Correio braziliense, n. 20916, 29/08/2020. Cidades, p. 19

 

Para evitar o estresse

Jonathan Luiz 

29/08/2020

 

 

Está difícil para todo mundo nesses quase seis meses de pandemia. Tristeza, desânimo, sentimento de vazio, mudança repentina de humor são comuns. Com o isolamento social imposto pela pandemia da covid-19, emoções podem aflorar ainda mais, e o desafio de combater os problemas é maior. Respeitando o espaço de cada um, atividades artísticas, físicas e até o uso de tecnologia pode ajudar, e muito, a desestressar a mente, inclusive da meninada.

A psicóloga especialista em atendimento de crianças e adolescentes Milene Bernardes alerta a importância dos pais ou responsáveis na percepção de mudanças de comportamento dos filhos. “É bom prestar atenção em como a criança é no convívio familiar. Qualquer mudança no comportamento é sinal básico para se aproximar e questionar se está tudo bem”, frisa. Alterações na alimentação, roer as unhas ou insônia podem ser sinais de problemas.

Quando se nota essas mudanças, a especialista recomenda que o primeiro passo é a boa conversa franca. “Se os pais percebem alguma coisa, a tentativa inicial é de que eles próprios façam uma checagem. Se perceber que o filho está mais calado, abatido e choroso, é preciso ter um momento sem pressão para poder conversar e oferecer ajuda. É importante que os responsáveis escutem, mas sem rebater, tentar ouvir sem precisar achar necessário dar uma resposta na hora. Muitas vezes, a pessoa só quer desabafar, em vez de algo lógico e conceitos”, salienta. Feito isso, se os problemas continuarem, então, é o momento de procurar um profissional de saúde mental.

Milene destaca a importância de atividades no auxílio dos tratamentos, e lembra que cada pessoa tem a própria forma de encarar um problema. “Os exercícios físicos para desestressar devem ser construídos com empatia. Por exemplo, se uma pessoa faz natação, não significa que outro paciente vai se adaptar. Na verdade, pode acabar se tornando um transtorno, que deixará todo mundo mais irritado. É preciso fazer uma leitura global, não adianta só oferecer mil atividades”, diz.

A escolha de uma atividade vai depender de cada pessoa. No caso da estudante Ketlyn Lorranni Marques, 18 anos, moradora de Taguatinga, a arte é usada como um suporte para o seu tratamento. “No início deste ano comecei a desenhar como hobby. Gostei muito e comecei a focar nisso para esquecer da nota do Enem que demoraria a sair. Mudei de psicóloga e psiquiatra. Hoje, tomo pouco remédio e faço terapia há três meses”, conta. A jovem ressalta a importância da arte para ela. “A pintura é um forma de direcionar minha ansiedade, energia em excesso e focar no trabalho, sem deixar que nenhum pensamento ansioso ou depressivo tome conta do meu corpo”, expressa.

Alternativa

Ketlyn conta que sempre sofreu com a ansiedade, mas, em 2018, o problema se agravou. A pressão com os estudos para os vestibulares contribuiu para aumentar o problema. Mas foi dessa situação que ela descobriu a paixão pela pintura. “Estudei Impressionismo na escola e me apaixonei pela técnica. Minha inspiração é Claude Monet”, revela.

Esse tipo de tratamento pode ser uma alternativa para quem não se sentir confortável em conversar, como explica a psicóloga clínica especializada em arteterapia Mariana Kirschner. “Nesse método, a arte é o elemento central para a transformação da saúde do paciente. Em vez de falar das coisas que está sentindo, a pessoa vai criar, explorar a criatividade”, explica. A terapia pode abordar pinturas, desenhos, músicas, escrita, danças e fotografias.

“Eu tenho pacientes que não gostam de desenhar, então, eles trabalham com fotografia, por exemplo, ou com a escrita. O importante é o potencial criativo, a pessoa se expressa, se conhece por meio da arte que está produzindo”, ressalta. Ela complementa: “Um dos pilares da arteterapia é o processo criativo, não o resultado”.

