Título: Sem desculpas para o adiamento
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 11/02/2013, Mundo, p. 12
O momento político e cultural nos Estados Unidos nunca foi tão propício para uma reforma imigratória, na avaliação de especialistas consultados pelo Correio. Além de haver interesse dos dois principais partidos, o tema, promessa de campanha do presidente Barack Obama, tornou-se uma de suas bandeiras. Para uma das principais especialistas no assunto no Brasil, Bernadete Beserra, antropóloga e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), mais do que estar em um “momento adequado”, a reforma é uma necessidade. “É um problema sério e precisa ser resolvido. Agora, parece não haver mais desculpas para o adiamento.”
As expectativas de que uma nova lei possa regularizar a situação de 11,5 milhões de estrangeiros nos EUA ganham força pelo fato de democratas e republicanos tentarem superar as divergências e trabalhar juntos em um projeto. O eleitorado hispânico mostrou sua força na última eleição presidencial e isso não passará despercebido. “Os latinos ajudaram o presidente a ganhar (ele deve isso a essa comunidade) e causaram a derrota dos republicanos, que precisam agora apelar a eles”, avalia o cientista político Shaun Bowler, especialista em comportamento eleitoral da Universidade da Califórnia/Riverside.
Além da questão político-eleitoral, segundo Bernadete, não se pode ignorar o crescimento da população hispânica nos EUA, que, em certa medida, deu vida a muitas cidades decadentes. Ela cita o livro Magical urbanism: Latinos reinvent the US big city, no qual o americano Mike Davis mostra a efervescência da cultura e da economia latina nas grandes cidades americanas.
Mas Bernadete reforça a necessidade de se colocar em prática o plano de reforço nas fronteiras, previsto no projeto de Obama e no do grupo bipartidário do Senado. “Se não controlam rigorosamente a entrada ou a permanência de imigrantes indocumentados, rapidamente eles serão novamente mais de 10 milhões, como hoje.”