O Estado de São Paulo, n.46267, 20/06/2020. Política, p.A16

 

Lava Jato denuncia esquema de corrupção de R$ 500 mi no Rio

20/06/2020

 

 

Empresário Mário Peixoto e outras 16 pessoas foram acusadas de lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça
A força-tarefa da Lava Jato no Rio denunciou ontem o empresário Mário Peixoto e mais 16 pessoas pelos crimes de lavagem de dinheiro, pertinência à organização criminosa e obstrução à investigação, no âmbito da Operação Favorito. Segundo a Procuradoria, Mário Peixoto comandou, desde 2012, um “esquema complexo de uma rede de corrupção” que provocou “danos” na Saúde do Rio que superam meio bilhão de reais.

O Ministério Público Federal do Rio informou ainda que requereu o “reforço da prisão preventiva” de Mário Peixoto e de Alessandro Duarte, apontado como principal operador do empresário, porque há informações de que a dupla soube da Operação Favorito na véspera da deflagração e avisou aos demais investigados, conforme diálogos identificados em celular apreendido.

A Operação Favorito foi aberta no último dia 14 de maio para cumprir cinco mandados de prisão preventiva, 42 ordens de busca e apreensão em 38 endereços e 11 intimações para prestar depoimento. Na ocasião, o exdeputado estadual Paulo Melo e o empresário Mário Peixoto foram presos. Segundo a Procuradoria, só com relação a esse último, foram estimados danos materiais e morais em valores de até R$ 647.108.433,00.

A operação é desdobramento das operações Descontrole, Quinto do Ouro e Cadeia Velha, que investigaram crimes envolvendo conselheiros do Tribunal de Contas e deputados estaduais da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

A ofensiva estava autorizada desde fevereiro, mas havia sido adiada por causa da pandemia do novo coronavírus. No entanto, a interceptação telefônica mostrou que o grupo criminoso se valeu da situação de calamidade relacionada à pandemia para obter contratos de forma ilícita com o poder público. Além disso, conforme investigações, vinha destruindo provas sobre o esquema e realizando ações de contrainteligência.

Segundo o Ministério Público Federal, Mário Peixoto era o real controlador da Organização

Social IDR, que administrava dez Unidades de Pronto Atendimento (UPA) do Rio de Janeiro, e instituiu um esquema de desvio dos recursos públicos por meio da contratação de suas empresas de prestação de serviço – as quais receberam a maior parte do orçamento destinado à administração das UPAs estaduais e de diversas prefeituras da baixada fluminense.

UPA. Ainda de acordo com a Procuradoria, o empresário teria, entre 2012 e 2019, pagado sistematicamente propinas a conselheiros do Tribunal de Contas do Estado e aos deputados estaduais Paulo Melo e Jorge Picciani. Os pagamentos teriam como objetivo garantir a manutenção dos contratos de gestão de UPAs por meio da Organização Social IDR, a qual Peixoto controlava por intermédio do operador Luiz Roberto Martin Soares, diz o MPF.

Os investigadores viram, por exemplo, indícios de participação ou influência do empresário Mário Peixoto sobre a Organização Social IABAS, contratada pelo Estado do Rio de Janeiro para implantação de hospitais de campanha para tratamento de pacientes contaminados pelo novo coronavírus.

A reportagem entrou em contato com os denunciados, mas não houve resposta até a conclusão desta edição.