Título: Líderes apoiam decisão
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 12/02/2013, Mundo, p. 12

Chefes de governos e religiosos manifestaram surpresa e admiração pela coragem de Bento XVI

A renúncia do papa Bento XVI surpreendeu ontem o mundo e foi a notícia de mais destaque na mídia global e nas redes sociais da internet. A decisão recebeu manifestações de líderes políticos e religiosos. O comunicado do pontífice de 85 anos, feito durante encontro com cardeais pela manhã, provocou reações imediatas de líderes políticos e religiosos, que destacavam sua surpresa e a coragem da decisão.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que vai orar por Bento XVI e desejou “sorte” aos cardeais que escolherão o sucessor. “A Igreja tem um papel decisivo para os EUA e o mundo”, destacou. Angela Merkel, chanceler da Alemanha, país natal de Joseph Ratzinger, afirmou que “se o próprio papa, após uma reflexão completa, chegou à conclusão de que não tem forças para continuar com seus deveres, então essa decisão tem o meu máximo respeito”, afirmou com a voz emocionada. Mais cedo, seu porta-voz Steffen Seibert declarou-se “comovido e tocado” com o gesto.

Mario Monti, primeiro-ministro da Itália, afirmou estar “muito alterado em razão da notícia inesperada”. Na França, o presidente François Hollande classificou de “respeitável” a inusitada escolha do papa. “Não me cabe comentar sobre essa decisão que pertence à Igreja Católica. Não tenho que dizer se está correto. É uma decisão que reflete uma vontade que tem que ser respeitada”, disse.

O primeiro-ministro irlandês, Enda Kenny, declarou que a decisão do papa mostrava “profundo sentido do dever”. “Claramente se trata de uma decisão que o Santo Padre tomou depois de meditá-la cuidadosamente e com muita oração e reflexão”, afirmou o chefe de governo do país europeu também de maioria católica, como França e Itália.

Por meio de comunicado oficial, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou que o papa “trabalhou incansavelmente para reforçar as relações do Reino Unido com a Santa Sé” e que “se lembra com grande respeito e carinho” da visita de quatro dias de Bento XVI ao seu país, em setembro de 2010. A missão foi dedicada à aproximação das igrejas católica e anglicana, cinco séculos após a ruptura selada pelo rei inglês Henrique VIII.

Católicos Na América Latina, região do mundo onde se concentra a maioria dos católicos, os líderes da Igreja se manifestaram logo cedo. O presidente da Conferência Episcopal da Bolívia, monsenhor Oscar Aparicio, pediu para a opção do papa ser valorizada. “Ele quer renunciar porque se vê diminuído. Precisamos ter total respeito por alguém que ama tão profundamente a Igreja”, sublinhou.

O arcebispo metropolitano do Panamá, José Domingo Ulloa, disse que a notícia inesperada revelou “a grandeza do papa” e sua “grande humildade” ao admitir fragilidade. O arcebispo de Lima, Juan Luis Cipriani, preferiu apontar a resistência de Ratzinger aos escândalos que abateram o Vaticano no seu pontificado, como o Vatileaks, como foi chamado o caso de vazamento de documentos pelo seu mordomo. “Foi um golpe muito forte, sem contar ainda toda a situação de pedofilia”, acrescentou.

“Invocamos a ajuda do Espírito para que todos os cardeais tenham as luzes necessárias para encontrar a pessoa que guie a Igreja nos próximos anos”, disse o presidente da Conferência Episcopal do Chile, Ricardo Ezzati. Com tom político, o presidente da Conferência Episcopal da Venezuela, monsenhor Diego Padrón, salientou a renúncia como “bom exemplo para a Igreja e para o mundo” ao colocar o humano em primeiro lugar e não a “busca do poder pelo poder”, disse. O monsenhor Claudio Giménez, presidente Conferência Episcopal Paraguaia, afirmou que a Igreja necessita de vitalidade necessária “para poder evangelizar”.

Ecumenismo Representantes de outras religiões também manifestaram admiração. O arcebispo de Canterbury, Justin Welby, líder dos anglicanos, declarou estar com o “coração pesado”. “Durante visita ao Reino Unido, o papa mostrou ser um mensageiro de esperança, no momento em que a fé cristã é desafiada”, comentou. O arcebispo de York, John Sentamu, favorito a liderar a igreja anglicana na Inglaterra, afirmou em seu twitter que o mundo cristão perde um “grande teólogo”.

O rabino chefe de Israel, Yona Metzger, elogiou o diálogo inter-religioso promovido por Bento XVI e disse que as relações entre o Vaticano e o seu país nunca foram melhores. “Durante seu pontificado tivemos as melhores relações da história entre a Igreja e a chefia do rabinato. Esperamos que essa tendência continue”, afirmou o comunicado oficial.

“Do início ao fim, o papa tem mostrado liderança hábil. Ele percebeu que a negação pública do Holocausto pelos líderes da Igreja não deveria ficar sem resposta, e foi contra esse fato”, afirmou em nota o Congresso Judaico Mundial e Latino-Americano.