Apesar de psicólogos serem especialistas em tratamentos mentais, eles também precisam se cuidar. Guilherme Campello, 30, mora em Brasília e é psicólogo. Ele conta que enfrenta a depressão desde a infância. “Na minha juventude, tinha a leitura de que a minha personalidade era mais para baixo. Mas, comecei a me identificar com uma pessoa que já tinha passado por crises depressivas. A princípio, entendia todos os sintomas da doença como característica da minha personalidade, porém, ao longo da vida, tive diversas formas de perceber a doença, mas abri mão e fui contornando essas questões”, aponta.

Ele começou a fazer tratamentos na adolescência, e usa a música como uma terapia. “Quando era mais novo, curtia muita música, prestava atenção nas letras, ouvia as canções e me identificava com os artistas. Tinha um interesse maior no rock internacional, cujas as bandas cantavam músicas com temática existencial e também abordavam questões como saúde mental e depressão. Coisas mais marginalizadas, mas, na música, encontrava o espaço de diálogo. A música tem um papel fundamental na minha vida”, afirma.

Mudanças de humor

Da alegria contagiante para a tristeza profunda em poucos minutos. Situações acionadas por pequenos gatilhos que, para muitos, podem ser insignificantes como, por exemplo, um simples desentendimento. As emoções saem do controle e se transformam em berros, palavrões e até agressões.

Após a explosão, vem o sentimento de culpa e o medo do abandono, faz com que a pessoa possa buscar refúgio no álcool e em outras drogas. As emoções  afloram de tal forma, que chegam ao ponto de levar a pessoa a se automutilar. Esse é o problema de quem sofre de transtorno de personalidade borderline (TPB).

A atendente Jhéssica Kéthullen dos Santos, 26, moradora de Ceilândia, conta que descobriu que é borderline há quase dois anos. “Meu ex-marido falava que eu precisava ir ao psicólogo, pois, quando ficava com raiva, quebrava a casa toda, e depois me arrependia e me derramava em choro.” Para enfrentar o problema, Jhéssica investiu na atividade de maquiagem estética como escape e terapia. “Antes, fazia as maquiagens, tirava e pronto. Até que um dia resolvi gravar e postar no Instagram. Gostei, me senti melhor”, salienta.

*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira

Saiba mais

Como identificar sintomas de ansiedade, depressão e borderline?

Depressão

Humor depressivo: sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimento de culpa. Acreditam que perderam, de forma irreversível, a capacidade de sentir prazer ou alegria. Tudo parece vazio, o mundo é visto sem cores, sem matizes de alegria

Muitos se mostram mais apáticos do que tristes, relatando falta de sentimento”. Fazem avaliação negativa acerca de si mesmo, do mundo e do futuro

Retardo motor, falta de energia, preguiça ou cansaço excessivo, lentificação do pensamento, falta de concentração, queixas de falta de memória, de vontade e de iniciativa;

Insônia ou sonolência

Apetite: geralmente diminuído, podendo ocorrer, em algumas formas de depressão, aumento do apetite, com maior interesse por carboidratos e doces

Redução do interesse sexual

Dores e sintomas físicos como mal-estar, cansaço, queixas digestivas, dor no peito, taquicardia, sudorese.

Borderline

Esforços desesperados para evitar a sensação de abandono ou rejeição

Padrão de relacionamentos instáveis e intensos, caracterizados pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização que caem constantemente em sentimentos de frustração

Recorrência de comportamentos, gestos ou comportamento automutilante

Raiva intensa, inapropriada e incontrolável que dá origem a reações desproporcionais ao estímulo, geralmente seguidas de sentimento profundo de culpa.

Ansiedade

Sintomas psicológicos da ansiedade: constante tensão ou nervosismo; sensação de que algo ruim vai acontecer; problemas de concentração; medo constante; problemas para dormir; irritabilidade

Sintomas físicos da ansiedade; dor ou aperto no peito e aumento das batidas do coração; respiração ofegante ou falta de ar; tremores nas mãos ou outras partes do corpo; sensação de fraqueza ou fadiga; náusea; tensão muscular.

