Valor econômico, v. 21, n. 5082, 09/09/2020. Brasil, p. A2

 

Brasil tem mais alunos por sala que média da OCDE

Hugo Passarelli

09/09/2020

 

 

Países com turmas menores podem ter mais facilidade de cumprir as novas restrições ao distanciamento social, alerta entidade

O Brasil tem mais alunos por sala no ensino fundamental 1 e 2 do que a média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostra o relatório Education at Glance, publicado ontem. O dado ganha importância em meio ao debate sobre reabertura das escolas e as medidas necessárias de distanciamento social entre professores e estudantes para evitar contaminações pelo novo coronavírus.

Segundo a OCDE, as salas de ensino fundamental 1 (1ª à 5ª série) no Brasil possuem tipicamente 24 alunos, mais do que a média de 21 nos membros da OCDE. Já no ciclo seguinte, o fundamental 2 (6ª à 9ª série), a média é de 28 alunos por sala no Brasil, contra 23 na OCDE.

“A reabertura de escolas no contexto da pandemia depende da capacidade de manter uma distância segura de 1 a 2 metros entre alunos e funcionários. Países com turmas menores podem ter mais facilidade de cumprir as novas restrições ao distanciamento social”, alerta o relatório.

De acordo com a OCDE, outra preocupação é a prioridade do setor educacional nos orçamentos públicos em meio à pandemia e o risco de que os gastos com educação fiquem comprometidos nos próximos anos.

Em 2017, o Brasil desembolsava com educação pública (ensino básico e universidade) 15% de todo o gasto público, mais do que a média da OCDE, de 11%.

“Embora haja incerteza sobre o provável impacto geral da pandemia de covid-19 sobre os gastos com educação, os governos enfrentarão decisões difíceis sobre a alocação de recursos, à medida que os recursos públicos são injetados na economia e no setor de saúde”, afirma o relatório.

Na avaliação da OCDE, a volta das aulas presenciais em escolas e universidades trará “indiscutíveis” benefícios aos alunos e à economia, mas a decisão deve levar em conta os riscos à saúde.

A entidade defende que a reabertura das escolas seja coordenada entre as autoridades de educação e saúde em diferentes níveis, com adaptação para a realidade de cada local. “Várias etapas podem ser tomadas para gerenciar os riscos e benefícios, incluindo medidas de distanciamento físico, estabelecimento de protocolos de higiene e investimento em treinamento de pessoal sobre medidas apropriadas para lidar com o vírus”, afirma.

O fechamento de escolas pode prevenir até 15% das infecções pelo novo coronavírus, segundo estimativa feita a partir de outras epidemias. Para a OCDE, o percentual não é desprezível, embora menor do que outras medidas, como distanciamento social no trabalho ou quarentena domiciliar. “Em alguns países, há altos níveis de interação entre as crianças mais novas e as gerações mais velhas que correm maior risco de contrair o vírus”, diz a OCDE.

A OCDE também lembra que as medidas de isolamento social exacerbaram as desigualdades entre os trabalhadores, fruto da diferença de anos de estudo. “Embora o teletrabalho seja frequentemente uma opção para os mais qualificados, raramente é possível para aqueles com níveis de educação mais baixos, muitos dos quais estiveram na linha de frente na resposta à pandemia, prestando serviços essenciais à sociedade”, afirma o relatório.