Título: Pressão contra a reforma ministerial
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 08/02/2013, Política, p. 4

Petistas trabalham para manter Marco Antônio Raupp em Ciência e Tecnologia, em vez de o Planalto entregar o comando da pasta ao deputado Gabriel Chalita

Antes tida como certa pelo apoio dado ao candidato Fernando Haddad no segundo turno das eleições municipais de 2012, a indicação do peemedebista Gabriel Chalita para o Ministério da Ciência e Tecnologia está ameaçada por pressões vindas do próprio PT. Segundo apurou o Correio, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, trabalha para influenciar a presidente Dilma Rousseff a deixar o ministério sob o comando de Marco Antônio Raupp.

Ciente do discurso de sociedade do conhecimento adotado pelo governo de Dilma Rousseff — Mercadante ainda acrescentou ao nome do ministério a palavra Inovação, também muito cara à presidente —, o atual titular da Educação demonstra apetite para acumular o controle das duas pastas ligadas ao setor. Raupp é ligado a Mercadante e não trocou ninguém da equipe indicada pelo petista.

A movimentação já foi percebida pelo PMDB, embora a presidente Dilma não tenha feito nenhum convite formal a Chalita.

Interlocutores do partido acreditam que Mercadante, ao tentar se transformar em “superministro da Educação, Ciência e Tecnologia”, pode, na verdade, caminhar para dar um tiro no próprio pé. Mercadante tem planos concretos de ser candidato a governador de São Paulo em 2014. O Correio na edição de ontem, inclusive, mostrou que setores majoritários no partido defendem que ele seja escolhido porque já tem um patamar mínimo de votos consolidado, o que ajudaria no início de uma campanha casada com a disputa pela reeleição da presidente.

Nesse sentido, o PMDB pode tornar-se um parceiro estratégico. Na disputa paulistana, a legenda lançou o próprio Chalita, que cresceu na reta final de campanha, mas, ainda assim, terminou em quarto. No segundo turno, o PMDB, em bloco, apoiou Haddad. No ano que vem, uma aliança com os peemedebistas, já em primeiro turno, daria um tempo de televisão considerável para que o candidato do PT mostre as propostas para o eleitorado.

Incômodo A cúpula do PMDB, até o momento, aguarda ser convocada pela presidente Dilma. Os caciques do partido afirmam que não está vinculada a indicação de qualquer nome para o ministério com a disputa eleitoral do ano que vem. Se o PMDB entender que é bom para a legenda ter candidato a governador, como fez na eleição para a prefeitura de São Paulo, isso vai ocorrer.

Aliados do ministro da Educação saem em defesa de Mercadante e juram que, em nenhum momento, ele pressionou o Palácio do Planalto para impedir a indicação de Chalita para o lugar de Raupp. Na verdade, a comunidade científica é que estaria descontente com a mudança, temerosa de que a forte ligação do deputado do PMDB com a Igreja Católica poderia provocar uma mistura perigosa entre ciência e religião.

Se por um lado PT e PMDB se engalfinham pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, o PDT está mais uma vez em ebulição por causa do Ministério do Trabalho. Já incomoda o Planalto a falta de controle que o ministro Brizola Neto tem sobre o PDT. O líder do partido na Câmara, André Figueiredo (CE), mantém uma postura clara de enfrentamento com o ministro e com o governo, influenciado pelo presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. Além disso, Dilma não gostou ao descobrir que Lupi, exonerado do Ministério do Trabalho em dezembro de 2011, ainda estava como representante da pasta no Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES).

Apesar do desgaste, ainda não há movimentos para substituir Brizola Neto. Aliados da presidente lembram que a pasta está na cota do PDT e que, para ser efetuada uma troca, o partido precisaria apresentar opções de nomes para efetivar a substituição, o que não aconteceu até o momento.

O caso que parece mais simples é o do PSD. Dilma já pediu ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para acelerar a tramitação do projeto que cria a pasta da Micro e Pequena Empresa. Renan não se opôs por ter uma dívida com o partido de Gilberto Kassab, excluído da composição da Mesa Diretora da Casa. O favorito para a pasta é Guilherme Afif Domingos. Mas o governo ainda não sabe como resolver caso ele queira acumular o ministério com a função de vice-governador de São Paulo.

Garcia deve deixar a UTI O professor Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, deve deixar a UTI ainda hoje. Na última quarta-feira, ele se submeteu a uma cirurgia cardíaca para a colocação de quatro pontes (duas de safena e duas arteriais). Ele só deve receber alta, entretanto, na próxima quinta-feira. A presidente Dilma Rousseff tem acompanhado o estado de saúde do assessor. Telefonou para ele diversas vezes antes da cirurgia e falou com seu filho, Leon Garcia, depois do procedimento.