Título: Fazenda quer dólar comportado
Autor: Pinto, Paulo Silva
Fonte: Correio Braziliense, 06/02/2013, Economia, p. 12

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reafirmou ontem, em evento para investidores em São Paulo, que o regime de câmbio brasileiro é flutuante, mas que o governo age para que a volatilidade seja a menor possível. Ele disse também que a inflação deste ano será inferior à de 2012, quando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aumentou 5,84%.

Na tentativa de mostrar aos donos do dinheiro que o governo está no caminho correto, Mantega afirmou que está introduzindo uma nova matriz econômica no país e listou, além do custo de vida, o "juro baixo", de 7,25% ao ano; a "política cambial", com o objetivo de manter a competitividade; e a desoneração tributária, de R$ 45 bilhões em 2012, principalmente por meio da redução de tributos sobre a folha salarial de 40 setores.

Como argumento para demonstrar a saúde das contas públicas, Mantega mostrou em um gráfico a tendência de queda do deficit da Previdência desde 2007 e dos gastos com o pagamento de juros da dívida pública como proporção do Produto Interno Bruto (PIB). O ministro usou várias informações sobre o crescimento do consumo dos brasileiros, incluindo a previsão de que o país terá o quinto maior mercado do mundo em 2020, de US$ 3,5 trilhões.

Para convencer os investidores de que vale a pena retirar da gaveta os projetos de abertura e ampliação de fábricas, o ministro destacou a evolução da soma das exportações e importações do Brasil desde 1995, quando era de US$ 96,5 bilhões, até o ano passado, em que atingiu US$ 465,7 bilhões. Ressaltou também a ampliação do fluxo de recursos de longo prazo destinados à economia brasileira.

Segundo ele, o país foi o quarto principal destino de Investimento Direto Estrangeiro (IED) em 2012, com US$ 65 bilhões, atrás apenas de Estados Unidos, China e Hong Kong, de acordo com números da Organização das Nações Unidas. Em 2011, o montante havia sido maior: US$ 67 bilhões, mas outros países também receberam bem mais na época, e o Brasil ficou em quinto lugar.

Banda As declarações de Mantega não interferiram no mercado de câmbio. O dólar terminou o dia em baixa diante do real, ontem, depois que uma série de indicadores trimestrais positivos nos Estados Unidos animou os investidores a comprar ativos mais arriscados, como ações e moedas de países emergentes.

A divisa norte-americana fechou em queda de 0,47%, a R$ 1,99 na venda, compensando todo o avanço registrado na sessão anterior. O dólar também caiu em relação ao euro e a outras moedas latino-americanas, como o peso mexicano.

Apesar da valorização, analistas estimam que o real permanecerá em uma banda de negociação estreita, ao redor de R$ 2, como resultado de tensões entre Fazenda e Banco Central em torno do nível ideal da taxa de câmbio. "Para a Fazenda ganhar a guerra cambial, não vai ser suficiente um dólar a R$ 2. Mas para o BC controlar as expectativas de inflação, deixar o dólar a R$ 2 também não adianta nada", disse o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.