Título: Contrário à Teologia da Libertação
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 12/02/2013, Mundo, p. 12

Desde a realização do Concílio Vaticano II, no início de 1960, muitos cristãos ouvem falar da Teoria da Libertação — e poucos a entendem, na verdade. Joseph Ratzinger, que viria se tornar em 2005 o papa Bento XVI, tem tudo a ver com o fenômeno. Antes de assumir o papado, cuidava na Cúria Romana das questões de fé e doutrina, e já "caçava" pelo mundo integrantes da corrente, como os brasileiros Frei Betto e Leonardo Boff. Esses, e outros tantos na América Latina, tentavam usar a fé cristã como um fator de mobilização social. Na época, quase todos os países da região viviam sob ditadura.

O que mobilizava padres, leigos, freiras e bispos eram algumas questões ainda comuns ao Brasil pós-Lula, como falta de terra para assentamentos e reforma agrária, exploração de trabalho escravo, direitos trabalhistas etc. Com a efervescência política da época, muitos cristãos militavam em grupos ideológicos de esquerda, como Juventude Católica ou Ação Popular. A CNBB, organização dos bispos brasileiros, tinha comando "progressista", de combate à tortura, por exemplo.

Para especialistas no Vaticano, a Teologia da Libertação foi apenas um dos pontos que levaram ao endurecimento político-social da Igreja com João Paulo II, cujo principal auxiliar foi o então cardeal Ratzinger. Para participantes do movimento, como Frei Betto, Bento XVI trancou a porta da Igreja para o debate. "Não a fez se adequar ao mundo atual", disse ontem o religioso, referindo-se a temas como aborto, homossexualismo e celibato.

O franciscano Leonardo Boff, um dos que mais sofreram censura da Santa Sé, até se afastar formalmente da Igreja em 1992, definiu Bento XVI como uma figura "muito polêmica e complexa". Em entrevista ao canal Telesur, com sede em Caracas, Boff disse ontem esperar que o substituto crie uma "atmosfera mais aberta" aos temas modernos. "Esperamos que os cristãos possam dialogar com a cultura moderna sem tantas suspeitas e críticas quanto as do atual papa".