Correio braziliense, n. 20913, 26/08/2020. Mundo, p. 12

 

Homem negro baleado pela polícia perde movimentos

26/08/2020

 

 

Jacob Blake Jr., o homem negro de 29 anos que foi baleado sete vezes nas costas por policiais de Kenosha (Wisconsin), perdeu os movimentos da cintura para baixo. “Será um milagre para Jacob Blake Jr. voltar a caminhar”, lamentou Ben Crump, ativista dos direitos civis e advogado da família. “Esperamos por um milagre. Mas o diagnóstico agora é que ele está paraplégico. As balas lesionaram sua medula espinhal e despedaçaram algumas de suas vértebras”, acrescentou. A tentativa de assassinato contra Blake ocorreu no domingo e foi filmada por uma testemunha-chave. Nas imagens, policiais abordam a vítima, que entra em uma SUV onde estavam seus três filhos, de 3, de 5 e de 8 anos.

Aos gritos, os agentes se aproximam e disparam de forma ininterrupta. Blake cai sobre o volante do carro, que dispara a buzina, enquanto uma mulher entra em desespero. “Essas três crianças pequenas terão graves problemas psicológicos pelo resto de suas vidas. Essa dor é real, América. Isso é o que suportamos diariamente”, advertiu Crump. “Eles atiraram contra meu filho por sete vezes. Sete vezes, como se ele não significasse nada. Mas, meu filho importa. Ele é um ser humano e significa algo”, desabafou o pai Jacob Blake, em pronunciamento à imprensa.

“O que justifica estes tiros? O que justifica fazê-lo na frente dos meus netos?”, revoltou-se o pai, mais cedo, em declarações para o jornal Chicago Sun Times. Herman Poster, primo da vítima, disse ao site The Daily Beast que Jacob Blake voltou a ser submetido a uma cirurgia na manhã de ontem. Os médicos “tentam fazer reagir alguns nervos”, afirmou.

O atentado contra Blake reativou a revolta nas ruas dos Estados Unidos, com milhares de pessoas em várias cidades exigindo justiça. Manifestantes antirracistas e contra a violência policial se reuniram na madrugada com o lema: “Sem justiça, sem paz”. Os dois policiais responsáveis pelos disparos foram suspensos. As autoridades abriram uma investigação para apurar a abordagem.

“Se eu matasse alguém, seria condenado e tratado como um assassino. Acho que o mesmo deveria ocorrer com a polícia”, afirmou à agência France-Presse Sherese Lott, 37 anos, que expressava sua revolta nas ruas de Kenosha, cidade de 170 mil habitantes às margens do Lago Michigan. Milhares de pessoas se reuniram pacificamente perante o tribunal. No entanto, uma hora depois de iniciado o toque de recolher, os ânimos contra a polícia se exaltaram.

Manifestantes atiraram garrafas e fogos de artifício contra os agentes e incendiaram um carro e um imóvel. A polícia respondeu com bombas de gás lacrimogêneo e projéteis.Em Minneapolis, onde a morte de George Floyd, em 25 de maio, desatou uma mobilização nacional contra o racismo, manifestantes queimaram uma bandeira dos Estados Unidos. Em Nova York, 200 pessoas foram às ruas protestar. E em Portland, onde desde a morte de Floyd as marchas são quase diárias, os manifestantes repetiram em coro o nome de Jacob Blake. O presidente Donald Trump não comentou o incidente. Já o candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, disse que o racismo é “uma crise de saúde pública” e exigiu uma investigação aprofundada sobre o caso.

Convenção

Enquanto os protestos antirracismo se recrudescem, o Partido Republicano, de Trump, realiza a sua Convenção Nacional, em Charlotte (Carolina do Norte). Ontem, o secretário de Estado, Mike Pompeo, e a primeira-dama, Melania Trump, foram os principais nomes da segunda noite de evento. No primeiro dia, os republicanos trataram de colocar a Biden a pecha de “socialista”. Donald Trump, mais uma vez, duvidou da lisura do voto a distância. “É impossível para os centros eleitorais apurarem, com precisão, 80 milhões de votos não solicitados. Os democratas sabem disso melhor do que ninguém. A fraude e o abuso serão uma vergonha para o nosso país. Esperamos que os tribunais detenham esse golpe!”, escreveu o presidente no Twitter.