Correio braziliense, n. 20911, 24/08/2020. Cidades, p. 17

 

Os 15 anos do Samu no DF

Jaqueline Fonseca

24/08/2020

 

 

Esta segunda-feira é de comemoração para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que completa 15 anos e mostra-se cada vez mais essencial à população. Durante a pandemia, o trabalho de motoristas, enfermeiros, médicos, atendentes, socorristas, técnicos e psicólogos tem sido ainda mais solicitado. Além de resgates, buscas e atendimentos que já faziam, esses profissionais passaram a integrar a batalha no combate ao novo coronavírus.

Dados do Samu mostram um “boom” no número de atendimentos, como define o diretor-geral do órgão no Distrito Federal. O médico Alexandre Garcia relata que o transporte de pacientes entre unidades de saúde aumentou muito nos últimos meses. “No caso das pessoas que entram em um hospital e precisam ser intubadas, a necessidade delas é um leito de UTI (unidade de terapia intensiva). Quando são transferidas, quem faz esse transporte é o Samu”, explica.

Em 2020, até a primeira quinzena de agosto, foram realizados 3.407 atendimentos dessa natureza, enquanto que em todo ano de 2019 foram 4.687. Doutor Garcia, como é conhecido, frisa que, no contexto da pandemia, a dificuldade é manter os atendimentos aos pacientes e, simultaneamente, cuidar dos profissionais. Segundo ele, a aquisição de equipamentos de proteção individual (EPI), em especial no início da crise sanitária, mostrou-se muito complexa pela alta busca por esses materiais em todo mundo. “EPIs são produtos que hoje valem ouro”, diz.

Segundo Garcia, 311 servidores do complexo regulador do Samu foram afastados por causa da covid-19. “O grande desafio na pandemia foi manter o atendimento pré-hospitalar e, além disso, dar fluxo aos atendimentos de leitos de UTI por causa do coronavírus e também de outras patologias, como infarto, AVC (acidente vascular cerebral) e assim por diante”, informa. “Outro desafio é reduzir o tempo de resposta entre o chamado e o atendimento.”

Trabalho de risco

Enfermeira há 18 anos e membro da equipe do Samu há 10, Vanessa Rocha da Silva estava no helicóptero compartilhado entre o Corpo de Bombeiros e o Samu que caiu próximo a uma faculdade particular no começo do mês de agosto. Ela responde pela Gerência de Atendimento Pré-Hospitalar Móvel, integrando o quadro administrativo, sem deixar de lado a assistência aos pacientes. No dia do acidente, a enfermeira e a equipe estavam indo dar suporte a um atendimento de parada cardiorrespiratória que havia sido iniciado pelos socorristas de motocicleta.

O susto foi grande, mas ela conta que enfrentar o medo e dar respostas rápidas fazem parte do trabalho. “Também tive uma situação de colisão de viatura. Realmente, é um serviço que traz riscos para a gente, mas o trabalho é extremamente gratificante”, define. “Essas duas situações envolveram muita emoção, foram muito rápidas, fizeram a gente pensar rápido. Posteriormente, o que a gente faz é ficar cada vez mais grata tanto a Deus quanto ao serviço que a gente pode prestar à população”, reflete.

Falta de respeito

Os riscos da profissão são extremos e, embora a diretoria do Samu perceba que a população tem reconhecido o trabalho do Samu com mais clareza nos últimos meses, algumas perturbações desnecessárias continuam sendo recorrentes. “Ainda sofremos muito com trotes”, diz o diretor do Samu, Alexandre Garcia. Na primeira quinzena de agosto, o Samu recebeu 41.270 chamadas, das quais 1.035 eram ligações criminosas e indevidas. No acumulado do ano de 2020, os trotes passam de 14 mil.

O diretor pede mais consciência e lembra que passar trote é crime. “Não façam trote nem para a Segurança nem para a Saúde. Se você passa um trote e a gente manda uma viatura, outra pessoa que precisa está deixando de ser atendida. O trote é um crime e acaba complicando a vida do cidadão que realmente precisa de socorro”, destacou Garcia.

Como acionar?

O atendimento do Samu está disponível todos os dias e horários pelo telefone 192

Em 2020

(até a primeira quinzena de agosto)

190.338

Atendimentos regulados

3.407

Transporte de pacientes entre hospitais

55.833

Atendimentos atrelados a ocorrências

14.058

Trotes recebidos

Em 2019

281.863

Atendimentos regulados

4.687

Pacientes transportados entre hospitais

88.967

Atendimentos atrelados a ocorrências

51.744

Trotes recebidos