Onde obter ajuda

Grupo de ajuda mútua

Cras de Taguatinga: QNG 27 A/E 4

Terapia Comunitária

CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) III Riacho Fundo 1

Antigo Instituto de Saúde Mental segundas, às 10h

CAPS III Samambaia

Quadra 302, Conjunto 5, Lote 1

sextas, às 8h

CAPS AD II Sobradinho 2

Área Rural 17, Chácara 14, antigo Centro de Saúde 3

aberto ao público

CAPS II Taguatinga

QNF Área Especial 24

terças, às 9h

CAPS III Riacho Fundo 1

antigo Instituto de Saúde Mental segundas, às 10h

UBS 2 (Unidade Básica de Saúde)

Asa Norte

EQN 114/115

terças, às 8h30

UBS 2 Brazlândia

Quadra 45, Área Especial 1

sextas, às 7h30

UBS 8 Ceilândia

EQNP 13/17 Área Especial A/B/C/D

quintas, às 8h30

UBS 10 Ceilândia

QNN 12 Área Especial 1

quintas, às 8h

UBS 12 Ceilândia

QNQ 3/4; quintas, às 8h30

UBS 1 Cruzeiro

SHCES Quadra 601, Lote 1, Cruzeiro Novo; terças, às 17h; e quintas, às 15h

UBS 6 Gama

EQ 12/16, Setor Oeste

terças, às 15h

UBS 1 Guará

QE 6, Lote C, Guará 1

terças, às 10h

UBS 2 Guará

QE 23 Lote C, Guará 2

terças e quintas, às 8h

UBS 1 Núcleo Bandeirante

Terceira Avenida, AE 3

quintas, às 9h30

UBS 1 Paranoá

Quadra 21, Área Especial, Conjunto 15

terças, às 8h; e quintas, às 15h

UBS 3 Paranoá

Quadra 2 Conjunto A, Área Especial

quartas, às 14h30

UBS 4 Planaltina

Estância Nova Planaltina

Quadra 2 Rua A, Área Especial

quartas (quinzenal), às 15h; e sextas (uma vez por mês)

UBS 17 Planaltina

Condomínio Morumbi, Vale do Sol ; Quadra N, Lote 15 BR-020

quartas, às 14h

UBS 3 Recanto Das Emas

Quadra 104/105 Área Especial

quartas, às 14h

UBS 1 Riacho Fundo 1

QN 9, Área Especial 11

sextas, às 16h

UBS 2 Riacho Fundo 1

QN 1, Área Especial 1, Conjunto 32

segundas, às 9h

UBS 3 Samambaia

QN 429, Conjunto F Lote 1 Expansão

sextas, às 8h30

UBS 5 Samambaia

QN 523, Área Especial 1

segundas, às 14h

UBS 7 Samambaia

QD 302, Conjunto 5, Lote 1

sextas, às 14h

UBS 9 Samambaia

CAPS AD III, QS 107 Conjunto 8,

Lotes 3, 4 E 5

quintas, às 19h30

UBS 5 São Sebatião

DF-140, KM 7,5, ao lado da Emater

quintas, às 15h30

UBS 2 Sobradinho

Quadra 3, Área Especial, entre os conjuntos D/E

terças, às 9h; e sextas, às 14h

UBS 5 Sobradinho 2

QNS 16, Rua 14, Casa 1

quintas, às 10h

UBS 8 Taguatinga

QNL 24, Área Especial,

Taguatinga Norte, Nova QNL

segundas, às 9h

UBS 1 Vicente Pires

Rua 4C Chácara 12, Colônia Agrícola Samambaia

segundas, às 14h

UBS 3 Vila Planalto

Rua Piauí, Área Especial, quartas, às 14h

Horários sujeitos a alterações