforçado. Atualmente, a plataforma digital da rede pública conta com mais de 460 mil estudantes cadastrados e soma mais de 4 milhões de acessos. O Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro) aprovou a decisão do Executivo local. No entanto, cobra esforço para garantir que todos os estudantes tenham acesso aos conteúdos virtuais. “Sabemos que as aulas remotas estão acontecendo, mas temos uma parcela muito grande de alunos que não estão conseguindo acessá-las e que não conseguirão se o governo não assumir a parte dele de providenciar condições para isso”, afirmou Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro.

Mesmo se as aulas presenciais voltassem na data prevista, a recepcionista Rute Maria Santos, 29 anos, estava decidida a não mandar a filha, Sofia Santos, 7, de volta à escola pública, em Samambaia. Embora a menina esteja em fase de alfabetização, ela prefere manter as atividades de ensino em casa. “O número de casos é o que me assusta. Tenho lido bastante sobre a doença e sei que muitas crianças são assintomáticas. Se uma estiver infectada, a chance de passar para outras é grande. Estamos falando dos nossos filhos. Nosso bem maior”, disse.

O comerciante Samuel Cardoso, 37, compartilha da opinião. Pai de três filhos, de 14, 10 e 7 anos, ele decidiu manter todos em casa. “Sei que o virtual não substitui o olho no olho com o professor, mas estamos vivendo algo novo. Será que pouca gente tem enxergado isso?”, questionou. Em julho, Samuel foi um dos mais de 122 mil pacientes diagnosticados com a covid-19 no DF. Ele considerou os sintomas “cruéis”. “Sou um homem saudável e fiquei de cama. Se um filho meu pegar essa doença, não sei se aguenta. Por isso, nossa decisão aqui é: nada de volta à escola, por enquanto”, reforçou.

A Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa/DF) considerou a suspensão das aulas presenciais nas escolas públicas prudente e necessária. Vice-presidente da entidade, Anapaula Carreira comentou que a interlocução entre as secretarias de Saúde e Educação é essencial para a tomada de decisão. “Isso deveria ser estendido à rede particular também. Acaba que o retorno das aulas (nos colégios privados) ficou na disputa judicial, em um cabo de guerra entre sindicatos. Entendemos a importância de o governador assumir seu papel diante dessa situação”, destacou.

Divergências

Na rede particular, o retorno presencial segue sem definição. A decisão de abrir colégios depende da Justiça do Trabalho. Hoje, haverá uma nova audiência de conciliação entre as partes, na tentativa de que entrem em acordo sobre o novo calendário. O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe/DF) afirma que os colégios estão preparados para a volta, que têm acumulado prejuízos econômicos. Contudo, para o Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinproep/DF), a expectativa é de que as atividades continuem suspensas devido aos riscos da pandemia da covid-19.

A volta às aulas presenciais também divide opiniões entre as famílias. A administradora de empresas Verônica Alves, 39, sente-se insegura com o retorno. “A minha filha quer ir, mas não pretendo mandá-la agora. Vamos esperar como as coisas vão acontecer. A escola fez reunião e disse que vai tomar as medidas (necessárias), mas a gente fica inseguro”, afirmou Verônica, que vive em Sobradinho. No entanto, o marido dela, o bancário Roberto Mauro, 39, pensa o contrário.

Mãe de dois filhos matriculados em colégio privado, Gabriel Asevedo, 17, e Anannda Asevedo, 13, a administradora Daniella Asevedo, 41, acredita que os colégios estão preparados para receber os alunos. Para a moradora de Vicente Pires, tanto a comunidade escolar quanto os pais estão comprometidos com um retorno seguro. “Precisamos desconstruir essa ideia de que apenas as escolas têm proliferação do vírus em massa. Ela é tão importante e essencial quanto os outros segmentos que estão abertos”, avaliou. Daniella considera que muitos pais precisam desse serviço por terem retornado ao trabalho. “As crianças precisam ter os direitos de desenvolvimento e de aprendizagem garantidos, e isso é realizado, principalmente, na escola”, completou.

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DF registra 51 mortes 

Walder Galvão

20/08/2020

 

 

O coronavírus continua a avançar no Distrito Federal cinco meses após o início da pandemia. Apenas ontem, a Secretaria de Saúde contabilizou 51 mortes provocadas pela doença e 1.592 pessoas testaram positivo para a covid-19. Com os novos registros, a quantidade de mortos passou para 2.158 e a de diagnosticados, para 141.762. A pasta chegou a anunciar mudança na apresentação da quantidade de vítimas, entretanto, voltou atrás.

Das vítimas da doença, 1.966 moravam na capital e 182, em outras unidades da Federação, mas faleceram em hospitais locais. Apesar disso, 122.752 pessoas estão recuperadas, ou seja, 86,6% dos infectados. Ceilândia, com 16.883 diagnosticados, continua na liderança do ranking das regiões administrativas de maior incidência da doença. Em seguida, aparecem Plano Piloto (11.511) e Taguatinga (10.830).

Ontem à tarde, o secretário de Saúde, Francisco Araújo, informou que ocorreria uma mudança na forma de apresentar a quantidade mortes por covid-19 no Distrito Federal. A mudança, segundo ele, visava evitar “intranquilidade”. Os boletins diários da pasta apresentam o total de óbitos confirmados nas 24 horas anteriores. Os dados podem corresponder à data de divulgação, como também de dias anteriores. Por exemplo, na segunda-feira, a Secretaria de Saúde computou 66 novas vítimas, entretanto, as mortes aconteceram entre junho e agosto. “Estamos fazendo uma mudança no boletim, para que sejam divulgados os óbitos das últimas 24 horas. O dado que precisa ser visto é o da letalidade (relação entre o total de casos confirmados e de pessoas que morreram). A do DF é uma das menores do Brasil”, justificou o secretário.

Entretanto, à noite, em nota oficial, a Secretaria de Saúde voltou atrás e informou ao Correio que continuará com a divulgação diária do número total de vítimas, tanto das que faleceram recentemente quanto das que perderam a vida em outras datas. “Os próximos boletins continuarão informando os óbitos ocorridos nas últimas 24 horas e os ocorridos nos dias anteriores, com a confirmação na data da divulgação”, ressaltou o texto.

Transparência

O epidemiologista da Universidade de Brasília (UnB) Walter Ramalho explica que não é o momento para “baixar a guarda” em relação à pandemia. “A saída para não provocar pânico na população é ter uma boa comunicação com ela e não deixar de divulgar informações. Um diálogo diário, por exemplo, entre o secretário e as pessoas passaria essa tranquilidade desejada”, comentou.

Segundo o especialista, se a população tiver acesso às informações corretas, elas manterão as medidas de segurança necessárias para o enfrentamento da doença, como o distanciamento social. “É direito das pessoas saberem exatamente o que acontece na sociedade”, disse.