Título: Alertas da PM surpreendem
Autor: Calcagno, Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 09/02/2013, Cidades, p. 21

A Polícia Militar iniciou ontem campanha para reduzir os índices de um dos crimes que mais assusta o brasiliense. PMs distribuíram %u201Cautos de alerta%u201D no Parque da Cidade e surpreenderam pessoas em possíveis situação de vulnerabilidade»

A nova estratégia da Polícia Militar de combate ao sequestro relâmpago começou ontem com a distribuição de panfletos e alertas à população. Três carros do 1º Batalhão da PM (Asa Sul) circularam à tarde por estacionamentos do Parque da Cidade e surpreenderam casais dentro de carros e motoristas desatentos. Os alvos eram pessoas em possível situação de vulnerabilidade. A maioria reagiu com surpresa e, em alguns casos, a presença do PM só foi percebida na janela do veículo. Após a advertência, no entanto, boa parte elogiou a iniciativa.

O técnico em manutenção Daniel Santos, 18 anos, e a atendente de comércio Karina da Silva, 22, conversavam no carro, no Estacionamento 13, próximo à administração do parque, quando foram surpreendidos pelos policiais. Um dos PMs explicou que não havia nada de errado em permanecer no veículo, mas alertou que eles ficavam expostos a assaltos e a sequestros relâmpagos. Após o susto, Daniel disse ao Correio que mudaria o comportamento. "É um trabalho importante. Até porque a gente sempre acha que não vai acontecer com a gente. Com certeza, a partir de agora, tomarei mais cuidado", afirmou.

Quando percebeu que a PM havia estacionado perto do carro, o estudante Victor Hugo Cabral, 20 anos, ficou sem entender o que acontecia. Ele estava com um amigo no estacionamento do Pavilhão de Exposições do Parque. Os policiais entregaram o panfleto com a advertência e, após explicarem o motivo da abordagem, pediram para o jovem ler o verso do papel, com dicas para se prevenir contra sequestros. "Na hora em que chegaram, me assustei. Poderia ter sido um ladrão. A campanha é importante. Temos mesmo que nos prevenir. E a polícia está certa em chamar a nossa atenção para termos noção do risco que corremos", admitiu. No momento em que policiais o abordaram, o motoboy Romilson Alves de Almeida dormia em um banco de praça, com a motocicleta ao lado. Ele se assustou quando o PM o despertou. "Essa abordagem é positiva. Tudo o que vem no sentido de educar é bom", elogiou. Por outro lado, um idoso que preferiu não se identificar não gostou da forma com que foi surpreendido. Ele estava no carro e disse que esperava o horário de correr. "Acho que a polícia tem que agir. Só alertar a população não ajuda. Não gostei da abordagem, que foi muito agressiva. Acho que há outras formas de educar os brasilienses. Além disso, nesse horário, o parque está cheio", argumentou.

Responsabilidade

Durante entrevista coletiva no Comando da Polícia Militar, o comandante-geral da corporação, coronel Suamy Santana, ressaltou que a advertência visa criar uma mentalidade de alerta na população. Ele lembrou que Brasília é a quarta metrópole do país, além da importância de vizinhos e conhecidos criarem redes de segurança. "A polícia tem um papel educativo muito importante. Além disso, está na Constituição, a segurança é uma responsabilidade do Estado, mas também é dever de todos. As pessoas têm de se cuidar e de umas das outras. É uma coisa muito comum em países como os Estados Unidos. Não podemos ser ingênuos", defendeu.

Suamy enumerou três funções principais para os autos de alerta. Segundo ele, além de educar a população, cada advertência terá um número que servirá para levantar estatísticas de locais onde as pessoas se concentram. Com eles, a PM vai orientar o policiamento ostensivo para as regiões em que o número de notificações for maior. "Claro que só abordar a população não adiantaria, mas estamos nas ruas. Combatemos o tráfico e estamos montando blitzes em vários pontos do DF para a apreensão de armas de fogo. No ano passado, apreendemos cerca de 2 mil. E, normalmente, o sequestro relâmpago é um crime motivado pelo tráfico", explicou.