Correio braziliense, n. 20914, 27/08/2020. Mundo, p.11

 

Silêncio em depoimento

27/08/2020

 

 

Svetlana Alexevich, prêmio Nobel de Literatura, nega-se a falar diante de investigadores sobre atuação de conselho criado pela oposição ao governo de Alexander Lukashenko. Após audiência, ela destaca que grupo almeja a consolidação da sociedade

A escritora bielorrusa Svetlana Alexevich silenciou-se, ontem, diante do comitê criado para investigar as reais intenções da oposição ao atual governo, que recentemente criou um conselho de coordenação para reivindicar uma transição no poder. “Recorri ao meu direito de não depor contra mim mesma”, disse a Nobel de Literatura, de 72 anos, ao deixar a Promotoria, em Minsk.

“Não me sinto culpada de nada”, destacou a escritora, citada nas ações judiciais contra o órgão da oposição, formado em um momento de protestos inéditos contra a reeleição controversa em 9 de agosto do presidente Alexander Lukashenko, que governa o país desde 1994. “O conselho de coordenação não tem outros objetivos a não ser consolidar a sociedade”, assinalou.

Ao chegar à Promotoria, ela reiterou que a ação dos adversários políticos de Lukashenko é absolutamente legítima. “Acredito que precisamos permanecer juntos, não ceder. Devemos conseguir uma vitória graças à força de nossa mente e nossas convicções”, estimou.

As investigações judiciais contra o conselho foram iniciadas na semana passada. O conselho da oposição é denunciado por “convocar ações contra a segurança nacional” e seus integrantes estão sujeitos a de penas de três a cinco anos de prisão. Há dois dias, Serguéi Dilevski e Olga Kovalkova, integrantes do conselho, foram condenados a 10 dias de prisão por suas relações com a manifestação realizada no domingo, e que reuniu 100 mil pessoas na capital bielorrussa.

Protestos tornaram-se praticamente diários na Bielorrússia desde 9 de agosto, quando foram realizadas as eleições presidenciais. A oposição denuncia fraudes nos resultados, segundo os quais Lukashenko recebeu oficialmente 80% dos votos.

Na Lituânia, onde refugiou-se após as eleições, a lider da oposição Svetlana Tikhanovskaya, que emergiu das urnas como a principal voz contra Lukashenko, destaca que uma “revolução pacífica” está acontecendo no país, apesar da repressão do governo. “Somos a maioria agora. Uma revolução pacífica está em curso. Não é uma revolução geopolítica (...) e, sim, uma revolução democrática”, afirmou, anteontem, durante videoconferência com membros do Parlamento Europeu.

A opositora, que apareceu no telão falando de uma cozinha, enfatizou que a manifestação do último domingo, em Minsk, foi a maior da história da Bielorrússia. “As tentativas de repressão violenta não enfraqueceram, apenas reforçaram a determinação da nação”, frisou.