Título: Ministros cativos no gabinete de Dilma
Autor: Braga, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 10/02/2013, Política, p. 4
Com a gestão voltada para os problemas econômicos e de infraestrutura, Guido Mantega e Miriam Belchior são os chefes de pasta mais presentes na agenda oficial da presidente
Em dois anos de mandato, a presidente Dilma Rousseff tem dado preferência aos ministros da área econômica e de infraestrutura. Os titulares da Fazenda, Guido Mantega, e de Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, foram os mais recebidos pela presidente no Palácio do Planalto em audiências individuais. Em contrapartida, mesmo com os programas sociais sendo os carros-chefe de seu governo, os responsáveis pelas pastas estão entre os menos prestigiados em reuniões individuais. Levantamento feito pelo Correio mostra quem são os ocupantes do primeiro escalão da Esplanada mais e menos frequentes oficialmente no Planalto. É comum os ministros entrarem e saírem do palácio sem ter sua passagem registrada na agenda de Dilma.
Das 643 reuniões com ministros desde que assumiu, 75 delas foram marcadas com Guido Mantega. Logo atrás aparecem Miriam Belchior, Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Edison Lobão (Minas e Energia). Para o professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) José Mathias-Pereira, essa preferência se deve ao número excessivo de pastas na Esplanada, o que acaba por criar ministros de primeira, de segunda e de terceira linhas. "O que ela faz é priorizar ministros de primeira linha: os que têm os ministérios mais importantes, as questões mais complexas em mãos e que administram grandes problemas", explica. Ele lembra que, durante esses dois anos, Dilma enfrentou uma crise internacional e uma forte greve no serviço público e, portanto, é de se esperar que esses sejam os ministros mais recebidos.
A chefe da Casa Civil figura entre os mais recebidos porque é o braço direito da presidente. Gleisi, por exemplo, conduziu as discussões dos programas de infraestrutura lançados desde o meio do ano passado — aposta de Dilma para alavancar o crescimento do país. Por outro lado, ministros de áreas importantes figuram na lista dos menos recepcionados pela presidente. Estão entre eles Ana de Hollanda e Marta Suplicy, ex e atual titular da Cultura; e Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos.
Substituição Dois ministros figuram na lista dos que nunca foram recebidos pela presidente em audiências individuais presentes na agenda oficial. Um deles é o titular do Trabalho e Emprego, Brizola Neto (PDT). O então parlamentar assumiu o cargo em abril do ano passado, cinco meses após o antecessor, Carlos Lupi, ter deixado a pasta. A demora em substituí-lo se deveu, entre outros fatores, a um impasse entre Dilma e o PDT. Da lista tríplice apresentada pelo partido, o favorito da chefe do Executivo era Brizola Neto, o último na lista de preferências da sigla. O favoritismo, entretanto, não rendeu nenhum encontro com Dilma digno de registro em sua agenda.
A outra ministra desprestigiada é Eleonora Menicucci, da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, amiga de Dilma ainda do período da ditadura. A ministra assumiu o lugar de Iriny Lopes (PT-ES) — que havia deixado o posto para concorrer à prefeitura de Vitória.
O desprestígio mostrado no levantamento do Correio não significa, entretanto, que os ministros não tenham estado com Dilma nenhuma vez durante os dois anos de mandato dela. Foram levados em conta os nomes registrados na agenda da presidente. É comum que seja divulgado apenas o nome de um dos ministros presentes nos encontro, normalmente, o mais forte na área abordada durante as conversas no terceiro andar do Palácio do Planalto. Além disso, nem todos os encontros são registrados oficialmente.