Título: Teremos papa antes do domingo de Páscoa
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 12/02/2013, Mundo, p. 12

Cardeais eleitores iniciam contatos informais para a sucessão. Italiano larga como favorito, mas latino-americanos e africanos estão no páreo

A sucessão de Bento XVI será um passo decisivo para a Igreja Católica. Setores mais tradicionais anseiam pela volta de um italiano como bispo de Roma e apontam como favorito o arcebispo de Milão, Angelo Scola. Os mais moderados acreditam que chegou o momento de um cardeal originário do Hemisfério Sul, onde vive a maioria dos católicos. Dois africanos e um argentino estão entre os mais cotados. Cinco brasileiros estarão entre os cardeais eleitores.

Serão convocados os cardeais com idade até 80 anos. A maioria deles é de origem europeia (61), com destaque para os italianos, que representam quase um quarto do total (21). Essa é a vantagem que Scola terá sobre os demais "papáveis". As investidas da ala mais moderada para abrir caminho a um latino-americano ou africano poderão ser frustradas por grupos que, após os pontificados do polonês Karol Wojtila (João Paulo II) e do alemão Joseph Ratzinger (Bento XVI), querem devolver à Itália a primazia na Igreja. Especialistas acreditam que a escolha de Scola sinalizaria uma tentativa de reacender o catolicismo na Europa.

Em contraponto, os 19 latino-americanos, 14 norte-americanos e 11 africanos do Colégio dos Cardeais representam uma numerosa população católica há décadas ansiosa por um líder mais moderado, que favoreça o diálogo e traga maior força política ao cargo. Mas o precedente da escolha de João Paulo II, em outubro de 1978, favorece uma nova surpresa, desta vez com a eleição inédita de um latino-americano.

Um dos brasileiros que participarão do conclave, dom Cláudio Hummes não esconde que a seleção de um conterrâneo agradaria. "Certamente, o continente de origem não é o critério principal. Não existe competição. A Alemanha ficou muito feliz, a Polônia ficou feliz e certamente o Brasil também ficaria, mas repito que esse não é o critério determinante", afirmou ao Correio. Dom Cláudio contou que a comunicação entre os cardeais eleitores começou a partir do anúncio de Bento XVI, na tentativa de abreviar a busca de um consenso. O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, disse que os católicos devem ter um novo papa até a Páscoa, em 31 de março. Não há, porém, um prazo determinado para a escolha.

O continente africano deposita suas esperanças em dois nomes que integram as listas dos mais cotados, tanto entre os vaticanistas como nas casas de apostas, inclusive na internet. O cardeal ganense Peter Turkson aparecia ontem em primeiro lugar entre os apostadores dos sites PaddyPower e Oddschecker. O professor de teologia Rafael da Silva, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), lembra, no entanto, que o próprio Turkson vê na possível escolha de um africano um possível retrocesso. "A Igreja Católica na África é ultraconservadora. Não está totalmente aberta às questões da modernidade e é muito fechada a aspectos de doutrina. A escolha de um novo representante parte das relações internas do Vaticano e, no caso, seria uma articulação da vertente neoconservadora."

Uma opção capaz de agradar as duas pontas desse cabo de guerra estaria no nome do argentino Leonardo Sandri. Ele conseguiria unir várias características oportunas para o processo de seleção: é latino-americano, porém filho de italianos, e tem grande popularidade entre os cardeais. Ainda com as diversas indicações, o cardeal eleitor brasileiro dom Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida, reforça que não é possível fazer especulações, diante das possibilidades abertas. "Ninguém entra como candidato a papa. É muita presunção e autoconfiança. (O conclave) não é uma convenção política, onde se confirma o nome de pessoas que muitas vezes já estão definidas. No conclave, não se fazem prévias: inicia-se um processo de reflexão no qual se partilham experiências e se analisa a situação do mundo. Não deve ser eleito aquele que se mostrar como candidato", aponta dom Damasceno.