Título: Dólar cai abaixo de R$ 2
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Fonte: Correio Braziliense, 30/01/2013, Economia, p. 13

Após o Banco Central ter intensificado os sinais de que vai segurar o dólar para amenizar a disparada da inflação, a moeda norte-americana recuou 0,83%, ontem, e fechou abaixo de R$ 2,00 — o que não acontecia desde julho do ano passado. A divisa terminou o pregão em R$ 1,985 na venda, a cotação mais baixa em oito meses. Na segunda-feira, ela já havia despencado 1,51%, depois de a autoridade monetária ter despejado US$ 1,8 bilhão no mercado.

Para especialistas, a queda pode não parar por aí. “O dólar pode cair até R$ 1,95 ou R$ 1,90, com o BC planejando usar o câmbio para controlar as expectativas de inflação”, avaliou um relatório do Citibank. O recuo na cotação da moeda ajuda a conter a alta de preços ao tornar mais baratos os produtos importados e as matérias-primas usadas pela indústria nacional. Além disso, abre espaço para o reajuste de preços reprimidos, como o dos combustíveis, anunciado ontem pela Petrobras.

De acordo com cálculos da consultoria AC Pastore & Associados, cada 10% de queda no valor do dólar diminui entre 0,8 e 1 ponto percentual o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a medida oficial de inflação. O recuo na cotação evita ainda que o BC tenha que elevar os juros para controlar a alta de preços. Ontem, o mercado já reagiu a ao novo cenário e os juros futuros fecharam em queda. O contrato para janeiro de 2014, por exemplo, foi negociado a 7,19% ao ano, ante 7,24% no dia anterior.

Apesar de a maior parte do mercado ter visto a mudança de patamar do dólar como um reflexo da preocupação do BC com a inflação, uma fonte do Ministério da Fazenda afirmou à Reuters que o governo permitiu a queda da cotação para baratear o custo de bens de capital necessários aos projetos de investimento e estimular o ainda anêmico nível de atividade do país.

Até agora, o BC vinha procurando manter a cotação numa banda informal de R$ 2,00 a R$ 2,10. Em novembro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a afirmar que “dólar acima de R$ 2,00 veio para ficar”. A certeza caiu por terra depois que o IPCA-15 de janeiro alcançou 0,88%, ameaçando levar a inflação oficial a fechar o mês perto de 1%, colocando em risco não apenas a meta de 4,5% para 2013, mas também o limite de tolerância de 6,5%.

Patamar O secretário do Tesouro, Arno Augustin, deu a entender que a cotação do dólar não deverá ficar muito abaixo da atual, pois isso poderia ser prejudicial às exportações e à economia. “O patamar muito baixo do dólar já passou. Já foi R$ 1,50”, lembrou. Ele procurou minimizar a queda dos últimos dois dias, afirmando que variações diárias são normais. “Os dois principais preços (da economia), que são os juros e o câmbio, mais (o custo da) energia, já foram reajustados no ano passado”, disse.

Bovespa sobe 0,63%

A Bolsa de Valores de São Paulo voltou ao terreno positivo, ontem, após a forte queda de 1,87% na segunda-feira. O Ibovespa, principal índice acionário do mercado paulista, subiu 0,63%, alcançando 60.406 pontos, ao fim de uma sessão marcada por forte instabilidade. Segundo analistas, a melhora dos indicadores do mercado norte-americano ajudou a aumentar a confiança dos investidores na praça brasileira.