Título: Governo interfere e dólar sobe
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 09/02/2013, Economia, p. 10

Ministro fala em cotação a R$ 1,85 e mercado reage, desvalorizando a moeda ante o real. Mas ação do BC evita grande depreciação

A sexta-feira foi, literalmente, de altos e baixos para a cotação do dólar. Depois de a moeda norte-americana bater no menor nível dos últimos nove meses — R$ 1,952 —, no início da abertura do mercado ontem, o Banco Central interveio. Fez um leilão de swap cambial reverso, que equivale à promessa de compra da divisa no mercado futuro. Com essa ação, ela voltou a subir. Ao fim do dia, a cotação se estabilizou, fechando em R$ 1,973 na venda, com leve alta de 0,05%.

Foi o primeiro leilão de compra de dólares no mercado futuro desde outubro do ano passado. Na prática, o BC antecipou o vencimento de quase US$ 2 bilhões em contratos de swap cambial tradicional, o equivalente a 37 mil acordos. O prazo original era 1º de março. Nesse tipo de operação, a autoridade monetária compra em dólares no mercado futuro. Com isso, a tendência é de a divisa se valorizar também no mercado à vista.

O dólar abriu em forte queda — mais de 1% — após entrevista do ministro da Fazenda, Guido Mantega, à Reuters, quando assegurou que o governo não deixará a moeda ficar abaixo de R$ 1,85. Além disso, ele disse que, se necessário, serão utilizados outros instrumentos, como o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), para reduzir o fluxo de moeda estrangeira e, com isso, ajudar a mantê-la num patamar considerado adequado.

“Ao citar a cotação de R$ 1,85, o ministro sinalizou que haveria espaço para a divisa cair até essa faixa. O mercado reagiu à declaração e testou um novo patamar para a moeda”, explicou um operador de câmbio. Segundo analistas, a instabilidade do dólar começou, no entanto, antes da declaração de Mantega. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, expressou, na quinta-feira, sua preocupação com relação à inflação, o que foi interpretado como um possível sinal de aumento dos juros.

Nova interpretação Para o economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos, o mercado estava tentando entender qual é o novo piso de negociação do dólar. Até então, imaginava-se como limite R$ 1,95. Mas, depois disso, abriu-se espaço para interpretações de que o governo toleraria uma taxa ainda mais depreciada. “A falta de volatilidade da moeda ou a perspectiva de ter um dólar estável em torno de R$ 2 já traria benefício para (combater) a inflação”, afirmou Santos.

Para Eduardo Velho, economista-chefe da Planner Corretora, o que está corroborando com a valorização do real frente ao dólar é a possibilidade que o mercado vê de alta da taxa Selic. “O contexto de elevação potencial dos juros internos favorece isso. O dólar deve permanecer, a curto prazo, abaixo do teto informal de R$ 2,00”, observou.