Título: Partido destinado a abrigar sonháticos
Autor: Correio, Karla; Amaral, Iracema
Fonte: Correio Braziliense, 12/02/2013, Política, p. 3

Grupo comandado pela ex-senadora Marina SiLva fundará sigla durante encontro marcado para o dia 16, na UnB

A proximidade das elei­ções de 2014 e o sucesso obtido pelo PSD aque­ceu o mercado dos par­tidos no país. Seguindo essa on­da, mais uma legenda se lança, no próximo sábado, dia 16, na Universidade de Brasília (UnB), em busca do cobiçado registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O nome mais provável é Semear, mas cogita-se também Rede, Brasil Vivo e Lista Inde­pendente. Mas o objetivo da si­gla está bastante definido: abri­gar a candidatura da ex-senado­ra Marina Silva à Presidência da República e tentar recuperar o capital político da votação obti­da por ela na corrida presiden­cial de 2010, quando obteve qua­se 20 milhões de votos e foi fator decisivo para o segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e o tu­cano José Serra.

Às vésperas de se lançar em mais uma empreitada políti­ca, Marina evita ao máximo ligar a criação do novo parti­do à corrida presidencial de 2014. Seu coordenador em Minas Gerais — o ex-deputa­do federal e ex-prefeito de Conceição do Mato Dentro —, José Fernando de Oliveira, diz que não se deve comparar as intenções da ex-senadora e de seus apoiadores com os pro­pósitos dos demais criadores de legendas: "Não é um parti­do apenas para disputar as eleições", garante.

José Fernando lembra que a futuro sigla é resultado de um movimento, batizado de "Nova Política", que defende a ética co­mo princípio primordial para o exercício do poder em qualquer umas das três esferas de governo — federal, estadual e municipal. "Não vamos aceitar filiados que estejam com qualquer tipo de processo judicial", avisa.

Os criadores do Partido Re­publicano da Ordem Social (PROS) decidiram por uma es­tratégia bem diferente. Mais uma legenda em fase de forma­ção, ainda sem registro no TSE,o partido não exige dos interes­sados em se filiar a apresenta­ção de certidão criminal ou um histórico da vida política. Apa­rentemente, ter ficha limpa é o que menos importa aos idealizadores. O chamariz do partido é outro. No panfleto distribuído durante o encontro da presiden­te Dilma Rousseff com prefeitos de todo o país, no mês passado, o slogan para atrair adeptos à futura sigla era "nem de esquer­da nem de direita. Apenas uma forma tranquila de mudar de le­genda, sem perder o mandato". O material de divulgação ainda estampava outra pérola do pragmatismo político. "Insatis­feito com seu partido? Quer sairdele sem perder o mandato? O PROS é a mais nova opção", pro­metia o panfleto.

Siglas em gestação

A criação de um novo partido depende de um processo com­plicado, que inclui a coleta de 500 mil assinaturas em todo o país e a criação de diretórios em todas as unidades da Federação. Ainda assim, a febre das novas le­gendas tem atraído cada vez mais projetos, como o Solidariedade, inspirado no sindicato polonês de mesmo nome que alçou Lech Walesa à presidência daquele país, e o Partido Pirata, que tenta criar um braço brasileiro da rede Internacional de Partidos Piratas, organização ligada a ativistas da tecnologia que levanta bandeiras como a inclusão digital e a disse­minação do uso de softwares li­vres. Na semana passada, foi a vez de os indígenas darem o pas­so inicial para a sua legenda, o Partido Democrático Indígena Brasileiro (PDIB).

"Precisamos ter mais poder de pressão nas decisões do go­verno que nos afetam. Um par­tido nos daria força para nego­ciar coligações e influenciar na tomada de decisões", diz o índio guarani Araju Sepeti, um dos articuladores do processo de cria­ção da nova sigla. Segundo ele, a legenda tentará aglutinar políticos de origem indígena em atividade, como o senador Wellington Dias (PT-PI), que é descendente de índios, e pre­tende lançar inclusive um can­didato à presidência da Repú­blica. "Vamos convidar o sena­dor Wellington para concorrer à presidência. Quem sabe ele não se anima?", diz Sepeti.