Título: Os empresários da política
Autor: Correio, Karla; Amaral, Iracema
Fonte: Correio Braziliense, 12/02/2013, Política, p. 3

A lista de 30 partidos políticos que disputam espaço e poder nos governos federal, estaduais e municipais deve aumentar até outubro — prazo limite para as agremiações se registrarem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a disputa eleitoral de 2014. Nesse cipoal de legendas que se alastra país afora, surgiu a figura dos chamados “empresários da política”, como classifica o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais Carlos Ranulfo. “Eles criam os partidos apenas para negociar”, pontua. Para ele, o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão é um dos grandes trunfos da legislação para os donos dos chamados “partidos nanicos”. Nas coligações, os pequenos são cobiçados apenas com esse propósito — ceder às grandes siglas o que lhes foi dado de graça.

É nesse rastro de facilidades acobertadas pela legislação eleitoral que florescem inúmeros exemplos do não raro “balcão de negócios” que virou a política nacional. O advogado trabalhista Marcílio Duarte Lima, de 71 anos, é um dos que, desde a década de 1980, vêm se especializando em criar legendas. A primeira deles foi do Partido Trabalhista Renovador (PTR), já sepultado. De lá para cá “nasceram” outras três, também já extintas. Marcílio confessa que uma delas naufragou porque não compensava mantê-la, tendo em vista os recursos oriundos do fundo partidário — bancado com o dinheiro do contribuinte. O advogado justifica que eram “apenas R$ 23 mil anuais”, insuficientes para as despesas. “Não dava para sobreviver”, afirma, ao relatar os motivos que o levaram a abandonar o Partido Social Trabalhista (PST).

Apesar do revés contumaz, Marcílio diz que não desiste de ter a própria legenda. Neste ano, ele tenta pela quinta vez emplacar uma sigla própria — ele ajudou na fundação do PP e o PR, partidos ativos até hoje. Filiado aos progressistas e republicanos, Marcílio disputou várias vezes a vaga de vereador em Mairinque, no interior de São Paulo, a 70 quilômetros da capital. Conseguiu passar pelo crivo das urnas uma vez, em 2000.

Por que criar mais um partido? Marcílio responde que se trata apenas de uma precaução para “não ficar à mercê de outros políticos”. Diante da resposta, que o advogado trabalhista reconhece ser dúbia e incompleta, ele acrescenta que prefere ter “a própria casa” na hora de costurar alianças para as disputas eleitorais. “No ano passado, queria ser candidato a prefeito em Mairinque e acabei suplente de vereador”, queixa-se.