Correio braziliense, n. 20909, 22/08/2020. Cidades, p. 16

 

Codeplan avalia cenário de queda

Jéssica Eufrásio 

22/08/2020

 

 

Depois do anúncio de que a Secretaria de Saúde mudaria a forma de apresentar os dados sobre as mortes pela covid-19, a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) divulgou uma edição extra do boletim que analisa o cenário da pandemia. Os números mostraram queda nas últimas semanas, quando levados em conta os casos por data de início dos sintomas e os óbitos por dia de registro. Apesar disso, os índices permanecem em patamares elevados, e os levantamentos das próximas semanas podem afetar o balanço dos últimos dias.

O boletim reúne informações de 26 de janeiro até a última quinta-feira. Na comparação com a semana passada, por exemplo, é possível observar queda de 66% na quantidade de casos registrados nos últimos cinco dias — a redução de óbitos no mesmo período é de 53,8%. No entanto, a diferença pode não se manter, à medida que mais pacientes recebam diagnóstico positivo para a covid-19 nos próximos dias. “Pode ser que, no boletim, sejam incluídos casos por causa da subnotificação. Mas esse problema não é exclusividade do Distrito Federal, é do Brasil e do mundo”, afirmou o presidente da Codeplan, Jean Lima.

Por meio do comparativo, é possível perceber o tempo de intervalo desde o aparecimento da doença até a confirmação das mortes pelos órgãos oficiais. Considerada a data em que os óbitos ocorreram, o pico deles ficou entre o fim de julho e o início de agosto. Mesmo com esse indicador em queda, a contagem pela data de notificação vai na direção contrária. “Isso porque há uma série de procedimentos necessários para que haja a confirmação (pelos órgãos oficiais): informações dos hospitais privados, de cartórios. Pode ser que, em duas semanas, o gráfico de ontem (quinta-feira) esteja alterado”, observou Jean.

Sintomas

De domingo a quinta-feira, 96 pessoas morreram no Distrito Federal por causa da covid-19. Nesse mesmo intervalo, a Secretaria de Saúde contabilizou 262 vítimas. A diferença decorre das confirmações de mortes que ocorreram em semanas anteriores. “Em termos percentuais, vemos uma queda na comparação com as semanas anteriores. Mas, todos os dias, temos tido aumento, porque a taxa de transmissibilidade está acima de 1,1. Em números absolutos, só cairemos de forma contínua quando esse índice ficar abaixo de 1”, detalhou o presidente da Codeplan.

Na quarta-feira, a Secretaria de Saúde anunciou que os boletins da covid-19 no Distrito Federal passariam por mudanças a partir desta semana. A quantidade de mortes informadas nos balanços diários seria referente apenas às últimas 24 horas, enquanto os óbitos por data ficariam disponíveis no portal governamental de acompanhamento da pandemia. Até a noite ontem, porém, a quantidade de vítimas por data do óbito não estava no site.

Segundo Jean Lima, os novos indicadores vão permitir comparar o DF com outras unidades da Federação, além da variação semanal de casos e dos momentos de pico. O presidente da Codeplan afirmou que não houve mudança na metodologia de divulgação do número de óbitos, mas um detalhamento deles. “Existe um dado e uma informação a mais. Os dois são importantes. Não há omissão, os indicadores são complementares”, ressaltou.

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Capital passa dos 145 mil casos 

Walder Galvão 

22/08/2020

 

 

O Distrito Federal passou das 145 mil confirmações do novo coronavírus. Apenas ontem, 1.693 pessoas testaram positivo para a doença, e a Secretaria de Saúde contabilizou 42 mortes provocadas pela covid-19. Com os registros, a quantidade de infectados chegou a 145.452 e a de mortos, 2.242. Em meio à pandemia, o Executivo local negocia um termo de cooperação para a aquisição da vacina chinesa, que está em fase de testes no Brasil e no DF.

Do total de mortes, 2.049 são de moradores do Distrito Federal  — 193 vítimas viviam em outras unidades da Federação, mas morreram em hospitais locais. Dos 42 óbitos computados, quatro aconteceram ontem. Desses, todos tinham mais de 40 anos, dois moravam no Plano Piloto, um no Gama e outro em Ceilândia e dois não tinham comorbidades, outras doenças que agravam os sintomas da covid-19. A infecção pelo novo coronavírus continua a avançar em Ceilândia, a cidade mais populosa do DF. Ao todo, há 17.336 confirmações na região administrativa. Em seguida, aparecem Plano Piloto, com 11.839, e Taguatinga, com 11.213.

Em relação ao atendimento de pacientes, o sistema começa a ficar mais aliviado no DF. Levantamento da Secretaria de Saúde mostra que a taxa de ocupação da unidade de terapia intensiva (UTI), exclusiva para pacientes com a covid-19, na rede pública está em 68,6%. No total, são 491 vagas e 739 internações. Nos hospitais particulares, há 278 leitos e 250 pacientes, ou seja, 92,2% da capacidade está comprometida.

Imunização

A Secretaria de Saúde negocia um termo de cooperação com o Grupo Farmacêutico Nacional da China (Sinopharm) para a aquisição de vacina contra o novo coronavírus. A imunização está em teste na capital desde 5 de agosto. A Universidade de Brasília (UnB) conduz a análise por meio do hospital da instituição. O anúncio foi feito pelo secretário de Saúde, Francisco Araújo Filho, durante audiência pública remota da Comissão de Fiscalização, Governança, Transparência e Controle (CFGTC) da Câmara Legislativa. A reportagem entrou em contato com a pasta e pediu detalhes sobre o termo de cooperação, mas a Secretaria de Saúde informou que “ainda não é possível adiantar os detalhes”. O Correio apurou que as tratativas com o grupo chinês obedecem a um termo de confidencialidade.

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Com amor, para o meu avô 

Alim Cabral 

22/08/2020

 

 

O dia de ontem foi de despedida. O meu avô, José Edvaldo Cabral, 74 anos, lutou bravamente contra a covid-19. Mas as complicações da doença o levaram para começar uma nova vida, em um lugar onde, certamente, ele continuará a distribuir sorrisos.

Há 34 anos, em 1981, ele pôs os pés em Brasília na companhia da minha avó, Zeneide Cabral, 76, e dos três filhos: minha mãe, Daniele, e os meus tios Alessandra e Rodrigo. Seu Edvaldo era militar e professor de português. Aqui, construiu a carreira, criou a família e viu os quatro netos crescerem. Entre tantas lembranças, guardo a imagem de ele lendo, diariamente, o Correio Braziliense. Dizia, com frequência, que, quando, finalmente, fosse aposentado compulsoriamente, se tornaria revisor do jornal.

Para a nossa família, a imagem que fica é a dessa foto: um homem alegre, bem-humorado, piadista e sempre com uma palavra de incentivo. Eu e os meus irmãos — Lucas, Matheus e Camilla —  nunca vamos esquecer da infância cheia de alegria, com ele sempre nos fazendo rir. Quando chegávamos à casa dele, o meu avô escondia-se e tínhamos de achá-lo. Dar sustos era outra traquinagem que ele adorava.

Leveza

Ao despedir-se dele, ontem, a vó Zeneide declarou-se mais uma vez: “Você sempre foi e sempre será o amor da vida”. É de cortar o coração mas, ao mesmo tempo, um afago na alma. Das lições que deixa, uma delas é levar a vida com leveza e não se abater. Os desafios chegavam, e ele seguia com tranquilidade. É bem verdade que, nos últimos meses, com horror de pandemia, ele estava bravo por não poder ir à lotérica.

Apesar da tristeza e da saudade imensa, entendemos que a partida foi em paz, acompanhada dos amigos espirituais e com a certeza de que reencontrará os amados em breve. E eu, vô, serei sempre a sua menininha. Com amor, Ailim Cabral.