Correio braziliense, n. 20917, 30/08/2020. Saúde, p. 14

 

Droga veterinária freia a infecção

30/08/2020

 

 

Ainda na fase pré-clínica (estudos feitos com animais), um antiviral originalmente usado para tratar uma doença letal em gatos está prestes a ser testado em humanos e, de acordo com pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá, tem potencial de ser uma nova arma para combater a infecção por Sars-CoV-2. A descrição da droga e a associação com o novo coronavírus foram divulgadas na última quarta-feira, em um artigo publicado na revista Nature Communications.

O Sars-CoV-2 é da família dos coronavírus, micro-organismos que afetam humanos e animais. Em felinos, um patógeno do grupo, chamado FCoV, causa sintomas moderados, mas pode levar à peritonite infecciosa (FIP), uma complicação que geralmente reulta em morte. Porém, um medicamento desenvolvido por cientistas veterinários consegue curar essa doença. Trata-se de um inibidor da protease, substância que interfere na capacidade de replicação do vírus e que, portanto, acaba com a infecção.

Proteases são enzimas decompositoras de proteínas, fundamentais para muitas funções do organismo e, por isso, alvos frequentes de medicamentos que tratam de hipertensão a HIV. Em gatos, a substância inibidora de protease não apenas cura a FIP, como tem pouca toxicidade. Os resultados veterinários acabaram por acelerar os testes do antiviral em humanos, explica a bioquímica Joanne Lemieux, autora principal do artigo publicado pelo grupo Nature.

Sem toxicidade

Isso porque, para que uma substância seja pesquisada em pessoas, ela tem de ter passado pelos testes in vitro e, posteriormente, pelos pré-clínicos, ou seja, em animais. Como a droga felina já se mostrou eficaz e segura, a agora chamada Sars-CoV-2 Mpro está pronta para testes em humanos. “Ela foi usada para tratar gatos com coronavírus e é eficaz com pouca ou nenhuma toxicidade. Portanto, já passou por esses estágios, e isso nos permite seguir em frente”, conta Lemieux.

De acordo com a bioquímica, estudos da substância em laboratório com células infectadas com o Sars-CoV-2 confirmaram que a inibidora de proteases conseguiu frear a infecção. “Por causa dos dados sólidos que nós e outros cientistas reunimos, vamos começar, em breve, ensaios clínicos com essa droga como um antiviral para covid-19”, diz. (PO)