Título: Sinal de humildade e grandeza
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 12/02/2013, Mundo, p. 12

No Brasil, líderes religiosos e teólogos receberam com apreensão o comunicado feito por Bento XVI

A notícia de que o papa Bento XVI renunciará ao cargo no fim do mês pegou de surpresa muitos líderes religiosos brasileiros, que consideraram nobre a decisão do pontífice. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) manifestou por meio de nota o sentimento unânime dos católicos. “Acolhemos com amor filial as razões apresentadas por Sua Santidade, sinal de sua humildade e grandeza, que caracterizaram os oito anos de seu pontificado. Teólogo brilhante, Bento XVI entrará para a história como o papa do amor e do Deus Pequeno, que fez do reino de Deus e da Igreja a razão de sua vida e de seu ministério.”

Além de destacar que Joseph Ratzinger ajudou a intensificar a busca pela unidade dos cristãos, a organização citou a visita do papa ao Brasil, em 2007, como sinal de apreço pelo país. “A sua primeira visita intercontinental, feita ao nosso país para inaugurar a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, e, também, a escolha do Rio de Janeiro para sediar a Jornada Mundial da Juventude, no próximo mês de julho, são uma prova do quanto trazia no coração o povo brasileiro”, ressalta trecho do comunicado. A nota foi lida pelo presidente da Conferência, dom Raymudo Damasceno.

Para dom Hummes, ex-arcebispo de São Paulo, a decisão de Bento XVI reflete sabedoria. “Ele não renunciou por causa de uma grande crise, mas porque se sente frágil e admitir isso é uma atitude admirável. Isso mostra a santidade de vida dele, uma postura muito racional, inteligente e sábia”, disse. O cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, que está em Roma, também manifestou surpresa diante do anúncio.

Razoabilidade Conhecido pela defesa de causas sociais e expoente da teologia da libertação no Brasil, Leonardo Boff escreveu, no twitter, que a renúncia de Bento XVI é um “ato de razoabilidade”. “Humildemente, deu-se conta dos limites da natureza que o impediam de exercer a sua função. Foi digno”, disse. Ao longo do dia, fez também críticas ao papa. “Inegavelmente, colocou acento no reforço da Igreja hierárquica”, comentou. Para ele, o pontífice adotou, em algumas ocasiões, “dois pesos e duas medidas”.

“Tratava com luvas de pelica os reacionários seguidores de (Marcel) Lefebvre, e nós, da libertação, a bastonadas”, afirmou Boff. Lefebvre foi um arcebispo católico francês, morto em 1991,conhecido pela resistência às reformas da Igreja Católica instauradas pelo Concílio Vaticano II. Por defesa de teses consideradas libertárias, Boff foi condenado, em 1984, a um ano de silêncio, pela Congregação para a Doutrina da Fé, comandada por Joseph Ratzinger. Boff desligou-se do sacerdócio em 1992.

O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) — que reúne as igrejas Católica Romana, Evangélica de Confissão Luterana, Episcopal Anglicana do Brasil, Presbiteriana Unida e Sirian Ortodoxa de Antioquia — manifestou, em nota, “respeitoso acatamento” à decisão de Bento XVI. “Temos acompanhado como o pontífice exerceu responsavelmente o seu ministério. Essa responsabilidade pode ser identificada, inclusive, na própria decisão de renúncia”, registrou o conselho, acrescentando que pede a Deus “que guie e abençoe a Igreja Católica Romana neste momento em que os cardeais devem eleger o novo papa”.

Comoção em Belo Horizonte Fiéis que compareceram ontem à Basílica de Nossa Senhora de Lourdes, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, se mostraram perplexos com o anúncio da renúncia do papa Bento XVI e prometeram rezar pela saúde do pontífice. Segundo o bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, dom João Justino de Medeiros, é possível que o chefe da Igreja Católica tenha escolhido, de forma simbólica, o 11 de fevereiro para fazer o anúncio em virtude de a data ser consagrada à Nossa Senhora de Lourdes e também ser dia mundial dos enfermos.