Correio braziliense, n. 20919, 01/09/2020. Mundo, p. 10

 

No centro da tormenta

Rodrigo Craveiro 

01/09/2020

 

 

Na carta enviada à Casa Branca, o governador do estado de Wisconsin, Tony Evers, pede ao presidente Donald Trump para que “reconsidere” a decisão de visitar Kenosha, hoje. No último dia 23, Jacob Blake, um homem negro de 29 anos, foi baleado sete vezes nas costas pelo policial branco Rusten Sheskey, diante dos três filhos pequenos. Evers lembrou que “não é hora de divisões”. “Não é hora de as autoridades ignorarem militantes armados e instigadores forasteiros que desejam contribuir com a nossa angústia”, escreveu, segundo o jornal Wisconsin State Journal. O governador democrata afirmou ao republicano que os moradores de Kenosha estão “exaustos e inconsoláveis” com os últimos incidentes e alertou que o papel das autoridade é “liderar pelo exemplo” e ser uma presença capaz de acalmar pessoas que tentam lidar com o trauma.

A poucas horas da polêmica viagem, Joe Biden, candidato do Partido Democrata à Presidência dos EUA, acusou Trump de semear o caos. “Este presidente há muito tempo perdeu qualquer liderança moral neste país. Ele não consegue deter a violência porque há anos a fomenta”, afirmou, em um pronunciamento na cidade de Pittsburgh (Pensilvânia). A 64 dias das eleições de 3 de novembro, Biden provocou os eleitores: “Vocês sentem realmente mais seguros sob (o governo de) Donald Trump?”. Mas, também, repudiou a violência em manifestações contra o racismo. Em Kenosha, dois homens foram mortos a tiros durante uma marcha, na noite da última quarta-feira. Três dias depois, outra pessoa perdeu a vida em um tiroteio, na cidade de Portland (Oregon). “Tumultos não são protestos. Saquear não é protestar. Atear fogo não é protestar. Nada disso é protestar. É ilegalidade, pura e simples. Aqueles que o fazem devem ser processados”, disse.

De acordo com Biden, “a simples verdade é que Donald Trump fracassou em proteger a América”. “Agora, ele tenta amedrontar a América. (…) Trump pode acreditar que pronunciar as palavras ‘lei e ordem’ torna-o mais forte, mas sua falha em apelar a seus próprios simpatizantes para que deixem de agir como uma milícia armada mostra o quão ele é fraco”, comentou. “Nosso atual presidente quer que vocês vivam com medo. Ele se autodenomina uma figura de ordem. Ele não é. E até agora não fez parte da solução. Ele é parte do problema.”

Trump respondeu com ironia. “Para mim, ele culpa a polícia muito mais do que os manifestantes, os anarquistas, os agitadores e os saqueadores, os quais ele nunca poderia culpar, ou perderia apoio da esquerda radical que (o senador) Bernie (Sanders) apoia”, escreveu, em seu perfil no Twitter. O magnata parece disposto a não modificar sua agenda para hoje.

Kayleigh McEnany, porta-voz da Casa Branca, disse que a visita de Trump terá o caráter “unificador”. “Ele (Trump) ama o povo de Wisconsin e espera falar diretamente com as pessoas, além de unificar o Estado”, explicou à emissora Fox News. Ela acrescentou que o presidente pretende encontrar-se com policiais e fazer um “tour” para vistoriar danos causados durante os protestos. Ao ser questionada sobre se Trump criticaria Kyle Riitenhouse, suposto simpatizante de 17 anos acusado de matar dois homens em Kenosha, Kayleigh limitou-se a dizer que “o presidente  não opinará sobre isso”.

Irmã

Perguntada pelo Correio se aceitaria uma reunião com Trump, hoje, a irmã de Jacob Blake desconversou. “Isso é algo que cabe aos advogados. Se a presença dele aqui nada tem a ver com a justiça para Blake, então, realmente (a visita) não é da minha conta”, desabafou Letetra Wideman (leia Três perguntas para). Ela admite que o racismo sistêmico está arraigado na sociedade dos Estados Unidos. “Para miná-lo, é preciso que haja reparação aos afro-americanos e também aos descendentes de escravos. Também sinto que há muitas lacunas em nossa Constituição, as quais permitem que homens e mulheres negros continuem a ser assassinados neste país.”

Perda de apoio entre militares

Apenas 34,7% dos militares norte-americanos ativos apoiam a reeleição do presidente Donald Trump, enquanto 43,1% preferem o democrata Joe Biden. As conclusões são da pesquisa feita pelo jornal Military Times no Instituto de Veteranos e Famílias Militares da Universidade de Syracuse. A sondagem mostrou que a metade dos (militares) ativos tem uma visão desfavorável de Trump e que 42% o desaprovam contra 38% que têm um olhar positivo do líder republicano. O apoio de Trump era de 42% na entrevista anterior realizada em dezembro. A nova pesquisa foi realizada com 1.018 pessoas antes das convenções dos partidos Republicano e Democrata.

TUITADAS

“Acabo de assistir ao que Biden tinha para dizer. Para mim, ele culpa a polícia muito mais do que os manifestantes, os anarquistas, os agitadores e os saqueadores, os quais ele nunca poderia culpar ou perderia apoio da esquerda radical que Bernie (Sanders) apoia!”

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos