Título: Brasilienses surpresos
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 12/02/2013, Mundo, p. 12
A renúncia do papa Bento XVI também abalou o comando da Igreja Católica no DF, assim como os fiéis. Na manhã de ontem, durante a celebração de missa na Catedral Metropolitana, o anúncio foi o assunto mais comentado pelos brasilienses. Dom Sérgio da Rocha, arcebispo emérito da cidade, classificou como um gesto de força e de humildade a atitude do pontífice. “É um sinal do tamanho da sua fé, que só poderia ter sido dado por um homem de coragem”, comentou.
Em outubro de 2012, dom Sérgio passou um mês na companhia de Joseph Ratzinger, durante a realização do Sínodo dos Bispos, que é uma reunião universal, periódica e consultiva, em que bispos de todo o mundo da Igreja se encontram com o objetivo de refletir, discutir e aconselhar o líder. Durante a reunião, o arcebispo de Brasília disse que pôde perceber a debilidade física do papa, mas conta que tanto a fé quanto a consciência e a capacidade de discernimento dele pareciam se renovando a cada momento. “Apesar dos problemas de saúde, ele se encontrava intelectual e espiritualmente saudável”, lembra.
Entre orações, palestras e músicas, muitas pessoas receberam a notícia com preocupação e surpresa, durante a 27ª edição do Rebanhão, no Ginásio Nilson Nelson. Apesar das demonstrações de incômodo, os cristãos garantiram que a mudança não vai afetar a realização dos próximos eventos religiosos, nem sequer abalar os 40 dias de orações da Quaresma, que começa amanhã. Este ano, o tema do Rebanhão é Se creres, verás a glória de Deus. E foi pela justificativa da fé que os católicos se disseram confiantes, apesar da renúncia de Bento XVI.
Presença confirmada na Jornada Mundial da Juventude, em julho, no Rio de Janeiro, o estudante Kássio Rosa Rocha, 18 anos, acredita que a mudança não vai afetar a programação do evento. “Estamos no ano da fé e isso vem para nos fortalecer ainda mais. Agora, vamos rezar pela chegada de um novo papa, que vai estar com a gente”, disse. Para o jovem, não há uma característica específica para que um religioso assuma o posto. “Ele precisa apenas estar lá para anunciar o evangelho ao lado dos fiéis”, acrescentou Kássio, morador de Ceilândia.
De acordo com o senso do IBGE de 2010, o Distrito Federal tem 1.455.135 católicos, o que equivale a 56,61% da população à época da realização do estudo. Os fiéis se dividem em 128 paróquias e são atendidos por 216 padres diocesanos.
Incômodo Apesar de muitos garantirem que a saída de Bento XVI não irá alterar o funcionamento da Igreja, a notícia da renúncia gerou incômodo entre aqueles que tiraram o carnaval para se dedicar às orações. “Fiquei chocado e muito preocupado com o estado de saúde dele. Já sofremos com a morte do Papa João Paulo II. Vamos rezar por ele e esperar que entre um que acolha o povo brasileiro como os dois últimos fizeram”, disse o cozinheiro Antônio Evandro da Silva Lopes, 34 anos, morador de Águas Lindas (GO).
A assistente administrativa Jaqueline Dias de Oliveira, 25 anos, questionou a saída do pontífice. “O João Paulo II, mesmo doente, com mal de Alzheimer, continuou firme. Acho que isso pode influenciar muito na decisão dos fiéis em continuarem católicos”, diz a assistente administrativa Jaqueline Dias de Oliveira, 25 anos. Já a bancária Nayara Rezende, 26, acredita que a renúncia seja uma consequência da visão conservadora do líder da Igreja. Para ela, as ideias do papa iam de encontro aos valores de hoje. “A personalidade dele é muito forte e as opiniões, drásticas, que, muitas vezes, vão contra a renovação dos preceitos. Acho que um novo nome pode vir para o bem, acompanhando o desenvolvimento”, opina.