O Estado de São Paulo, n.46270, 23/06/2020. Política, p.A10

 

Advogado de Flávio já defendeu Cabral e réus por tortura

23/06/2020

 

 

INVESTIGAÇÃO NO RIO. Roca, que assumiu a defesa do senador no caso das ‘rachadinhas’, foi advogado de militares acusados de assassinato

PERFIL - Rodrigo Henrique Roca Pires, novo advogado de Flávio Bolsonaro

Advogado. Roca assume defesa após saída de Wassef

Novo advogado de Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, Rodrigo Henrique Roca Pires tem mais de 20 anos de carreira e já atuou para militares acusados de tortura e assassinatos na ditadura. Até 2018, ele defendeu o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB), condenado a mais de 280 anos de prisão na Operação Lava Jato.

Roca assume o posto no lugar de Frederick Wassef, que deixou a defesa do parlamentar no caso que apura suposto esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). A troca ocorre após a prisão do ex-assessor de Flávio, Fabrício Queiroz, na casa de Wassef em Atibaia (SP). Segundo a assessoria de Flávio, Roca passará a defender o filho do presidente com a advogada Luciana Pires, que já representava o parlamentar.

Nascido em Niterói há 49 anos, Roca foi advogado de Cabral até o momento em que o ex-governador decidiu fazer delação premiada, contrariando sua estratégia de defesa. O ex-governador está desde 2016 no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu.

Roca também atuou em casos de militares acusados por crimes durante a ditadura militar. Ele defendeu o general reformado José Antônio Nogueira Belham, os coronéis reformados Rubens Paim Sampaio e Raymundo Ronaldo Campos, e os ex-sargentos Jurandyr e Jacy Ochsendorf, todos denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) por participação no homicídio ex-deputado Rubens Paiva.

Roca também atuou como advogado dos acusados de planejar o frustrado atentado ao Riocentro, em maio de 1981, entre eles o coronel reformado Wilson Machado, sobrevivente da explosão acidental no carro que levava as bombas.

O advogado também defendeu o ex-soldado da PM do Rio Paulo Roberto Alvarenga, principal denunciado pela chacina de Vigário Geral, matança de 21 moradores ocorrida em agosto de 1993. A defesa conseguiu, no Supremo Tribunal Federal (STF), anular o julgamento e reduzir a pena inicial, de 449 anos de prisão.

Lula. Em entrevista ao jornalista Luiz Maklouf Carvalho publicada pelo Estadão em 2017, o advogado confirma que votou no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 1989. “Me arrependi muito”, disse à época, omitindo suas preferências nas eleições posteriores e se definindo como “um democrata de centro, contra qualquer ditadura e contra a tortura.” Formado pela Universidade Cândido Mendes em 1996, Roca é leitor de Aristóteles a Olavo de Carvalho, o guru do bolsonarismo. Na entrevista a Maklouf se disse afeito a línguas clássicas e afirmou estudar alemão, grego e latim – com um padre.

SOB SUSPEITA

● O que dizem Promotoria do Rio e juiz Flávio Itabaiana sobre o ex-assessor Fabrício Queiroz, preso em Atibaia (SP) na quinta-feira, e o entorno do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj

Contas de Flávio Bolsonaro

Investigação cita pelo menos 116 boletos de plano de saúde e mensalidades escolares das filhas de Flávio pagos por Queiroz, em dinheiro em espécie

Funcionária fantasma

Ao rastrear os passos de Luiza Souza Paes por meio de seu celular, MP diz que, em 792 dias, assessora de Flávio Bolsonaro apareceu apenas três vezes na Alerj para assinar ponto

Milícias

O juiz Flávio Itabaiana destaca o suposto envolvimento de Fabrício Queiroz com milicianos do Rio, incluindo o capitão Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro e apontado como líder do Escritório do Crime

Milícias 2

Em mensagens trocadas com a mulher, Márcia Aguiar, Queiroz se compromete a “interceder pessoalmente” junto a milicianos em favor de um homem que pede sua ajuda após receber ameaças de paramilitares no Itanhangá, na zona oeste carioca

Márcia Aguiar

Anotações em caderneta e recibos indicam, segundo o MP do Rio, que a mulher de Queiroz recebeu ao menos R$ 174 mil em espécie, de origem desconhecida, e quitou despesas do hospital Albert Einstein em dinheiro

‘Anjo’

Juiz cita evidências de “complexa rotina de ocultação do paradeiro” de Queiroz, sendo a mesma articulada por uma pessoa com notório poder de mando, sob o codinome ‘Anjo’”.

“Anjo”, ainda segundo Itabaiana, “manifestou a intenção de esconder toda a família de Queiroz” após julgamento no Supremo sobre o Coaf

'Organização criminosa'

Para o MP, mensagem de Queiroz a mulher de miliciano empregada no gabinete de Flávio indica “que a intenção da organização criminosa seria manter Danielle Mendonça como ‘funcionária fantasma’ no ano de 2019”