Título: Inflação exige resposta dura
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Fonte: Correio Braziliense, 30/01/2013, Opinião, p. 16

O dólar foi negociado ontem, no Brasil, a R$ 1,986, cotação mais baixa em quase um ano. A queda resultou de decisiva ação do Banco Central (BC), que voltou segunda-feira ao mercado para vender, em poucas horas, US$ 1,8 bilhão, por meio de leilões de contratos de swap cambial. Equivale a uma injeção de dinheiro americano na economia, provocando a imediata desvalorização da moeda com a qual se pagam as importações (com o efeito colateral de afetar negativamente as exportações na outra ponta).

A ação da autoridade monetária se deu no segundo dia útil depois da divulgação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em que a taxa básica de juros (Selic) foi mantida em 7,25% ao ano. Ou seja, em meio ao esforço do governo para estimular a retomada dos investimentos e garantir taxas de crescimento que deixem no passado o pibinho de 1% de 2012, o BC sinalizou que sua capacidade de ajudar com cortes na Selic estava esgotada. Mais: que seu primeiro mandato — o de guardião do valor da moeda — será tocado com absoluta prioridade, embora apertos na política monetária, via aumento da taxa de juros, sejam evitados ao máximo.

Dentro desse contexto, a intervenção no mercado cambial deve ser vista como inequívoca preocupação com a corrida dos preços ao consumidor registrada nas primeiras semanas do ano. É natural que o governo, em todas as suas frentes, mantenha discurso otimista quanto à desejável convergência da inflação para o centro da meta, de 4,5%, o que romperia a incômoda série de três anos seguidos em que esteve mais próxima do teto, afetando a credibilidade dos agentes econômicos no compromisso do Executivo de sustentar o valor de compra da moeda, ou seja, dos salários.

Quem foi às compras de material escolar percebeu que o aumento dos preços desse item ultrapassou o teto da meta de inflação, de 6,5% ao ano, e sabe que mais carestia está contratada nos combustíveis e no transporte, além dos aumentos já ocorridos no salário da empregada doméstica e nas taxas de administração de condomínios. É sabido que a inflação não é igual para todos. Depende do consumo de cada um. Mas, escaldado por tempos mais difíceis no passado recente, o consumidor brasileiro percebe quando sua inflação está incomodando mais do que o normal.

Foi essa percepção que não faltou ao BC, ao concluir que não dava mais para segurar a banda cambial entre R$ 2 e R$ 2,10. Era necessário baixar o preço dos produtos e insumos importados, para evitar que a inflação fuja do controle e contamine o resto da economia. Ninguém sabe, nem o Banco Central, por quanto tempo será necessária essa meia volta ao câmbio inferior a R$ 2. Mas, mesmo acertada, essa medida não pode vingar sozinha. Para evitar a volta dos juros em elevação, o governo terá de acelerar a ampliação das desonerações tributárias e, principalmente, pisar mais fundo no freio do gasto público. A receita é tão velha quanto politicamente difícil de ser executada. Mas o tempo não é de festa.